Artes/cultura
12/02/2023 às 09:00•2 min de leitura
Ninguém sabe ao certo se Galanga, também conhecido como Chico Rei, foi apenas uma lenda da instituição da escravidão no Brasil ou se realmente existiu. O excesso de história ao redor de seu nome, porém, principalmente no que diz respeito a cidade de Ouro Preto, Minas Gerais – onde tudo aconteceu –, nos leva a crer que foi verdade.
Galanga era rei no Congo antes de ser capturado com sua família por portugueses para ser traficado e vendido como escravo para o Brasil. Ao longo do trajeto, ele perdeu mais do que a humanidade, riquezas, títulos e a liberdade, ele perdeu sua família também. Sua esposa, a rainha Djalô, e a filha, a princesa Itulo, foram lançadas ao mar e morreram afogadas.
Em meados de 1740, o então rei congolês e seu filho Muzinga chegaram ao Rio de Janeiro, onde ele foi rebatizado Francisco, ou Chico, e levado por um major para trabalhar na Mina da Encardideira, em Vila Rica (atual Ouro Preto).
(Fonte: Harmonia Sangreal/Reprodução)
De acordo com um documentário da Brasil Paralelo, entender a história de Chico é, primeiro, lançar um olhar para o período de exploração da mineração na cidade de Ouro Preto, onde foi aberta a mão por escravos africanos a primeira mina do Brasil.
Em meio aos escravizados estava Chico, comprado no Congo por sua experiência prévia com mineração, assim como os demais. O que torna ainda mais notória a história do então rei é que ele teria vivido intensamente cada dia, sem perder seus valores, apesar da situação na qual estava. Segundo relatos populares, ele ia trabalhar cantarolando e sempre com um sorriso no rosto.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Acredita-se que isso tenha conquistado o respeito dos demais escravizados e até mesmo do major, chefe da mina, com quem ele foi estreitando laços até que revelasse ser um rei no Congo antes de ser escravizado.
Impressionado, o major teria entrado em uma empreitada para garantir a alforria de Chico enquanto ele se tornava cada vez mais um líder querido entre os escravizados que trabalhavam na mina.
(Fonte: Teka Lindoso/Viagens e Rotas/Reprodução)
Um lado da história diz que o major conseguiu alforriar Chico, enquanto outro ressalta que o rei trabalhou duro para comprar sua liberdade e a de Muzinga. O major teria morrido aos 75 anos, sem deixar herdeiros, alforriando o rei e doando a atual Mina Chico Rei ao ex-escravo.
Livre, Chico continuou a trabalhar até que ficasse rico, se estabelecendo como uma espécie de divindade para os escravizados ao comprar a liberdade deles. Foi assim que ele adquiriu o nome "Chico Rei", tanto pela sua ascendência quanto pelo comportamento nobre.
Ao longo de sua vida, Chico Rei teria erguido a Igreja de Santa Efigênia, em 1785, em Vila Rica, com a ajuda dos ex-escravizados da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. A Mina Encardideira, onde Chico começou como escravo, foi outro local que ele comprou e deixou como legado histórico, rebatizando-a de Mina Chico Rei.
O nobre morreu de hepatite aos 72 anos e, até hoje, é celebrado em festas populares por Ouro Preto todo mês de janeiro; exaltado por meio da dança, do canto e de uma belíssima procissão.