A 'batalha' de Los Angeles: o mistério que ainda intriga os EUA

27/11/2020 às 15:004 min de leitura

Assim que a Marinha Imperial Japonesa bombardeou o Pearl Harbor, em 7 de dezembro de 1941, houve uma “onda” de pânico por todo os Estados Unidos, principalmente na Costa Oeste do país, visto que um ataque ou uma invasão eram duas possibilidades iminentes. 

Tudo piorou quando as pessoas começaram a relatar que avistaram aeronaves que não eram do exército norte-americano sobrevoando Nova York, causando uma histeria coletiva nos cidadãos e resultando na queda vertiginosa das ações na Bolsa de Valores.

Em vez de Henry Stimson, o então secretário dos Estados Unidos, tentar acalmar a população, ele reforçou a ameaça das forças inimigas e alertou que todos se preparassem para “golpes ocasionais” orquestrados pelos japoneses. Isso fez com que pilotos e radares confundissem barcos de pescas, baleias e até pedaços de madeira com submarinos japoneses, espalhando uma tensão ainda maior por todo o país.

Apagando tudo

(Fonte: Seton Hall University/Reprodução)
(Fonte: Seton Hall University/Reprodução)

O surgimento de boatos de que porta-aviões japoneses atacariam a cidade de Oakland, na Califórnia, pela Baía de São Francisco, fez com que o governo local fechasse todas as escolas e estabelecesse um blecaute para servir como “cortina de fumaça” para o ataque japonês, na esperança de fazê-los hesitarem. 

Por toda a cidade, a Defesa Civil espalhou sirenes fornecidas pelo Departamento de Polícia de Oakland a fim de que fosse implementado um toque de recolher. Ficou proibido o funcionamento de televisões ou rádios depois do horário, assim como acender luzes.

Isso também aconteceu com os habitantes de Juneau, capital do Alasca, que receberam instruções governamentais para que respeitassem o toque de recolher e cobrissem suas janelas durante o blecaute que seria feito, uma vez que surgiram boatos de que submarinos das tropas japonesas espreitavam a costa sudeste da cidade.

Seattle foi outra que instaurou o apagão em todos os lugares como meio de precaução. Os proprietários de empresas ou lojas que deixaram luzes acesas tiveram seus negócios vandalizados por multidões raivosas de mais de 2 mil pessoas. O Exército dos Estados Unidos chegou a enviar cerca de 500 soldados fortemente armados para proteger o lote do Walt Disney Studio, em Burbank, na Califórnia, temendo que as instalações fossem depredadas ou sabotadas pelos inimigos, minando décadas de império hollywoodiano.

A guerra no céu

(Fonte: Scarenormal/Reprodução)
(Fonte: Scarenormal/Reprodução)

Era aproximadamente 2h30 de 25 de fevereiro de 1942 quando as sirenes começaram a funcionar por toda a Los Angeles. Cerca de meia hora mais tarde, os holofotes rasgaram o céu acompanhados pelo rastro dos disparos, enchendo o horizonte de fumaça. Isso porque a inteligência norte-americana repassou para todos os postos de combate que havia um gigantesco objeto não identificado sobrevoando os céus da cidade.

As tropas em Santa Mônica abriram fogo com metralhadoras calibre 50. Todas as outras bases rapidamente atacaram, porém ninguém via nada além de fumaça e os rastros dos tiros que se interpunham à luminosidade brilhante dos holofotes. A “máquina desconhecida”, como os militares chamavam, permaneceu imóvel, sem sequer contra-atacar.

(Fonte: Pinterest/Reprodução)
(Fonte: Pinterest/Reprodução)

“Era enorme. Simplesmente enorme”, declarou o antigo diretor da Aeronáutica dos Estados Unidos. “Eu nunca tinha visto nada parecido em toda a minha vida”. Além disso, surgiram milhares de depoimentos de angelinos naquela noite alegando terem visto objetos estranhos vagando pelo céu que não pareciam com os aviões do exército americano. Outros afirmaram que viram aeronaves japonesas voando em formação, assim como o pouso de um avião inimigo nas ruas de Hollywood.

“Eu mal conseguia enxergar os aviões, mas eles estavam lá em cima, sim”, afirmou Charles Patrick, um artilheiro costeiro. “Eu podia ver seis aviões e os projéteis explodindo ao redor deles, como se fossem imunes”, ele complementou.

No entanto, o coronel John G. Murphy, do Corpo de Artilharia Costeira, disse o contrário. Ele garantiu que todos estavam suscetíveis a ver o que não havia por causa do medo e da expectativa ao redor de um ataque: “A imaginação poderia ter facilmente revelado muitas formas no céu em meio àquela sinfonia estranha de ruídos e cores. Mas, fazendo um frio destacamento da situação, não havia nenhum tipo de avião no céu: amigo ou inimigo.”

Encontrando explicação

(Fonte: Garfield Senior High School/Reprodução)
(Fonte: Garfield Senior High School/Reprodução)

O ataque durou até quase 4h, com as tropas tendo disparado mais de 1,4 mil munições antiaéreas contra o céu. Quando o Sol raiou, as unidades militares americanas descobriram que parecia não ter existido nenhuma ameaça inimiga.

Depois que Frank Knox, então secretário da Marinha dos EUA, declarou isso em uma coletiva de imprensa, dizendo que todo o incidente não passara de um alarme falso incitado pela ansiedade causada pelos “nervos de guerra”, o Comando de Defesa Ocidental do Exército expediu um comunicado em que se lia: “Embora os relatórios sejam conflitantes e todos os esforços estejam sendo feitos para apurar os fatos, está claro que nenhuma bomba foi lançada e nenhum avião abatido. Não houve inimigos”.

(Fonte: Finding Lost Angeles/Reprodução)
(Fonte: Finding Lost Angeles/Reprodução)

Além disso, o general George C. Marshall apontou a possibilidade de o incidente ter sido orquestrado por agentes japoneses usando aviões comerciais (que voam mais alto do que os de guerra) para darem início a uma guerra psicológica para desestabilizá-los ainda mais depois do bombardeio ao Pearl .

O dano de todo esse “falso combate” recaiu sobre os habitantes de Los Angeles, que tiveram suas casas destruídas por projéteis de artilharia, assim como as janelas de vários edifícios pela cidade. Não houve feridos graves, porém 5 pessoas morreram em decorrência de ataques cardíacos e acidentes de carro durante o blecaute.

O insistente mistério

(Fonte: History/Reprodução)
(Fonte: History/Reprodução)

No entanto, a maioria dos meios de comunicação não compraram a resposta do governo para o incidente, uma vez que os relatórios eram contraditórios e apresentaram explicações diferentes para o episódio. 

O Long Beach Independent, por exemplo, escreveu: “Há uma reticência misteriosa sobre todo o assunto e parece que alguma forma de censura está tentando interromper a discussão sobre o que de fato aconteceu”. 

O deputado Leland M. Ford, de Santa Mônica, chegou a convocar uma investigação no Congresso para que explicações adequadas sobre o episódio fossem dadas.

De acordo com entrevistas feitas pelo editorial do The New York Times da época, muitas testemunhas avistaram um grande objeto flutuante parecido com um balão, enquanto outras enxergaram de fato uma nave. A foto publicada na manhã de 26 de fevereiro pelo Los Angeles Times despertou uma teoria ufológica ao redor do caso, com pessoas afirmando que tudo não tinha passado de uma tentativa de invasão extraterrestre (o que se estende até hoje por causa das circunstâncias desconhecidas).

(Fonte: History/Reprodução)
(Fonte: History/Reprodução)

Em 1945, com o fim da Segunda Guerra Mundial, o governo japonês declarou publicamente que não teve nenhum envolvimento com o episódio de 1942, derrubando todas as teorias de opressão psicológica erguidas anteriormente.

Em 1983, em uma conferência internacional, o Escritório de História da Força Aérea dos Estados Unidos definiu que os eventos do ataque aéreo de Los Angeles estavam vinculados ao lançamento de balões meteorológicos no dia, que serviram para ajudar a determinar as condições do vento. Reforçando que a combinação das luzes incertas dos holofotes, fumaça e disparos podem ter feito os artilheiros acreditarem que estavam atirando em aviões, com uma tensão psicológica levando os habitantes a ver o que na verdade nunca existiu.

Até hoje as pessoas custam a acreditar nessa justificativa, que foi categorizada como “genérica”.

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