Artes/cultura
14/05/2022 às 05:00•4 min de leitura
Localizada a 2,01 quilômetros ao largo da costa de São Francisco, Califórnia (EUA), cercada pelas fortes correntezas da Baía de São Francisco, o edifício onde já foi a Penitenciária Federal de Alcatraz, fortificado todo em aço e concreto, foi feito para que ninguém pudesse escapar.
Em um lugar inóspito e preso em uma bolha de umidade, a prisão recebeu os detentos mais perigosos e problemáticos dos EUA, como Al Capone, Machine Gun Kelly, Alvin Karpis, Tommy Silverstein e Whitey Bulger. Aqueles que terminavam lá eram mafiosos, assassinos em série, estupradores, ladrões, fugitivos ou psicopatas.
Desde 11 de agosto de 1934, quando foi convertida em prisão, até o encerramento de suas atividades em 1963, Alcatraz foi lar de 1.545 homens, sendo que não mais de 250 prisioneiros ocuparam a ilha de uma vez — que tinha capacidade para 336 prisioneiros. Em 29 anos de operação, apenas 8 pessoas foram assassinadas por detentos, 5 homens cometeram suicídio e 15 morreram de doenças naturais.
O tempo médio de estadia em Alcatraz era de 8 anos, sendo que apenas um homem saiu em liberdade condicional na história da instituição. Portanto, sabendo que ficariam a vida toda, 36 prisioneiros tentaram escapar em várias tentativas. Dois deles conseguiram sair da ilha, mas foram capturados; 7 foram baleados e mortos tentando escapar; 2 se afogaram e 5 permanecem desaparecidos.
Com todo esse histórico, é comum se perguntar: como era a vida em Alcatraz?
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(Fonte: Wikimedia Commons)
Apesar de sua reputação temível, Alcatraz tinha algumas vantagens que tornaram a estadia mais decente que outras prisões, por isso alguns detentos chegaram a solicitar transferências para o lugar. Mas, na verdade, o que acreditavam se tratar de benefícios não passavam de truques do sistema de segurança elaborados por James Johnston, o primeiro diretor da instituição, para evitar que houvessem fugas.
A começar pela comida, que incluía um banquete com carne de porco assada, tortas, bacon e outros acompanhamentos — com porções livres —, outra tática foi manter um homem em cada cela, reduzindo a possibilidade de brigas por roncos ou outros problemas, e impedindo que enredos conspiratórios fossem criados.
Os chuveiros eram considerados a melhor vantagem depois da comida, visto que Alcatraz permitiu que os homens tivessem acesso à água levemente quente, diferente de outras instituições. A ideia era que eles não resistissem ao frio da água da baía se tentassem escapar, levando mais tempo para que seus corpos se acostumassem com o frio enquanto nadavam.
Um silêncio mortal
(Fonte: Pinterest/Reprodução)
Em 1935, o jornal San Fracisco Chronicle lançou uma matéria com uma manchete declarando Alcatraz o lugar com "o pior silêncio da Terra". Por anos, os condenados foram proibidos de se comunicarem uns com os outros em qualquer momento do dia, fosse durante a fila para desocupar as celas, no refeitório ou nas atividades no pátio principal. O único momento da semana que podiam falar livremente era nos fins de semana durante exercícios físicos ou no trabalho na fábrica.
O desespero fez alguns presos drenarem a água dos sanitários e estabelecerem um tipo novo de comunicação através dos canos de esgoto, se arriscando serem pegos e submetidos a uma das punições severas.
A regra caiu no final da década de 1930, porém o discurso dos presos foi controlado de outras maneiras menos drásticas, como o impedimento de conversar sobre qualquer coisa que estivesse acontecendo do lado de fora de Alcatraz, inclusive sobre a vida pessoal das visitas.
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(Fonte: Reprodução)
Muito embora não houvesse execução de pena capital na ilha de Alcatraz, as regras eram estritas e aqueles que as desobedeciam sofriam com a agonia das punições. Os presos que cometiam infrações leves eram trancados em suas celas por semanas ou até meses e alimentados à força. No entanto, aqueles que cruzaram a linha do razoável eram enviados ao Bloco D da instituição.
Lá, segundo uma matéria da Crime Magazine, os homens poderiam ser forçados para a denominada Strip Cell, uma sala revestida em aço, sem luz, sem banheiro e com apenas um buraco no chão para as necessidades fisiológicas, onde os presos eram colocados nus e recebiam uma refeição muito limitada.
À noite, um colchão fino era jogado para eles e removido durante o dia. O ambiente e o tratamento eram tão ruins que a direção de Alcatraz só permitia que ficassem lá durante um ou dois dias, sendo que, legalmente, não poderia ultrapassar 19 dias.
(Fonte: National Park Service/Reprodução)
O ócio era o inimigo de Alcatraz, por isso o trabalho foi o responsável por ocupar a mente dos criminosos para que não tivessem tempo de planejar fugas, rebeliões ou ficarem agressivos com a rotina e isolamento.
Visto que muitos presos não tinham habilidades, a direção da penitenciária ofereceu ensinar e depois administrar tarefas para que os criminosos aprendessem algum tipo de função. Havia trabalho para ser feito na cozinha, na manutenção, nas docas, lavanderias ou no setor de serviços gerais. Tudo era feito por eles.
As fábricas de Alcatraz, comandadas pelos presos, produziam sapatos, luvas, tapetes de borracha vassouras, escovas, capas de chuva e móveis. Os homens até consertavam equipamentos usados durante a Segunda Guerra Mundial, além de construírem redes de carga para a Marinha dos EUA.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Durante os momentos de folga, os confinados de Alcatraz podiam pegar livros na biblioteca, sendo que cada um lia em média 7 livros e 3 revistas por mês. Havia também cultos religiosos quinzenais, jogos de xadrez, damas e dominós.
Em 1936, os presos mais atléticos participaram de uma séria liga de softball que mobilizou 60 homens. Aqueles que fossem mais intelectuais tinham à disposição 19 cursos por correspondência, incluindo Criação de Aves, Literatura Inglesa Elementar e Álgebra Inicial.
Na mesma época, os prisioneiros trabalharam para tornar Alcatraz um local mais receptivo, cultivando jardins, plantando sementes e bulbos, estimulando o interesse pela criatividade. Os jardins se tornaram tão bonitos e históricos que foram restaurados em 2003 e são preservados até hoje para que os turistas possam ter uma imagem de como era o local no século passado.