Estilo de vida
23/01/2019 às 13:00•2 min de leitura
Uma exibição artística organizada em um museu na cidade de Haifa, ao norte de Israel, terminou em confusão no começo de janeiro. Uma minoria de cristão árabes se revoltaram ao encontrar, no acervo da mostra, uma escultura que retrata Ronald McDonald — o palhaço conhecido como mascote da rede de fast-food McDonald’s — crucificado como Jesus. Os visitantes iniciaram um protesto, clamando que o “McJesus” fosse retirado de lá; a polícia foi acionada, mas acabou entrando em conflito com os religiosos.
De acordo com algumas testemunhas, as autoridades tentaram dispersar a multidão usando gás de pimenta e granadas de efeito moral; em contrapartida, os protestantes arremessaram pedras e até mesmo ameaçaram atear fogo contra a construção. Pequenos vídeos publicados no Twitter mostram uma confusão generalizada, com civis correndo, gritando e entrando em combate corpo-a-corpo com os policiais. Há muita fumaça e, mesmo hostilizados, os órgãos da lei parecem tentar um diálogo pacífico ao fim do clipe.
O único detalhe é que, ao que tudo indica, quem ficou revoltado com o tal “McJesus” não conseguiu interpretar a mensagem que o artista queria passar. A ideia por trás de crucificar o ícone de uma das maiores redes de fast-food do mundo foi criticar o capitalismo desenfreado e mostrar que as pessoas estão passando a “adorar novos deuses”, dedicando sua vida a um ciclo de comprar e ostentar. Tanto que, na mesma exposição, haviam imagens de Jesus e da Virgem Maria dentro de caixas de bonecas Barbie.
Nesse sentido, a ideia até lembra um pouco o livro (posteriormente adaptado para uma série de TV) “Deuses Americanos”, de Neil Gaiman. No romance, deuses antigos acabam entrando em guerra com os novos deuses, representados pela mídia — um ser divino que sempre se manifesta com uma aparência diferente, mas sempre imitando algum ícone televisivo, como David Bowie e Marilyn Monroe —, pela tecnologia (interpretado por um jovem arrogante e orgulhoso) e assim por diante.
A comoção repentina surpreendeu Nissim Tal, diretor do museu, visto que as peças já estavam em exposição há meses e ninguém havia reclamado até então. A teoria mais aceita é a de que algum internauta com grande influência nas redes sociais tenha postado uma foto da obra em questão e iniciado tal revolta. Além disso, a mesma exposição já viajou por diversos outros países e jamais enfrentou qualquer tipo de resistência pelas comunidades cristãs locais.
O museu se recusou a tirar a escultura de seu acervo, afirmando que a liberdade de expressão precisa ser mantida e resistir a quaisquer pressões. “Se nós derrubarmos a arte, no dia seguinte nós teremos políticos pedindo que retiremos outras coisas e vamos acabar apenas com pinturas coloridas de flores no museu. Nós vamos defender a liberdade de expressão, a liberdade da arte e a liberdade da cultura, e não vamos retirá-la [a escultura]”, afirmou Nissim.
Ainda assim, relatos afirmam que extremistas continuam acampados na frente do museu e não pretendem sair de lá até que o McJesus seja extinto. Em entrevista à agência de notícia Associated Press, Wadie Abu Nassar, um conselheiro e líder religioso, afirmou que é preciso entender que liberdade de expressão “é interpretada de formas diferentes” em diferentes países. “Se este trabalho fosse direcionado contra não-cristãos, o mundo poderia virar de cabeça para baixo”, completou. E você? O que acha de toda essa polêmica?