Ciência
27/03/2020 às 14:00•6 min de leitura
Atenção! Se você é sensível a temas que envolvem sexo ou violência, ou tem menos de 18 anos, é melhor parar por aqui. Caso contrário, é só prosseguir para o nosso artigo.
.....
De um modo que vai totalmente na contramão de um crime, durante os anos de 1980 e 1982, os moradores da cidade de Minneapolis tiveram os dias e as noites assombrados pela voz de um serial killer doentio que andava solto pela sociedade.
As pistas eram as ligações que o homem fazia para o sistema de emergência da polícia confessando os seus crimes em um tom afetado pelo emocional. A mídia prendeu a respiração no primeiro relato, porém quando o assassino continuou ligando para fazer mais confissões dos impulsos que não conseguia controlar, ele foi rapidamente apelidado de "o assassino da voz chorosa".
Karen Potack
Na noite do dia 31 de dezembro de 1980, Karen Potack (20 anos), estudante da Universidade de Stevens Point, estava em uma balada com vários amigos comemorando — com uma boa dose de diversão — a despedida daquele caótico ano de estudos. Os fogos foram disparados à 00h, como de costume, e todos celebraram, beberam e dançaram. Finalmente tinha chegado "1981".
À 1h, após a boate ter encerrado as suas atividades, as amigas de Potack notaram que a garota não estava em lugar algum, porém imaginaram que ela já deveria estar em casa. De fato Karen já havia saído e estava andando a uma curta distância do local onde estava, em uma rua paralela entre a Pierce Butler Road e a Syndicate Avenue, quando braços a imobilizaram por trás e ela foi arrastada.
Com uma chave de roda, a estudante foi atingida várias vezes na cabeça até desfalecer e, então, abandonada naquela rua sob um céu escuro de inverno.
Karen Potack sendo transportada do local do crime.
Aproximadamente às 3h, a central de emergência da polícia local recebeu uma ligação de um homem: “Por favor mandem uma ambulância para cá, tem uma garota ferida aqui”, ele informou. A voz era de total desespero, embargada e quase infantil, de quem está confuso e arrependido ao mesmo tempo, embora nessa primeira ligação o assassino tenha simplesmente desligado o telefone quando foi indagado pelo operador sobre a sua identidade — sem confessar que quem tinha machucado a garota era ele. Isso era só o início de um ciclo.
Quando os policiais chegaram com os paramédicos à cena do crime, Karen estava de bruços, com os braços afastados do corpo e a cabeça deitada em uma espécie de halo que o seu próprio sangue fazia no chão. Metade do cérebro da jovem havia sido exposta por conta da violência dos golpes. Apesar disso, de alguma forma milagrosa, ela sobreviveu ao ataque, porém ficou com graves sequelas, sendo uma delas a amnésia.
Kimberly Compton.
No dia 3 de junho de 1981, um grupo de jovens caminhavam por uma área arborizada — entre as ruas Superior Street e Oneida em St. Paul, que davam para a estrada Interestadual 35E — quando eles se depararam com um cadáver.
Era Kimberly Compton, de 18 anos, moradora do Condado de Pepin. Com um picador de gelo, ela foi brutalmente atingida 61 vezes pelo corpo todo, principalmente no peito. Como complemento de seu sofrimento, depois de morta, ela também foi estrangulada com um cadarço.
Naquele mesmo dia, logo após a morte dela, o assassino da voz chorosa ligou para a central da polícia: “Não fale, só escute. Eu lamento pelo o que eu fiz à Compton. Eu não consegui evitar. Eu não sei o porquê, mas eu tive que a apunhalar”. O homem ainda acrescentou que ficava bêbado e por essa razão acabava cometendo os assassinatos, mas que lamentava muito por isso, pois nunca era a sua intenção. Ele prometeu que pararia e faria de tudo para isso.
A polícia conseguiu rastrear a ligação e descobriu que ela tinha sido feita de um telefone público em um bar do outro lado da rua, próximo a um ponto de ônibus na 9th e St. Peter Street. Quando eles chegaram ao local, já não havia mais ninguém lá.
Dois dias depois que o corpo dessa jovem foi encontrado, o assassino ligou novamente para o 911. “Eu que matei ela, Kimberly Compton. Eu não sei o que há de errado comigo. Eu estou doente. Eu vou me matar. Eu vou...”.
A ligação foi interrompida, mas vieram mais telefonemas depois desse, com o criminoso ainda se lamentando pelo assassinato de Compton. Apesar do poder das declarações, ainda não eram o suficiente para a polícia descobrir quem estava por detrás delas. Foi então que tiveram a ideia de disseminar as gravações das ligações pela mídia, contando com a ajuda do público para identificá-lo.
Em um dia, a polícia registrou cerca de 150 denúncias de possíveis identidades do autor dos crimes. Eles foram atrás de cada uma, porém nenhuma delas batiam. No dia seguinte, o assassino ligou para o 911 alegando que as notícias sobre as mortes estavam erradas. Depois ele se desculpou novamente sobre o que causou a Compton e desligou.
Barbara Simons.
No dia 5 de agosto de 1982, a enfermeira Barbara Simons, de 40 anos , estava em um bar chamado Hexagon quando o seu futuro assassino lhe ofereceu um cigarro. Eles conversaram, beberam e dançaram juntos até que Barbara comunicou a uma amiga, a garçonete do local, que o homem a daria uma carona até em casa.
A polícia recebeu um telefonema já de madrugada. O assassino da voz chorosa reafirmou: “Eu a esfaqueei 40 vezes agora. Eu não queria. Kimberly Compton foi a primeira. Eu não queria...”.
Na manhã seguinte, um jornaleiro que caminhava pelas margens do rio Mississippi encontrou o cadáver de Barbara Simons em uma encosta entre árvores e ramagens. A mulher foi mortalmente esfaqueada, bem mais do que 40 vezes.
A cena do crime de Barbara Simons.
A polícia foi ao bar onde Barbara esteve antes de morrer para procurar testemunhas que pudessem fornecer informações sobre a aparência do assassino. Esse foi descrito como um homem branco de aproximadamente 40 anos, de cabelos escuros (mas um pouco calvo), com 1,85 m de altura e cerca de 83 kg.
Dessa forma, a polícia disparou em busca desse assassino, mas ele se adiantou indo até Denise Williams, na cidade de Minneapolis. A garota de 19 anos estava se prostituindo nas ruas quando foi abordada pelo criminoso, que pediu os serviços dela. Denise entrou no carro, e eles partiram do local.
Denise Williams.
Denise, no entanto, só foi perceber que algo estava errado quando o homem entrou em uma rua sem saída. Antes que Williams tivesse a chance de reagir abrindo a porta do veículo, o homem investiu contra ela um golpe com uma chave de fenda, agredindo-a e a atingindo em um total de 15 vezes. Lutando pela vida, a garota alcançou com sucesso uma garrafa largada em baixo do banco e atingiu-o no rosto. O agressor recuou de cima dela, e Denise conseguiu abrir a porta e fugir, mesmo gravemente ferida.
Paul Michael Stephani
Assim que voltou para a sua casa, o homem notou que o ferimento feito em seu rosto pela garota estava mais grave do que imaginava, pois não parava de sangrar. Sentindo-se fraco, ele telefonou para o Corpo de Bombeiros de St. Paul pedindo ajuda. No mesmo momento, o operador da ligação notou que o desespero na voz dele era muito semelhante a do assassino que a polícia estava procurando sem parar.
Quando rastrearam a ligação e chegaram a casa do homem, ele foi identificado como Paul Michael Stephani. Ele tinha 37 anos, era divorciado e cresceu na cidade de Austin (Minnesota), mas se mudou para St. Paul em meados dos anos 1960. Ele trabalhou como zelador em um hospital, de balconista e também como descarregador de caminhões em uma siderúrgica de ferramentas.
Segundo Stephani, ele não conseguia se manter em nenhum emprego devido aos ataques epiléticos que continuava a ter desde o seu último trabalho, o qual exigia muito de seu físico. No dia em que foi demitido pela enésima vez, ele conheceu Karen Potak. “Eu pensei em levá-la para tomar uma xícara de café, já que estava tão frio. Mas de repente algo aconteceu em minha mente, como se fosse um estalo. Foi então que eu perdi o controle”, ele declarou à polícia.
Então, Paul foi preso e considerado culpado pela agressão e tentativa de homicídio de Denise Williams e indiciado pelo assassinato de Barbara Simons. Apesar de uma irmã dele, a ex-mulher e um antigo colega de quarto terem confirmado que a voz do assassino da voz chorosa era a de Stephani, o juiz não conseguiu encontrar provas substanciais o suficiente para conectar aquele homem a isso nem aos outros crimes, uma vez que a voz tinha sido distorcida pelo choro histérico.
Em 1997, Paul Stephani confessou ter matado Kimberly Compton, assim que ele descobriu estar com câncer em fase terminal e por conta da doença tinha menos de 1 ano de vida. “Até hoje eu não acredito. Acordo pela manhã esperando estar sonhando, mas eu digo a mim mesmo: ‘Não, Paul, você ainda está preso’. Gostaria de voltar no tempo”.
O homem relatou que desceu de um ônibus em St. Paul e foi até a Mickey’s Diner para tomar um café. Lá, ele conheceu Compton e falou que a mostraria a cidade. “Eu pensei em dirigir pelo rio e talvez fazermos um piquenique. Mas em 15 minutos, ela estava morta aos meus pés”.
O assassino confessou todos os crimes, inclusive o de Kathy Greening, uma mulher encontrada afogada na banheira da própria casa e a quem o assassino não fez nenhuma ligação à polícia se lamentando sobre a morte que cometera.
Condenado a 58 anos de prisão, Paul Stephani faleceu em sua cela na prisão Oak Park Height, em 1998. Pela sua morte, não houve arrependimento, ninguém derramou lágrimas e nenhum familiar atendeu a esse "último telefonema", o qual carregava o seu nome.