Ciência
15/07/2022 às 02:00•3 min de leitura
Durante o período vitoriano, o crime se tornou tão comum quanto a prostituição infantil, o consumo desenfreado de ópio e a embriaguez pesada. E isso acontecia desde os batedores de carteiras, geralmente crianças em situação de rua, até assassinatos calculados — muito embora o terror espalhado por serial killers, como Jack, O Estripador, tenham sido fenômenos não muito naturais.
Afinal de contas, o século XIX foi tão marcado pela miséria em larga escala impulsionada pela divisão de classes muito inigualitárias na Inglaterra, transformando as pessoas em criaturas desesperadas por dinheiro e comida, o que as levava para a fácil cena dos crimes oportunistas. A própria Londres facilitou a proliferação desses crimes devido à superlotação.
Na década de 1860, a taxa anual de homicídios ficava em uma média de 1,7 por 100 mil, mostrando que não era considerado algo tão grave, visto que a maioria acontecia em seio familiar ou entre conhecidos.
Apesar de todo esse caos e de situações consideradas "naturais" como parte das agruras da sociedade vitoriana, as leis daquele período para coibir as infrações não foram nada comuns, tampouco lisonjeiras. Pelo contrário, a Era Vitoriana ficou conhecida por inventar métodos cruéis de punição para tentar controlar o comportamento criminoso dos cidadãos.
(Fonte: Hulton Archive/Stringer/Getty Images)
Foi na Era Vitoriana que as prisões se tornaram o principal veículo de punição. Embora já existissem, porém, as maneiras de intimidar os criminosos fizeram delas lugares mais abomináveis, evocando uma ideia ainda mais punitivista do sistema carcerário como princípio de reforma de um indivíduo condenado.
As prisões floresceram no país quando outros territórios, como a Austrália, se cansaram das políticas de despejo de criminosos como punição em suas terras. Até a década de 1830, o "transporte" foi o maior método de justiça criminal da Era Vitoriana, quando os criminosos eram embarcados em navios chamados hulks para fazerem viagens de até 8 meses em condições miseráveis, quase sempre mortais, como punição pelo menor crime que fosse. Os condenados foram despachados para Tasmânia, Austrália e até mesmo para os Estados Unidos.
(Fonte: Universal History Archive/Getty Images)
Quando a Austrália se opôs ao método, foi que os vitorianos começaram a pensar mais nas prisões como forma de colocar medo nos criminosos. Tendo isso em mente, o governo não se cansou em fazer celas cada vez menores para agrupar muitos presos, localizadas em ambientes úmidos e desprovidos de qualquer tipo de higiene. Com a superlotação e os problemas do período com doenças, fora o fantasma ainda iminente da peste, ir parar em um lugar como esses era uma sentença de morte.
A direção das instituições também não fez distinção em quem ficaria preso. Eles misturaram, propositalmente, homens, mulheres, crianças, doentes mentais, criminosos de alta periculosidade e inocentes. Como resultado, aconteciam abusos em todas as escalas, intimidação, ostracismo, morte e brigas brutais quase diariamente. E para as autoridades, isso era bom, pois valorizava a imagem da prisão para a sociedade, portanto, pressupondo-se que as pessoas pensariam duas vezes antes de cometer crimes.
(Fonte: Print Collector/Hulton Archive/Getty Images)
Em meados de 1865, a Lei das Prisões, também chamada Sistema Silencioso, foi implementada pelo governo nas prisões para reformar a conduta dos criminosos ainda mais — como se as condições do espaço já não fossem o suficiente.
A saída foi colocar as pessoas para realizar tarefas incessantes, longas, árduas e sem sentido, como no caso da "A manivela", que o detento deveria girar por até 10 mil vezes por dia; ou da "Esteira", onde o indivíduo caminhava o dia inteiro em uma esteira circular que, às vezes, servia para mover moinhos ou engenhos, mas também somente para esgotar e punir. Esse tipo de trabalho seguiu à risca o lema "Trabalho duro, preço alto e lugar difícil", como estratégia para "quebrar" a vontade criminosa de um indivíduo.
Os devedores também foram considerados criminosos tanto quanto os demais, acabando em casas de labor para compensar suas dívidas. No entanto, diferente das prisões, lá as pessoas realmente produziam algo para devolver para a sociedade.
Esse sistema de punição permaneceu até a última parte do século XIX, quando passou a ser reformado.