Slender Man: o crime de Payton Leutner

11/06/2020 às 14:003 min de leitura

A vida de um estudante no ensino médio norte-americano, por vezes, pode ser uma experiência traumática, simplesmente porque o país sustenta uma taxa de 41% de alunos que sofrem bullying ou rejeição, de acordo com o National Center for Educational Statistics. O que é disseminado pela mídia através de representações dramatúrgicas não chega nem perto do nível das brutalidades que os jovens sofrem na realidade — tanto que os efeitos podem ser duradouros e, às vezes, perigosamente irreversíveis.

Em meados de 2012, na cidade de Waukesha (Wisconsin, EUA), Payton Leutner se aproximou de Morgan Geyser na escola simplesmente porque sempre via a garota sentada sozinha, isolada de tudo e de todos. Segundo Leutner, Geyser não era considerada muito querida, tampouco parecia ter algum amigo, e ela conseguia se identificar com isso.

Minha doce Bella

(Fonte: New York Post/Reprodução)(Fonte: New York Post/Reprodução)

Com apenas 10 anos de idade na época, ambas se tornaram melhoras amigas: saíam da escola juntas, brincavam, dormiam uma na casa da outra e chegaram a viajar em família. Com tanto carinho e consideração, Geyser apelidou Leutner de “Bella”.

Tudo mudou e “deu errado”, segundo a própria Leutner, assim que Anissa Weier passou a integrar a mesma turma — após 2 anos. Geyser se aproximou de Weier e a convidou para serem amigas. A história se repetiu, e o trio de repente se tornou inseparável. Leutner não se lembra muito bem de quando as outras ficaram tão obcecadas com a assombração do Slender Man.

Geyser e Weier passavam horas falando sobre a criatura, assistindo a vídeos no YouTube e lendo histórias em fóruns de comunidades na internet. Leutner confessou que achava a história muito real, porém tentava se manter ao máximo longe de tudo aquilo. Temendo perder o laço de amizade, apoiava as outras garotas, visto que elas pareciam estar mais conectadas por conta do deslumbramento em relação à lenda urbana.

Não havia mais brincadeiras sadias e comuns, nem entre o trio ou qualquer outro jovem da época. A lenda do homem sem rosto que raptava crianças e oferecia recompensas estava em se apogeu 3 anos após sua criação. Aparentemente, dar ouvidos ao que vozes distorcidas falavam em vídeos e frases-fantasmas em salas de bate-papo se tornou uma febre por todo o país.

Não demorou para que as garotas se reunissem a fim de invocar a entidade e cumprir as supostas tarefas para agradá-la.

É o que precisa ser feito

Payton Leutner (Fonte: Daily Mail/Reprodução)Payton Leutner (Fonte: Daily Mail/Reprodução)

Em 30 de maio de 2014, Morgan Geyser completou 12 anos de idade e decidiu comemorar a data em uma festa do pijama com suas duas únicas amigas. “Ela estava tão animada”, lembra Stacie Leutner, mãe de Payton, em uma entrevista para o canal ABC. As garotas saíram para patinar em uma pista fechada, brincaram e comeram pizza enquanto assistiam televisão. Leutner achou curioso o comportamento de Geyser, que se recusou a ficar acordada a noite toda, apesar de se tratar de um dia importante.

Na manhã seguinte, bem cedo, o trio rumou até um bosque para passear e brincar de esconde-esconde. Em certo momento, as garotas decidiram ir ao banheiro e foi quando tudo começou. Weier tentou apagar Leutner lá dentro, mas não conseguiu. Então Geyser arrastou-a até a floresta de novo e desferiu 19 facadas na amiga. “Disseram-me que se eu não fizesse algo, minha família estaria em perigo”, explicou Weier, que assistiu ao ataque de longe.

Após a tentativa de homicídio, as duas fugiram da cena do crime e deixaram Payton Leutner para morrer. A menina foi atingida nos braços, nas pernas, no peito e no abdômen. Apesar de estar terrivelmente ferida e perdendo muito sangue, conseguiu se arrastar até a margem da estrada e foi socorrida pelo ciclista Greg Steinberg, que ligou para a polícia.

Eu já quis machucar antes

Morgan Geyser (Fonte: New York Post/Reprodução)Morgan Geyser (Fonte: New York Post/Reprodução)

Geyser e Weier foram presas perto da estrada Interestadual 94, em uma loja de móveis de Steinhaffel. A faca usada no crime ainda estava com Geyser. De acordo com as garotas, tudo o que fizeram foi cumprir um dos pedidos do Slender Man, para poderem acessar o seu esconderijo secreto — que, segundo a lenda, ficava em algum lugar da Floresta Nacional Nicolet, no Wisconsin.

Anissa Weier disse que a entidade mataria os seus pais se ela não lhe entregasse a alma de Leutner. Enquanto ela se mostrou extremamente assustada e arrependida, Geyser não demonstrou qualquer sinal de remorso. Friamente, alegou que o ataque era necessário para se provarem dignas e chegarem onde queriam. “Eu já quis machucar pessoas antes, mas porque não foram legais comigo", declarou a garota a um detetive.

Através de depoimentos, a polícia descobriu que o crime foi premeditado e era para ter ocorrido em um dia diferente. Payton Leutner seria amarrada e amordaçada para a situação, porém Geyser confessou que estava muito cansada para isso, portanto resolveu deixar para outro dia.

Anissa Weier (Fonte: Bustle/Reprodução)Anissa Weier (Fonte: Bustle/Reprodução)

Em dezembro de 2017, Anissa Weier foi condenada a 25 anos de prisão em uma instituição psiquiátrica, depois de se declarar culpada como cúmplice de homicídio doloso. Em fevereiro de 2018, Morgan Geyser foi condenada a 40 anos de reclusão em um hospital psiquiátrico. O juiz Michael Bohren disse que a medida foi tomada a fim de proteger a comunidade e garantir que não haja reincidência.

O caso das garotas recebeu ampla repercussão na mídia, principalmente por meio de debates sobre o papel da internet na sociedade e como pode haver influência negativa na formação da psicologia juvenil. Na dramaturgia, filmes e séries retrataram o crime.

Cerca de 7 semanas depois do ataque que quase tirou a sua vida, Payton Leutner voltou à escola. Em outubro de 2019, a garota declarou com resignação: “Eu aceitei todas as cicatrizes que tenho. É apenas uma parte de mim, mas eu não penso muito sobre elas. Provavelmente desaparecerão com o tempo”.

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