Artes/cultura
05/02/2023 às 10:00•3 min de leitura
Seja em desenhos, em decorações, fazendo o formato com as mãos ou em emojis, nós vemos o símbolo do coração em muitos lugares, todos os dias. E não é difícil constatar que ele parece muito diferente de um coração de verdade — aquele que bate dentro do nosso peito.
Ainda assim, quando vemos esse símbolo — dois arcos no topo e duas linhas perpendiculares, se encontrando na ponta inferior —, nós o associamos imediatamente ao coração.
Há muito tempo essa forma é utilizada para representar as emoções comumente associadas ao coração (o que, por si só, já poderia gerar outro debate, né?). Ele também é utilizado para representar a saúde e a vida, especialmente em videogames. Mas como esse símbolo, tão diferente do que ele representa, surgiu? Para tentar responder a essa pergunta precisamos voltar alguns milhares de anos na história.
(Fonte: Floraf/Unsplash)
Formas que lembram o nosso símbolo do coração podem ser encontradas em cerâmicas de 3 mil anos a.C. Porém, na época, elas não representavam o órgão vital — e sim folhas de figo ou hera. Pesquisando, vemos que essas folhas realmente se parecem mais com o símbolo do que o próprio coração.
Também encontramos desenhos semelhantes na Grécia Antiga, onde representavam vinhas para homenagear Dionísio, o deus do vinho. Já na cultura budista da antiguidade, tal símbolo era uma folha de figo, que representava a clareza de pensamento.
Mas isso quer dizer que o símbolo do coração é uma modernização dessas artes antigas? De forma alguma, eles só se parecem muito mas não é possível traçar uma linha de tempo.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Na verdade, é bem provável que o símbolo do coração tenha esse formato justamente porque as pessoas não sabiam como era um coração de verdade. Isso aconteceu na Idade Média, por influência da Igreja Católica — e é aí que entram os desenhos de folhas, também.
Embora a medicina tenha avançado na Antiguidade, a Igreja Católica proibiu autópsias e outros estudos assim na Idade Média. Dessa forma, as pessoas só sabiam como era um coração pelas descrições feitas há centenas de anos. E elas diziam que o coração tinha o formato de, veja só, uma folha invertida (ou, então, de um cone).
As primeiras representações metafóricas do coração, como símbolo de vida ou amor, datam do século XIII. Ali, ele já tinha um formato conífero.
Depois disso, representações do coração com formato mais pontudo começam a surgir — mas geralmente com a ponta para cima. Entre os séculos XIV e XV, o símbolo do coração também ganha a entrada na parte superior, ficando mais parecido com o atual. Com o passar do tempo, também podemos ver representações com a ponta virada para baixo.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Então, a verdade é que o símbolo teve uma evolução gradual até o que conhecemos hoje — e ela foi sendo criada sem que as pessoas soubessem como era um coração de verdade. Aí, elas desenhavam o que elas queriam, né?
É interessante observar que o símbolo do coração também é o naipe de copas do baralho. As cartas com esse desenho começaram a surgir já no século XV.
Depois disso, Santa Margarida Maria de Alacoque teve suas visões com o Sagrado Coração de Jesus que seguia mais ou menos esse formato, mas com a cruz e a coroa de espinhos. Então, uma infinidade de obras de arte sacras com base nas visões de Margarida começaram a surgir. O símbolo do coração seria fixado no inconsciente coletivo.
É por isso que, mesmo que a humanidade tenha descoberto como é um coração de verdade nos últimos séculos, o símbolo ainda é tão forte. Somos apresentados a todas essas obras e representações antes mesmo de aprender sobre o órgão, nas escolas.
Há outras teorias que afirmam que o símbolo do coração representa os seios ou o traseiro das mulheres, ou folhas de silphium, uma planta muito usada na Antiguidade, inclusive no controle de natalidade. Também há quem associe o símbolo com a forma dos pescoços de dois gansos "se beijando"— como o animal é monogâmico, seria uma representação perfeita do amor.
Ainda assim, a hipótese mais provável é que o símbolo do coração tenha surgido mesmo das tentativas de desenhar um, sem saber como ele era, ao longo da Idade Média.