O 'dia sombrio' que desesperou a Nova Inglaterra em 1780

22/06/2020 às 14:003 min de leitura

Em meio à Guerra Revolucionária de 1780, o general George Washington escreveu no dia 18 de maio em seu diário: “Nuvens pesadas e incomuns se aproximam. São escuras e ao mesmo tempo possuem uma luz brilhante e avermelhada misturada nelas”. Ele e seu exército continental estavam acampados nas cercanias da cidade de Nova Jersey, nos Estados Unidos. Recentemente, a região havia registrado uma das mais baixas temperaturas de todos os tempos, porém o ar rapidamente se tornara quente e pesado. Ao amanhecer e todo o fim de tarde, o Sol passou a adquirir um tom avermelhado, e a luz brilhava rosada à noite.

Todos os estados a noroeste da Nova Inglaterra (de Maine a Connecticut), no dia 19 de maio de 1780, amanheceram com o céu nublado, uma brisa refrescante e certa garoa em regiões esparsas. Entre as 8h e 9h, as pessoas que estavam nas ruas, e principalmente nas fazendas, notaram uma massa de nuvens cor de cobre escurecer aos poucos o céu. À medida que o dia foi avançando, essa espécie de neblina foi se acumulando, fazendo pessoas abandonarem os seus afazeres por falta de luz. Às 12h, o Sol já não era mais visto, e o dia se tornou uma completa escuridão, como se fosse realmente de noite.

O medo da morte

(Fonte: Great News from Daniel and The Revelation)(Fonte: Great News from Daniel and The Revelation)

O que todo mundo notou por toda a parte, fora o que havia no céu, foi o comportamento atípico dos animais. As aves bateram em retirada (voando em bandos ordenados como se fosse um período de migração), os galos não paravam de cantar, as vacas voltaram para os seus currais e os cavalos pareciam agitados.

Sem ferrovia ou telégrafo, as pessoas ficaram isoladas e sem qualquer notícia, visto que nem cavaleiros podiam entregar mensagens devido à falta de visibilidade. Rapidamente, a população foi arrebatada por pânico e confusão: “Uma opinião prevaleceu, a de que o Dia do Julgamento estava próximo”, declarou o clérigo Timothy Dwight. As pessoas fizeram filas em portas de igrejas para confessarem os seus pecados e exigiram um sermão improvisado dos padres.

Os que não viram em suas orações um meio para escapar do destino que esperava eles foram para as tabernas locais a fim de afogar a ansiedade por acreditarem que seria o fim de suas vidas. Muitos, por medo, cometeram suicídio. Por toda a parte nas cidades, os criminosos se aproveitaram para cometer assaltos a casas e comércios, deflagrando mais terror ainda do que já havia.

Foi só por volta das 17h desse dia que a escuridão começou a sumir. O dia 20 nasceu normal, sem rastro algum daquela nuvem escura, estava brilhante.

O que aconteceu no céu

(Fonte: Pinterest/Reprodução)(Fonte: Pinterest/Reprodução)

“Dia das trevas” ou “Dia Sombrio” foram um dos nomes que a imprensa da época usou para se referir ao estranho e apavorante episódio. Os cientistas supuseram que o fenômeno foi fruto de um crepúsculo prematuro de Vênus ou Mercúrio, um eclipse solar, da colisão de correntes de ventos inversas ou ainda de um "ataque" de meteoros.

Os religiosos analisaram a questão como um prenúncio do retorno de Cristo que, segundo as convicções daquele tempo, aconteceria a qualquer momento. Os mais conservadores enxergaram como uma punição divina aos conflitos da Revolução Americana em andamento, tratando-se também de um ensaio para um pré-arrebatamento.

O professor de geografia da Universidade de Plymouth, no decorrer de anos de estudos, descobriu que houve uma grande seca em 1780, o que torna a causa do fenômeno algo mais plausível: “Eu testemunhei pequenos incêndios na Austrália que causaram um efeito muito estranho no céu, principalmente a mudança drástica na iluminação. Quanto maior o fogo, mais escuro poderia ficar”.

(Fonte: Grateful American/Reprodução)(Fonte: Grateful American/Reprodução)

Em 2007, cientistas do Departamento de Silvicultura da Universidade do Missouri analisaram os troncos das árvores na floresta da reserva do Parque Provincial de Algonquin, no sul de Ontário, e acreditaram ter encontrado respostas para o fenômeno. Eles detectaram sinais de anéis de fogo no tronco das árvores que datam do período em que tudo aconteceu, mais ou menos na primavera de 1780. Estudando os relatórios meteorológicos da época, eles concluíram que a baixa pressão barométrica e os ventos fortes provavelmente encaminharam a fumaça densa para a atmosfera superior, causando um “apagão” no Sol.

Em anos, essa foi a explicação mais definitiva do acontecimento. Em meados de 1950, na província canadense de Alberta, um incêndio florestal remontou outro dia sombrio e causou uma histeria coletiva que foi intensificada pela veiculação de 45 relatos documentados sobre o que aconteceu em 1780, além de suas possíveis teorias.

Fonte

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