Artes/cultura
19/03/2022 às 05:00•3 min de leitura
É dito que uma das melhores maneiras de analisar a evolução de uma civilização é através da medicina. A história médica humana, com as primeiras tradições começando na Babilônia, China, Egito e Índia, não só serviram como influência para a mudança da sociedade como inspiraram os tempos seguintes.
Foi por volta de 1220 d.C. na Itália que as universidades começaram o treinamento sistemático de médicos para formar especialistas a partir de estudos agrupados por antigos mestres, como Hipócrates e Rogerius, ainda que pouco tivesse sido descoberto sobre a função.
Os 4 métodos de curas listados abaixo vão desde um olhar altamente primitivo sobre a medicina até o momento em que ela foi contaminada por tantos aspectos sociais que se tornou um retrocesso, apesar de já fazer parte da era moderna.
(Fonte: ListVerse/Reprodução)
Durante o período do Egito Antigo, os povos usaram fezes de animais, como cachorros e burros, tanto para afastar espíritos malignos durante rituais, como para curar suas feridas. Acredita-se que esse tenha sido o motivo de muitos egípcios terem sofrido de tétano e outros tipos de infecções oriundas das fezes, ainda que possam ter se beneficiado de algumas propriedades antibióticas da microflora das fezes de alguns animais.
Enquanto isso, os gregos antigos usavam as fezes de crocodilo como método contraceptivo, com as mulheres inserindo grandes quantidades dos dejetos em suas vaginas após o ato sexual.
Foi por fazer o uso de fezes como método de cura que o filósofo grego Heráclito de Éfeso (535 a.C.-475 a.C.) acabou causando a própria morte. O homem sofria de um acúmulo de fluidos sob a pele e nas cavidades do corpo, cujos sintomas nem mesmo os curandeiros podiam aliviar ou curar. Portanto, ele decidiu aplicar suas habilidades de autodidatismo à medicina e tentar encontrar uma cura para si mesmo.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Dessa forma, Heráclito chegou a um método considerado inovador: se cobrir dos pés a cabeça com esterco de vaca. Ele chegou à conclusão de que o calor das fezes do animal secaria os fluidos e tiraria dele "o humor úmido nocivo" que provocava a doença.
O filósofo se cobriu de esterco e se deitou ao sol para secar, esperando que o remédio inovador fizesse efeito, mas acabou apenas engessado pela grande quantidade. Assim, ele foi incapaz de afastar uma matilha de cães selvagens, e acabou sendo devorado vivo.
(Fonte: DEA/G. Dagli Orti/Getty Image)
Durante o reinado do Império Romano, o sangue do gladiador não foi usado apenas como o cosmético mais refinado que existia na época — fruto do culto que a sociedade tinha pelos guerreiros de arenas —, mas também acreditava-se que ele carregava propriedades curativas.
Plínio, o Velho, em seu livro Historia Natural, descreveu que o sangue foi muito usado pelos médicos romanos para o tratamento de pessoas com epilepsia — apesar de sequer saberem do que se tratava a doença naquele tempo. Eles bebiam goles fartos do sangue extraído dos gladiadores logo que eles saíam de um combate, porque quente trazia, supostamente, ainda mais benefícios.
(Fonte: Workman Publishing/Quackery)
Se incentivos dos próprios médicos eram estampados em anúncios e nas caixas de cigarros dos Estados Unidos dos anos 1900, nos séculos passados o tabaco foi considerado uma "fonte saudável que poderia curar qualquer tipo de doença".
Introduzido na Europa pelos espanhóis, em meados de 1528, o produto sempre foi descrito como uma espécie de "erva sagrada" pelos nativos americanos devido as suas propriedades medicinais. Por isso não demorou muito para que os médicos europeus usassem a planta como "cura milagrosa" para dores de cabeça, cânceres e até resfriados.
Já no século XVIII, o tabaco era queimado pelos médicos e sua fumaça soprada até nas costas de vítimas de afogamento, porque acreditava que a nicotina fazia o coração bater mais rápido, estimulando a respiração.
Além disso, a planta também foi aplicada no tratamento de hérnias, cólicas abdominais, ataques cardíacos, febre tifoide e cólera. Nada disso era útil para os pacientes, mas os profissionais se viciavam em tabaco diariamente o inalando para cuidar dos outros.
(Fonte: Wikimedia Commons)
A medicina através do tempo, dominada pelas mãos de homens, excluiu de maneira sistemática o corpo da mulher em relação a tratamentos médicos. Enquanto homens com quadro de depressão tinham suas cabeças perfuradas por brocas durante processos de lobotomia, na segunda metade do século XIX, as mulheres que apresentavam esse tipo de doença, bem como fadiga, ansiedade ou qualquer outra condição, foram rotuladas como portadoras de "histeria feminina".
O tratamento médico prescrito para essa "doença" era uma massagem pélvica para provocar o que chamaram "paroxismo feminino", um termo complicado para "orgasmo". O médico inseria os dedos na vagina da paciente e massageava sua vulva e a região do clitórias até que ela tivesse um orgasmo, o que "curaria" o que a estivesse afligindo.
Esse método absurdo e estritamente machista permaneceu por muitos anos até que médicas começassem a estudar com mais afinco o corpo da mulher, disseminando estudos e informações para o mundo, em uma luta exaustiva para serem vistas e levadas em consideração.