Grande Terremoto de Kanto: o dia que mudou a história do Japão

30/09/2023 às 07:003 min de leitura

O Japão é um país em que os terremotos são uma ameaça constante. Em maio deste ano, um tremor de magnitude 6,3 atingiu o oeste do país, deixando 13 pessoas feridas. Por serem eventos considerados comuns, o Japão investe pesado em ações para mitigar os danos dos tremores.

Contudo, nem sempre essa nação dispôs de tecnologia para lidar com os efeitos dos terremotos. Em 1923, o Japão foi atingido por um terremoto tão poderoso que até hoje é considerado o maior desastre natural da história japonesa, e que resultou em 100 mil mortes e um país completamente destruído. Estamos falando do Grande Terremoto de Kanto.

Como o Terremoto de Kanto mudou a história do Japão?

(Fonte: Hulton Archive/Getty Images)(Fonte: Hulton Archive/Getty Images)

Os tremores começaram antes do meio-dia do dia 1 de setembro de 1923, quando um grande pedaço da placa tectônica das Filipinas se rompeu e se chocou com a placa continental da Eurásia. Não havia sinais de que o desastre ocorreria, logo, todos os japoneses estavam ocupados com suas atividades, sem saber que tudo mudaria em poucos minutos.

Um dos relatos mais impactantes sobre esse evento foi feito por Ellis M. Zacharias, um oficial da Marinha dos EUA. Ele estava no cais do porto de Yokohama quando dezenas de pessoas se despediam de um luxuoso navio que viajaria para o Canadá.  "Os sorrisos desapareceram e, por um instante apreciável, todos ficaram paralisados, enquanto o som de um trovão sobrenatural os envolvia. Então, o cais desabou sob seus pés e pessoas e carros mergulharam na água", disse.

Terremoto foi seguido de tsunami e incêndios

(Fonte: Evans/Three Lions/Hulton Archive/Getty Images)(Fonte: Evans/Three Lions/Hulton Archive/Getty Images)

Após o tremor, uma grande onda de mais de 12 metros de altura invadiu a região de Kanto, que fica ao leste do país e contempla cidades importantes, como Tóquio. Logo depois, veio o tsunami, que levou consigo as casas e as pessoas. Os imóveis eram, em sua maioria, de madeira, o que contribuiu para a devastação, mas mesmo os prédios de alvenaria não suportaram o tremor e a onda gigante.

Depois disso, os destroços das casas e prédios pegaram fogo. Os moradores da região de Kanto nem haviam assimilado a destruição quando precisaram lidar com esse grande incêndio que terminou de destruir as cidades japonesas atingidas. Em Tóquio, cidadãos que viviam ao lado do Rio Sumida se assustaram com os desmoronamentos e incêndios, decidindo entrar no rio para se protegerem. Muitos morreram afogados, principalmente quando pontes começaram a cair, criando ondas na água.

Os sobreviventes também relataram um fenômeno assustador, um “tornado de fogo”. É provável que ventos fortes tenham levado para longe as chamas dos destroços, assustando essas pessoas. Um grande grupo de japoneses, cerca de 40 mil indivíduos, foi atingido por essas chamas. Apenas 300 sobreviveram depois que o vento e o fogo se dissiparam.

Os incêndios duraram cerca de dois dias inteiros e só acabaram porque não havia mais o que ser queimado. Praticamente metade da cidade de Tóquio tinha sido consumida pelas chamas.

Pânico coletivo tomou conta do Japão

(Fonte: Hulton Archive/Getty Images)(Fonte: Hulton Archive/Getty Images)

Os problemas causados pelo Grande Terremoto de Kanto não terminaram com o fim dos tremores, do tsunami e nem com o controle do fogo. Os japoneses estavam profundamente traumatizados, vivendo uma situação de pânico coletivo nunca e no país. Muitos boatos começaram a se espalhar, amedrontando ainda mais os sobreviventes, como a história de que o Monte Fuji havia entrado em erupção. Ou que a cidade de Yokohama não existia mais.

Conforme as horas passaram, alguns grupos de japoneses se voltavam contra os imigrantes coreanos que viviam no país, afirmando que essas pessoas estariam colocando fogo nas casas, roubando os pertences dos japoneses e envenenando poços de água. Isso motivou ataques aos coreanos que viviam nessas cidades. Estima-se que 10 mil coreanos foram assassinados por grupos de justiceiros japoneses.

Obviamente, os boatos eram infundados, pois os imigrantes coreanos também foram vítimas de toda a tragédia que atingira o Japão. Na época, o político japonês Tawara Magoichi afirmou que o massacre dos coreanos era “um grande defeito do espírito nacional do povo japonês”.

Ao todo, 50 mil soldados do Exército Imperial foram necessários para reestabelecer a ordem. Além disso, os militares ajudaram a limpar as ruas dos destroços, retirando entulhos e cadáveres das vias públicas.

Religiosos e políticos conservadores passaram a afirmar que o país havia sido castigado por ter se aberto a ideais ocidentais e mais liberais. Houve também um movimento em busca de reestabelecer a nação aos supostos momentos de glória do passado. Alguns historiadores acreditam que a popularidade desse pensamento contribuiu para que o Japão se aliasse a Alemanha e a Itália na Segunda Guerra Mundial.

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