Artes/cultura
15/11/2022 às 05:00•4 min de leitura
O mês de novembro é um dos preferidos de muita gente, por ter dois feriados logo em suas primeiras semanas. Enquanto o Dia de Finados é lembrado pelas visitas aos cemitérios e sua cultura, que inspirou filmes como “Viva: A vida é uma festa”, a origem do feriado de 15 de novembro não costuma vir à cabeça facilmente, apesar de marcar presença nos livros de História.
O feriado nacional celebra a Proclamação da República, que em 2019 está completando 130 anos. Na data, em 1889, o Marechal Deodoro da Fonseca declarou o Brasil um país livre da monarquia e consolidou o sistema político que segue presente hoje. Mas o caminho até a retirada de Dom Pedro II do poder foi cheio de tretas, como sempre acontece na política brasileira.
Considerando isso, reunimos aqui alguns dos principais pontos por trás do movimento que retirou Dom Pedro II do comando e transformou o Brasil no primeiro país lusófono (que fala português) a ser uma república independente.
Tiradentes queria uma república antes mesmo de isso virar moda
Após ser colonizado por Portugal, em 1500, o Brasil viveu embaixo da asa da Coroa portuguesa até o dia 7 de setembro de 1822, quando Dom Pedro I declarou a independência do país e deu origem à monarquia brasileira. Apesar de a república ter sido declarada só no fim do século XIX, desde muito antes do grito de “Independência ou Morte” que livrou o Brasil de Portugal já existiam apoiadores das ideias republicanas.
A Inconfidência Mineira, marcada pela liderança de Tiradentes, já pretendia levar o poder ao povo em 1789. Em 1817, a Revolução Pernambucana também visava separar a província e transformá-la em um Estado livre. Nesse caso, os revolucionários até conseguiram viver em um regime republicano por cerca de 70 dias, mas acabaram sendo derrotados pelo exército real.
Outros movimentos populares, como a Revolução Farroupilha, de 1839, também tentaram criar um governo próprio com bases republicanas, mas acabaram cedendo às pressões do Império e de suas forças armadas. Mas o que rolou de diferente em 1889? O apoio das elites e, principalmente, do próprio exército do imperador.
Enquanto os movimentos republicanos anteriores contavam com lideranças populares, aquele que deu origem ao feriado de 15 de novembro tinha como principal força motriz os militares. Acontece que a galera do exército não estava contente com o governo de Dom Pedro II desde a Guerra do Paraguai, que terminou em 1870 e deixou grandes dívidas para os cofres brasileiros.
Batalha do Boqueirão, em 1886
Conhecido por ser o maior conflito armado da América do Sul, a guerra teve 6 anos de duração e acabou com o Brasil e seus parceiros, Argentina e Uruguai, saindo vencedores. Apesar disso, os militares não sentiram um reconhecimento vindo da Coroa após a atuação vitoriosa no combate. Na verdade, o imperador até foi acusado de “censurar” suas forças armadas. Na época, os militares só podiam dar declarações para a imprensa após uma autorização concedida pelo Ministro da Guerra.
Para piorar a situação, a guerra também gerou descontentamentos com os setores sociais mais progressistas. Na época, o Brasil ainda vivia em um regime de escravidão, e os negros que participaram do conflito armado continuaram sendo forçados a trabalhar mesmo após o conflito. Ou seja, após passarem pela disputa mais sangrenta da América do Sul, os escravos voltavam para o Brasil para continuar sendo... escravos.
A situação dos escravos brasileiros só mudou de forma oficial em 1888, com a Princesa Isabel, filha de Dom Pedro II, assinando a Lei Áurea. A iniciativa da Coroa marcou um grande progresso social, mas acabou desagradando os fazendeiros da época.
Com a abolição, os proprietários de escravos perderam a força de trabalho que mantinha seus negócios vivos, e a Coroa não ofereceu indenizações. Com isso, o descontentamento da elite se uniu às ideias do republicanismo, o que deu força ao movimento para a queda do Império.
O descontentamento da galera progressista também era grande em 1888; afinal, o Brasil foi último país independente da América a libertar os escravos. Além disso, as dívidas geradas pela Guerra do Paraguai ainda acarretavam atrasos econômicos.
É importante destacar, também, que nessa época Dom Pedro II já tinha arrumado confusão até mesmo com o clero. Em 1872, as tensões entre a Igreja Católica e a Maçonaria começaram a aumentar, e dois padres chegaram a ser presos. Ou seja, até mesmo a Igreja, que mantinha relações próximas com a Coroa desde a época de Portugal, já não estava tão contente assim com o governo do então imperador.
Com praticamente todo mundo descontente com o governo de Dom Pedro II, a única coisa que faltava para o início da república brasileira era alguém tomar a frente. O grupo de lideranças militares encabeçado por Deodoro da Fonseca planejava pedir mudanças em 20 de novembro; contudo, após alguns boatos de que imperador poderia decretar a prisão do marechal, o processo foi adiantado, e tudo foi feito com sangue nos olhos.
Com isso, em 15 de novembro, Deodoro da Fonseca e sua trupe seguiram até a Praça da Aclamação, na capital da época, Rio de Janeiro, e anunciaram o início da fase republicana do Brasil. Algumas fontes históricas indicam que o processo foi tão improvisado que o marechal chegou a gritar “Viva Sua Majestade, o Imperador!” após o ato.
Como a mudança contava com o apoio da elite e de setores progressistas e foi encabeçada pelo próprio exército, a alternância de governo não foi marcada por violência. Um novo governo provisório foi instaurado no mesmo dia, com Marechal Deodoro da Fonseca se tornando presidente e Floriano Peixoto assumindo o papel de vice. Sem resistir à Proclamação da República, a família real deixou o Brasil em 18 de novembro de 1889, após 67 anos da monarquia imperial iniciada com Dom Pedro I.
Embora a Proclamação da República não tenha gerado melhorias imediatas para a economia e a sociedade brasileira e o governo militar tenha suscitado confrontos, como a Guerra de Canudos, logo em sua primeira década, o golpe de 1889 que tirou Dom Pedro II do poder começou uma nova era de liberdade para o Brasil, trazendo as ideias que atualmente permitem que o povo brasileiro vote e escolha seus líderes políticos.