Artes/cultura
08/04/2023 às 05:00•3 min de leitura
Ainda que fotografias históricas, granuladas e em preto e branco, tenham existido muito antes do Photoshop, o software de edição de imagens da Adobe, isso não significa que elas não possam ter sofrido manipulação.
Se a foto do Papa Francisco manipulada por inteligência artificial chamou sua atenção, tenha em mente que algumas das imagens mais marcantes que conhecemos sofreram edição, ou foram "photoshopadas", como se diz no jargão da internet. Por incrível que pareça, alguns destes casos ocorreram antes mesmo da gigante dos softwares criar seu programa de edição.
O que o avanço tecnológico fez foi facilitar o que antes era feito através da combinação e impressão de negativos. Ficou curioso? Então embarque conosco nessa jornada de revelação da realidade!
1. Retrato de Abraham Lincoln
À esquerda, a foto original, e à direita, a editada. (Fonte: Library of Congress/Reprodução)
Conhece o rapaz da foto à direita? É Abraham Lincoln, o 16º presidente dos Estados Unidos, que morreu assassinado. Esse retrato, que parece simbolizar a nobreza do político, é, no entanto, uma fotomontagem. A fotografia original retratava outro político, o sulista John Calhoun.
Na época, Lincoln não possuía nenhuma foto em estilo heroico, e como os jornais precisavam de uma imagem para retratar o político abolicionista, que viria a ser o próximo presidente, contrataram fotógrafos para trabalhar com materiais que tinham às mãos. Curiosamente, Calhoun era um ferrenho defensor da escravidão.
À esquerda, a foto original, e à direita, a editada. (Fonte: Library of Congress/Wikimedia Commons)
O general Ulysses S. Grant, além de militar, foi o décimo oitavo presidente dos Estados Unidos. O republicano tem a foto acima como uma de suas mais representativas imagens, que o ilustra à frente de suas tropas na Virgínia, durante a Guerra Civil Americana.
Contudo, essa foto não é real, mas uma montagem feita a partir de três diferentes fotografias. A cabeça é realmente de Grant, mas o cavalo e o corpo são do major-general Alexander M. McCook, e ao fundo prisioneiros confederados capturados.
À esquerda, a foto original, e à direita, a editada. (Fonte: TASS/Yevgeny Khaldei/Wikimedia Commons)
Poucas fotografias da Segunda Guerra Mundial são tão representativas quanto a que ilustra esse item da lista. "Erguendo a bandeira da vitória sobre o Reichstag" (sim, esse é o nome da foto) mostra a tomada de Berlim pelos soviéticos. Ela mostra um grupo de soldados subindo o Reichstag, sede do parlamento alemão, para estender uma bandeira da União Soviética.
A foto que você vê acima à esquerda é a original, mas a versão mais famosa foi adaptada pelo próprio fotógrafo, Yevgeny Khaldei, a pedido do governo comunista. A intenção era impedir que rumores de saques dos soldados soviéticos se espalhassem, então Khaldei removeu relógios dos pulsos deles, incluiu mais fumaça para dar efeito dramático, além de alterações menores.
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À esquerda, a foto original, e à direita, a editada. (Fonte: Leo Ya Leonidov/David King Collection/Tate Images)
Stalin fez muitas coisas, inclusive solicitar alterações em suas fotografias. Ele talvez seja o líder do século XX que mais tenha feito essas manipulações, como a emblemática retirada de Leon Trótski de fotos históricas. Tudo começou quando Stalin expulsou o antigo companheiro do partido e do país, no final dos anos 1920.
Então, para construir uma imagem de grande líder sem a presença de seus opositores, ordenou que Trótski fosse removido de qualquer fotografia que fosse ser exibida publicamente, inclusive em livros de história.
A foto acima faz parte dessa postura, e retrata os dois na Praça Vermelha durante a celebração do segundo ano da Revolução Russa, em 1919. Os livros de história soviéticos publicaram uma outra, com Trótski retirado.
À esquerda, a foto original, e à direita, a editada. (Fonte: Gordon Gahan/National Geographic Image Collection/Reprodução)
A foto acima, tirada pelo brilhante fotógrafo Gordon Gahan, deveria ter ilustrado uma das mais famosas capas da revista National Geographic. No entanto, ela foi alterada, o que gerou uma controvérsia enorme e um posterior pedido de desculpas da publicação. Gahan, por um descuido, perdeu o comboio que passava.
Precisando da foto, correu até eles e pagou par que voltassem com os camelos e passassem novamente. Isso foi feito e a foto tirada, porém a revista, editada na vertical, não conseguiria incluir a foto feita na horizontal.
Então, foram ao estúdio e aproximaram os camelos e as pirâmides, de modo a encaixar nas dimensões. Hoje, há um artigo publicado no site da revista firmando publicamente o compromisso de nunca mais alterar uma fotografia.