Estilo de vida
29/10/2023 às 08:00•2 min de leitura
Você já ouviu alguém falar por aí que determinado tipo de tratamento só funciona por conta do "efeito placebo"? Esse termo é normalmente usado para descrever a possível melhora nos sintomas de alguns pacientes ao utilizarem um placebo, que nada mais é do que um tipo de tratamento criado para parecer um medicamento real — mas só é feito de substâncias químicas inativas, como amido e açúcar.
No século XIII, no entanto, o termo "placebo" não era utilizado em ensaios clínicos, pílulas de mentirinha ou qualquer coisa remotamente médica. Em vez disso, esse era um termo que fazia membros da Igreja Católica Romana pensarem em Deus e na morte. Logo, sua origem é muito mais complexa do que poderíamos imaginar.
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O que muitas pessoas não sabem é que a palavra "placebo" significa "eu agradarei" em latim, língua que originou o termo tanto usado no meio científico hoje. De acordo com o Oxford English Dictionary, ela é "a primeira palavra da primeira antífona das vésperas no Ofício dos Mortos" — uma oração noturna usada pelos católicos para pessoas que haviam morrido recentemente.
Em pouco tempo, as pessoas passaram a usar "placebo" para se referir a oração inteira, que se traduz completamente como "agradarei ao Senhor na terra dos vivos". No século seguinte, no entanto, falantes de inglês deram uma definição secundária para o termo que permeava seu significado original em latim: se você dissesse que alguém estava cantando, fazendo ou jogando "placebo", você estava insinuando que esse indivíduo estava lisonjeando alguém de forma bajuladora.
A palavra evoluiu de tal forma que em determinado ponto era possível chamar uma pessoa de "placebo", o que significa rotulá-la de "bajuladora ou parasita". O primeiro exemplo desse uso pode ser visto no livro The Merchant's Tale, do escritor Geoffrey Chaucer.
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Tendo em mente que "placebo" evoluiu no passado para representar um ato de bajulação com a intenção de fazer alguém se sentir bem — mesmo que não fosse um elogio sincero —, é fácil de entender como o termo foi parar na medicina. Afinal, em termos médicos, "placebo" define qualquer medicamento ou tratamento destinado a fazer alguém se sentir melhor, mesmo que tecnicamente sem potência medicinal.
Porém, a palavra só foi chegar nesse segmento da sociedade em meados do século XVIII. “Quando se deseja apenas um placebo, o objetivo pode ser atendido por meios que, embora talvez reduzidos à matéria médica, não merecem, no entanto, o nome de medicamentos”, escreveu o médico Andrew Duncan em seu livro Elements of Therapeutic (1770).
A frase completa "efeito placebo" não se tornou comum até o início do século XX. Esse período histórico presenciou o nascimento do termo em latim "nocebo", ou "farei mal", também usado para descrever um tratamento medicamente inútil ou vazio, que faz com que o paciente se sinta pior. Contudo, o termo nunca se popularizou da mesma forma que seu antagonista, cuja fama parece apenas crescer com o passar dos anos.