Ciência
26/08/2023 às 05:00•2 min de leitura
Existem diversos vestígios arqueológicos que provam que diferentes sociedades conseguiram chegar ao continente americano muito antes de Cristóvão Colombo, em 1492.
Uma das que melhor conseguiram se espalhar pelo Novo Mundo foram os chamados Clóvis, cujas ferramentas podem ser encontradas por boa parte da América do Norte até o norte da Venezuela.
Pontas de lanças Clóvis em exibição no Museu de História Natural de Cleveland. (Fonte: Wikimedia Commons)
Em 1929, perto da cidade de Clóvis, no Novo México, foi encontrado o primeiro sítio arqueológico com pontas de lanças de uma sociedade pré-colombiana ainda desconhecida. Elas estavam juntas de ossos de um de Bison antiquus — um ancestral dos bisões atuais —, espécie extinta há cerca de 10 mil anos. Isso fez com que uma busca por mais artefatos como esses se iniciasse.
A cultura Clóvis chegou no continente americano há cerca de 13.500 anos. Eles provavelmente atravessaram o Oceano Pacífico pela Beríngia, quando os continentes asiático e americano estavam conectados por onde é o Estreito de Bering atualmente — por algum tempo acreditou-se que eles foram os primeiros a fazer esta travessia, mas já existem registros de povos ainda mais antigos.
Mesmo não tendo sido os primeiros a chegarem aqui, a maneira com a qual eles se espalharam indica que foram os primeiros a serem bem-sucedidos. Além das ferramentas, é possível encontrar traços genéticos em nativos americanos, desde os Estados Unidos até a América Central, como os maias e os astecas.
Essa ligação só foi possível graças a um único esqueleto encontrado até hoje. Batizado de Anzick-1, ele foi descoberto no estado de Montana, nos EUA, e estava cercado por ferramentas Clóvis. Graças a esta descoberta, foi possível sequenciar o DNA para se conhecer um pouco de como essa cultura se espalhou e se relacionou com outros povos, uma vez que eles não deixaram nada escrito.
Preguiça-gigante, uma das caças dos Clóvis. (Fonte: Getty Images)
A marca mais característica que esta sociedade deixou foram pontas de lanças feitas de ossos. Elas são encontradas com algumas variações por quase todo o continente americano. Isso sugere que eles eram povos nômades e que sua cultura se espalhou bastante. Mas, acima de tudo, indica que eram essencialmente caçadores.
Em muitos dos sítios onde suas ferramentas são encontradas, também é possível localizar ossos da megafauna americana, como mamutes, mastodontes e preguiças-gigantes. Como há pouquíssimos vestígios da cultura Clóvis além das pontas de lanças, é difícil afirmar o quanto eles usavam — se é que usavam — suas caças para outros fins além da alimentação.
Assim como a origem do povo Clóvis, seu fim também é incerto. Eles podem ter sido vítimas das mudanças climáticas ou do seu próprio modo de vida caçador, que pode ter eliminado parte da megafauna e tornado seu estilo de vida inviável. Outra hipótese é que eles podem ter sido superados por outras culturas com ferramentas mais eficientes.
O que se sabe é que o desaparecimento dos vestígios da tecnologia Clóvis coincide com o chamado Dryas recente, um breve período em que a temperatura do planeta voltou a diminuir. Porém, isso não indica uma relação direta, uma vez que existem evidências de uma transição relativamente suave do estilo Clóvis de fabricação de ferramentas para métodos subsequentes, o que pode indicar continuidade cultural.