Como ditadores tomam o poder em uma democracia?

21/10/2022 às 12:003 min de leitura

Há uma frase bastante conhecida, que costuma ser atribuída a Winston Churchill, que diz assim: a democracia é a pior forma de governo, à exceção de todas as demais formas que têm sido experimentadas ao longo da história.

O sentido desta sentença poderia ser explicado desta maneira: ainda que seja cheio de defeitos, o sistema democrático, regime político em que toda a população tem o mesmo direito de escolher seus governantes, é ainda a melhor opção que temos.

Por isto, muita gente costuma se perguntar: como pode um sistema democrático abrir brechas para se tornar uma ditadura? Como um país pode abrir mão da democracia para se tornar um regime centralizado no poder de uma única pessoa ou grupo? Neste texto, explicamos como surgem as ditaduras.

O surgimento das ditaduras

(Fonte: UCCR)(Fonte: UCCR)

É possível afirmar que, muitas vezes, as ditaduras surgem em países modernos em que as pessoas são muito esclarecidas. Um exemplo clássico é o que ocorreu com a Alemanha, uma nação próspera em vários sentidos. Mesmo com educação de qualidade, formação cultural, com a presença de grandes centros científicos, muitos alemães ainda abraçaram a proposta de Adolf Hitler.

O que aconteceu então? A resposta mais direta é dizer que uma crise econômica e política abriu espaço para que o fascismo se instalasse. "As circunstâncias alemãs mudaram para pior, e quando as pessoas ficam bravas ou desesperadas o suficiente, às vezes elas apoiam loucos que nunca atrairiam uma multidão em circunstâncias normais", explicou o historiador Jim Powell em um artigo na revista Forbes.

A isso, somou-se uma máquina de desinformação. Os alemães haviam entrado na Primeira Guerra Mundial, e o governo alemão levou a população acreditar que o país estava ganhando. Quando a verdade veio à tona, deu a chance para que Hitler, membro do Partido dos Trabalhadores Alemães – que em 1920 se tornaria o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães –, oferecesse aos cidadãos uma mistura de nacionalismo, socialismo, antissemitismo e anticapitalismo.

Este é só um exemplo sobre como se deu a instalação de uma ditadura, mas há vários outros. A verdade é que os ditadores podem chegar ao poder de diversas formas.

Como os ditadores chegam ao poder

(Fonte: Wikimedia Commons)(Fonte: Wikimedia Commons)

Há diferentes maneiras pelas quais as ditaduras se instalam. É possível enumerar algumas delas:

  • Polarização política: muitos ditadores chegam ao poder depois da instalação de uma sensação de polarização política, em que os lados políticos concorrentes não dialogam mais. Isto abre margem para que grupos violentos extremistas assumam a política.
  • Por pressão das elites: quando as elites de um país sentem que a democracia as desfavorece, elas podem tentar tomar o poder à força. Isso pode acontecer de modo sutil, com as elites se apoderando dos meios democráticos, ou então apoiando certo candidato conforme seus interesses, para então retirar os direitos da população.
  • Fim do debate: democracias se caracterizam pelo debate vivo e pacífico entre diferentes partidos políticos e grupos de interesse. Quando o debate de um grupo político com os outros deixa de ser um compromisso coletivo, abre-se margem para encarar a política como uma questão de dominação de um lado sobre o outro.
  • Crises econômicas: em certos casos, um grande colapso econômico ou uma derrota militar pode fazer com que os cidadãos busquem outras opções e estejam propensos a abraçar potenciais ditadores disfarçados de salvadores da pátria. Foi o que ocorreu na Alemanha, por exemplo.
  • Ascensão da aversão à política: as democracias também podem acabar quando os eleitores se tornam politicamente apáticos –  ou seja, resolvem se retirar do processo político. Isto acontece de várias formas: pela queda de participação no voto, pela sensação de que sua participação não faz diferença, ou pela propagação de um discurso que demoniza todos os políticos.

E como garantir que um país não caia numa ditadura?

(Fonte: Reuters)(Fonte: Reuters)

O que a história nos mostra é que, por mais evoluídos que sejam, os países sempre correm o risco de cair nas garras de ditadores. O que fazer, então, para garantir que isso não aconteça?

Segundo o historiador e cientista político Alec Medine, em artigo ao portal RDI, é preciso se segurar com todas as forças nos princípios democráticos. Ou seja, trabalhar para que a democracia siga respeitando o valor do diálogo, o que não significa que não haja desacordos entre os grupos. É preciso lutar para que a maioria não tiranize as minorias, e buscar compromissos sociais que satisfaçam todos os lados.

Outro ponto importante é que a população precisa resistir ao fascínio causado por potenciais ditadores, que geralmente se apresentam como sujeitos duros, vindos de fora da política, e que surgem para "salvar" a nação e "resgatar" o país. "Homens fortes muitas vezes voltam seu olhar irascível para muitos grupos diferentes, incluindo minorias, imigrantes, oposição política e líderes nacionais estabelecidos; homens fortes tendem a ver esses grupos como inimigos pessoais e nacionais", aponta Medine.

Por isso, a única solução é ficar atento a isso e mantendo a convicção sobre as palavras de Churchill: ainda que a democracia tenha problemas, é o melhor sistema que temos.

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