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11/03/2020 às 14:00•5 min de leitura
O que aconteceu naquele voo em 7 de janeiro de 1948 conferiu uma nova perspectiva no que diz respeito ao pensamento que as pessoas tinham sobre os OVNIs. A mídia, que tratava os relatórios desses fenômenos com displicência — como se não passassem de estudos dissimulados —, posicionou-se de maneira mais séria e deu atenção mais redobrada para o caso. O acontecimento não foi tratado como uma notícia de passagem ou de entretenimento aleatório. Algo sério havia acontecido nos céus, e a população passou a se preocupar.
“Eles podem não ser só extraterrestres, mas também potencialmente hostis”, disse o historiador David Michael Jacobs. Para ele, o caso Mantell marcou uma mudança acentuada nas percepções públicas e governamentais em relação aos assuntos de Ufologia, sendo o início de uma nova era.
A história começou às 13h20 em 7 de janeiro de 1948, cerca de 6 meses depois do Caso Roswell. Centenas de pessoas que moravam em Kentucky — nas áreas de Irvington, Maysville e Owensboro — entraram em contato com a polícia local alegando terem visto um objeto grande, circular e metálico próximo ao Fort Knox. Esse edifício fortificado funciona como cofre e é responsável por armazenar grande porção da reserva de ouro dos Estados Unidos e também outros objetos de valores inestimáveis para a humanidade.
Estranhando a quantidade de indivíduos à procura das autoridades em um espaço tão curto de tempo, a polícia entrou em contato com o campo de pouso da Base Aérea de Goodman. Nesse local, os operadores das torres contataram a Base Aérea de Wright-Patterson, localizada nos arredores de Ohio, a fim de saberem se alguma aeronave estava presente na área próxima ao Fort Knox. Porém, não havia nenhuma.
Às 13h45, de dentro das torres da base de Goodman, o Sargento Quinto Blackwell testemunhou o objeto não identificado atravessar o espaço ao longe. Dois funcionários também viram a nave, que parecia mudar de cor contra o céu conforme ambos disseram. Nos relatórios divulgados, pessoas de outras bases militares dos EUA fizeram contato com a de Goodman para reportar o mesmo objeto estranho. Em Lockbourne (Ohio), eles afirmaram que o objeto chegou perto do chão, permaneceu em posição de repouso por 10 segundos e depois subiu em uma velocidade de 800 km/h, voltando à altitude de cerca de 3 mil metros.
Foi nesse momento que eles mandaram aos céus os 4 caças do modelo Mustang F-15, com a ordem de interromper a rota daquela aeronave e investigá-la. A unidade era liderada por Thomas Mantell.
O capitão Thomas Francis Mantell Jr. nasceu em 30 de julho de 1922 em Franklin, Kentucky. Ele estudou na Male High School, em Louisville. Depois de ter se formado na Escola de Voo em 1943, durante a Segunda Guerra Mundial, ele atuou em um dos esquadrões e foi premiado com uma medalha de honra por seu heroísmo e feitos em prol da nação.
Quando Mantell atingiu os ares em 7 de janeiro, estava com 25 anos e já era um piloto experiente — tinha 2 mil horas de atuação, sendo um orgulho para Kentucky. Durante a tarefa, um dos aviões teve que abandonar a missão, pois teve uma estranha perda de combustível em um tempo recorde.
No que se aproximava, o líder declarou à torre que o objeto tinha um tamanho enorme, era metálico e na verdade apresentava cor imutável. De repente, este subiu em uma velocidade considerável, e Mantell seguiu o rastro dele junto aos outros caças, dando início a uma perseguição.
Quando atingiram 6,9 mil metros de altura, o tenente Albert Clements abortou a missão, pois estava ficando com dificuldades de respirar mesmo usando uma máscara de oxigênio. O tenente Hammond o seguiu, porém Mantell continuou na jornada pelo OVNI. Às 15h15, em sua última comunicação com Blackwell por meio de rádio, ele disse: “Está avançando tão rápido quanto eu! 580 km/h! Estou atingindo 7 mil metros. Se não ficar mais perto, vou abandonar a perseguição!”.
Após dizer isso, o silêncio absoluto prevaleceu. Mantell não entrou em contato novamente, por isso dois Mustang F-51 foram enviados rapidamente a uma missão em busca do piloto. No entanto, apesar de percorrerem centenas de quilômetros, eles não o encontraram. À noite, bombeiros descobriram os destroços do avião de Thomas em uma fazenda ao sul de Franklin na linha estadual entre Kentucky-Tennessee. E lá estava o cadáver dele.
O cinto de segurança do indivíduo estava desfiado, e o relógio de pulso parado às 15h18 (o horário do acidente). Segundo os relatórios da Força Aérea, assim que Mantell ultrapassou 7,6 metros, ele certamente desmaiou devido à falta de oxigênio (hipóxia), e a aeronave iniciou a espiral de volta ao solo até impactar no solo de forma fatal.
Às 15h50, já não havia mais sinal do OVNI em nenhuma das bases aéreas.
O acidente espalhou-se como fogo pela mídia. Rapidamente, os rádios, a televisão e os jornais especularam e criaram teorias ao redor do acontecimento, uma vez que ninguém estava convencido ou queria se convencer de que a morte do piloto foi por conta de hipóxia. Tudo se tornou ainda mais sério não só pelo fato de um piloto condecorado da Segunda Guerra Mundial estar envolvido, mas pelo envolvimento direto do governo americano. Foi isso que deu credibilidade nacional a reivindicações feitas pelos ufólogos.
O Projeto Sign começou a investigar o acidente, e eles observaram que a Força Aérea estava trabalhando rápido no incidente, pois queria entregar logo uma resposta sobre o ocorrido. Os membros do projeto concluíram que o ramo aéreo das forças armadas não estava realmente interessado no caso, mas sim desejava apenas fornecer uma explicação racional e mundana ao público. Isso causaria o desinteresse da população em relação ao tema "OVNI" e preservaria algum tipo de medo quanto a denúncias de pessoas que afirmaram ter visto algo.
Em declaração, a Força Aérea sugeriu que o objeto visto por Thomas e por todas as outras testemunhas, entre civis e funcionários, era "apenas" o planeta Vênus. No entanto, essa afirmação não convenceu ninguém. O Dr. Allen Hynek, em 1952, investigando o caso a partir do polêmico Projeto Blue Book, assegurou que Vênus não era suficientemente brilhante para ser visto e, mesmo se fosse, era improvável confundi-lo com um OVNI.
Com a rejeição universal à explicação da Força Aérea, esta tentou então vender a ideia de que o piloto estava perseguindo um balão meteorológico, parte do Programa Secreto Skyhook da Marinha dos Estados Unidos. Apesar de se tratar de uma explicação um pouco mais sólida e que de fato acalmou mais as pessoas, também não batia com as descrições reportadas por Mantell e tampouco com a experiência profissional dele. Era impossível um piloto como ele não saber distinguir um balão meteorológico de uma nave.
Antigo oficial das Forças Aéreas e supervisor do estudo do Projeto Blue Book, Edward J. Ruppelt alegou que existem registros mostrando se um balão foi lançado ou não naquele dia, porém ele nunca conseguiu encontrá-los. As pessoas que trabalharam no Projeto Skyhook dizem ter operado na Base da Força Aérea somente até 1947 e que as atividades foram suspensas logo depois disso.
Para complementar a situação, Richard T. Miller — o qual estava na sala de operações da Scott Air Force Base em Belleville (Illinois — monitorava a conversa entre Mantell e a torre de Goodman quando escutou o piloto afirmar que havia indivíduos dentro “daquela coisa”. Miller acrescentou que, na manhã seguinte ao acidente, os investigadores emitiram um comunicado sobre a morte de Thomas Mantell, no qual afirmaram que o profissional estava“perseguindo um objeto voador não identificado e inteligentemente controlado”. Na mesma noite, os oficiais do Centro de Inteligência Técnica da Wright-Petterson ordenaram a todos que entregassem qualquer material relacionado ao acidente, afirmando que eles já haviam concluído a investigação.
Por fim, o caso Mantell pode ser considerado só mais um em uma longa lista de encobrimentos, porém foi o crucial para moldar a perspectiva do público e do governo em relação a avistamentos de OVNIs, atravessando o ceticismo de milhares que prevalece até hoje.