Ciência
05/08/2018 às 10:00•3 min de leitura
Apesar de muita resistência e do fato de a maior parte dos líderes mundiais ser composta por homens, as mulheres têm assumido cada vez mais posições de poder. A forma de encarar a questão se altera de acordo com questões culturais e o governo vigente; mesmo assim, várias marcaram seus nomes na história, como já mostramos aqui no Mega.
Mulheres assumindo o posto de faraó no antigo Egito não era algo comum, mas dentre as poucas está Hatshepsut, que realizou grandes obras em seu reinado. Houve a tentativa de retirar dela o crédito pelos feitos, mas eles foram tão grandiosos que isso não foi possível.
Filha do faraó Tutmés I e de sua esposa Ahmose, Hatshepsut cresceu junto de sua irmã Nefrubity. Ela idolatrava seu pai, mas dizia que tinha sido fruto de uma união divina, entre sua mãe e o Deus Amun. Essa afirmação fica bem clara com a existência de um relevo em sua grandiosa tumba, onde seu pai a coroa na presença de deuses egípcios.
Após a morte do faraó, o trono passou naturalmente para Tutmés II, meio-irmão e marido de Hatshepsut. Apesar de estranha, a prática era algo comum no Antigo Egito, dando a ela o título de rainha. Tanto seu pai quanto seu marido realizaram diversas incursões na Núbia, onde conquistaram áreas que foram anexadas ao império.
Não muito tempo após sua posse, Tutmés II morreu, abrindo caminho para Tutmés III, enteado e sobrinho de Hatshepsut. Ele ainda era uma criança e, por isso, não tinha condições de governar o Egito, tarefa que coube à sua tia/mãe, como regente. Por 3 anos esse título se manteve, até que ela mesma determinou que seria o novo faraó.
Ela foi uma das poucas mulheres que ocuparam o posto de faraó durante os três milênios em que isso foi possível. A definição dela como nova faraó implicava em todo um processo de reconhecimento pela população, com a alteração de nomes em lugares estratégicos e construção de estátuas.
As novas esculturas mantiveram o padrão utilizado até então, mostrando a nova faraó como um homem com barba, a não ser por alguns pequenos traços femininos, como uma cintura mais fina do que o convencional. Além disso, as palavras utilizadas em inscrições deixavam claro que o faraó era uma mulher.
Durante seu reinado, ela iniciou um número de projetos de construção que superou muito seus predecessores, principalmente na Núbia, que havia sido conquistada por seu pai e marido recentemente.
Também foram iniciadas diversas obras no próprio Egito, sendo a mais relevante o templo em Deir el-Bahari, que era conhecido como djeser-djeseru, ou “o mais sagrado dos locais sagrados”. Quando o local foi descoberto, no século XIX, os arqueólogos encontraram santuários dedicados a Hathor e Anúbis, além de uma esfinge de Hatshepsut, demonstrando seu triunfo sobre os inimigos. Também existia, no centro, um conjunto de relevos mostrando uma expedição ao reino de Punt.
Conhecida também como “Terra dos Deuses”, até hoje não se sabe exatamente onde o local ficava; as principais suspeitas apontam para o nordeste da África. Pelo que foi identificado em registros, a viagem liderada por Hatshepsut foi um sucesso e trouxe diversas maravilhas do local, dentre elas fragrâncias maravilhosas, resina de mirra retirada de árvores jovens, ébano e marfim, com ouro verde de Emu. O fato era algo a se comemorar, pois nenhum faraó conseguiu ser tão bem-sucedido nas relações com a localidade.
Após a morte de Hatshepsut, Tutmés III assumiu o poder, que inicialmente era seu por direito. Apesar de seu corpo ter passado pelo processo funerário usual e colocado no vale dos reis, sua memória não foi mantida da forma como ela provavelmente esperava.
Os monumentos construídos durante seu reinado foram atacados, suas estátuas, destruídas, e todos os locais que registraram seu nome foram apagados. Egiptólogos acreditam que essa atitude foi uma tentativa do novo faraó de obter algum crédito por todo o sucesso que ela alcançou. Joyce Tyldesley escreveu em um artigo para a BBC que, “ao remover todas as referências óbvias à sua corregente, Tutmés III poderia associar o reinado dela a seu próprio nome. Ele então se tornaria o maior faraó do Egito”.
A múmia de Hatshepsut foi identificada em 2007, cruzando informações com a arcada dentária presente em um vaso canópico identificado. No episódio de sua morte, ela tinha aproximadamente 50 anos, sofria de diabetes e estava com as unhas pintadas de vermelho e preto. Apesar da tentativa de apagá-la da história egípcia, seus feitos foram maiores do que isso; portanto, é considerada uma das líderes mais triunfantes do Antigo Egito.
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