Artes/cultura
14/05/2021 às 09:43•3 min de leitura
É possível que todos os manguezais não protegidos desapareçam nos próximos 100 anos, estimou um relatório feito pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) em 2017. Presentes em quase toda região litorânea brasileira, os manguezais abrangem cerca de 13.762 km² de extensão e são essenciais para a natureza.
Como os ecossistemas marinhos e costeiros aprisionam grandes quantidades de carbono, suas extinções poderiam representar um aumento significativo na liberação de gás carbônico (CO2) na atmosfera. Portanto, é necessário entender qual a importância da conservação desses ambientes para a vida humana, sobretudo para as populações litorâneas.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Tendo em mente sua enorme importância e o gradual quadro de destruição nas últimas décadas, é comum que o entendimento dos brasileiros sobre defesa da natureza esteja voltado para a Amazônia. Afinal, esse também é um enorme símbolo do Brasil, abriga a maior floresta tropical do planeta e serve como um gigantesco reservatório de biodiversidade.
Entretanto, esse não é o único tipo de ecossistema ameaçado em território nacional. Apesar de ocupar uma menor área na região, os ecossistemas costeiros e manguezais estão presentes em espaços intensamente povoados. Tendo em mente que um terço da população brasileira vive nas zonas costeiras, cria-se uma grande pressão sobre as florestas de manguezais.
Ao longo dos anos, esses espaços têm sofrido modificações através da ação humana. Por exemplo, a crescente urbanização das cidades litorâneas por meio da criação de portos e outros empreendimentos como hotéis e marinas que surtem impacto nesses ecossistemas e, por vezes, retiram espaço crucial para a sobrevivência da fauna e da flora.
Por conta disso, movimentos foram criados nas últimas décadas para conscientizar a população em geral e os gestores públicos sobre a importância de preservar os ecossistemas costeiros — os quais desempenham função fundamental para a manutenção de muitas pessoas que vivem no trecho litorâneo do Brasil.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Mesmo que não ocupem um espaço tão grande na natureza, os ecossistemas costeiros e manguezais estão entre os mais produtivos do mundo. Para se ter ideia, são eles que fornecem serviços importantíssimos como proteção costeira contra deslizamentos de terra, tempestades e tsunamis.
Além disso, eles sequestram grandes quantidades de carbono presente nas plantas e nos sedimentos de rocha — ação que ficou conhecida como carbono azul. "O termo carbono azul surgiu para demonstrar que os ecossistemas marinhos e costeiros aprisionam grande quantidade de carbono, ajudando a frear o aquecimento global", explicou o biólogo Angelo Bernardino ao Mega Curioso.
Atualmente, o pesquisador trabalha como um explorador da National Geographic e coordena uma série de projetos voltados para a compreensão dos impactos humanos sobre estuários, manguezais e recifes tropicais costeiros. Na visão de Angelo, a preservação das florestas de manguezais é fundamental para evitarmos com que grandes quantidades de carbono se acumulem na atmosfera e não agrave a emissão de gases de efeito estufa.
Neste caso, cada hectare de manguezal destruído pode representar a emissão de 500 a mais de 1.000 toneladas de CO² na atmosfera. A destruição dos mangues, por consequência imediata, também impacta a biodiversidade e diminuí os benefícios dessas florestas para os animais que ali vivem, como é o caso de peixes e caranguejos que são fonte de alimento comum nas regiões costeiras.
(Fonte: Angelo Bernardino/Reprodução)
Recentemente, algumas iniciativas têm surgido no Brasil e no mundo para a preservação dos manguezais. Esse é o caso da campanha "O que você faz importa", do National Geographic, lançada em outubro de 2020 em conjunto com um curta-metragem de 45 minutos que estimula o público a lutar contra as mudanças climáticas.
O projeto é uma iniciativa regional e multiplataforma que busca inspirar o público a adotar hábitos sustentáveis com base em cinco pilares: redução do consumo de energia; evitar plásticos descartáveis; adotar uma dieta balanceada; incorporar meios de transporte sustentáveis; e inspirar e expandir a mensagem, gerando consciência e participação.
"Acreditamos que associar a ciência com as comunidades locais será fundamental para a defesa desses ecossistemas no Brasil, evitando com que pressões econômicas incentivem sua destruição como ocorreu em muitos outros países", ressaltou Bernardino.
De acordo com o pesquisador, a parceria com a National Geographic Society é uma excelente forma de colocar a pesquisa científica na grande mídia. Ele explica que, como os cientistas possuem pouca prática com comunicação, esses projetos são importantes e frutíferos para que o material de trabalho seja traduzido para uma linguagem acessível e alcance milhares de pessoas.