Wow!: o sinal de origem extraterrestre mais provável da história

08/12/2020 às 15:004 min de leitura

Idealizado e projetado pelo radioastrônomo John Kraus, o radiotelescópio Big Ear Radio Observatory, da Universidade Estadual de Ohio, tornou-se muito importante em meio à comunidade científica durante a década de 1960. Por anos, o equipamento foi construído com a ajuda de voluntários, trabalhadores e funcionários da instituição de ensino com fundos da National Science Foundation com o intuito de mapear o céu da maneira mais precisa de todos os tempos. Além disso, o observatório fazia parte da Pesquisa por Inteligência Extraterrestre (Seti) da universidade.

O Big Ear ficou conhecido por ser diferente de todos os radiotelescópios que já existiram. Sua estrutura de ferro consistia em um grande retângulo repleto de postes de alimentação que serviam para canalizar os sinais de rádio de seu grande refletor para o receptor.

Ao longo de 8 anos, a estrutura foi usada para mapear fontes de rádio de banda larga para o Ohio Sky Survey, o primeiro levantamento astronômico de fontes de rádio extragaláticas. A busca começou a partir de um artigo escrito pelos físicos Philip Morrison e Giuseppe Cocconi, da Universidade Cornell, em 1959, indicando que qualquer civilização extraterrestre poderia se comunicar com a Terra por meio de sinais de rádio em uma frequência de 1,42 GHz.

O estranho sinal

(Fonte: EDN/Reprodução)
(Fonte: EDN/Reprodução)

Após anos de pesquisa sem muitos avanços (ou quase nenhum), o Congresso dos Estados Unidos votou para interromper o financiamento do Ohio Sky Survey, causando perda de empregos e diminuição nos frutos da pesquisa.

Foi o astrônomo Jerry R. Ehman, voluntário no projeto Seti, que descobriu uma anomalia gráfica nos sinais recebidos em 15 de agosto de 1977 após revisar os registros. Às 22h16 daquele dia, o computador IBM 1130 processou e imprimiu uma série de valores de intensidade e frequência estreita de sinal.

Ehman ficou tão surpreso com o que estava vendo que escreveu “Wow!” (“Uau!”) ao lado do gráfico para que o diretor do observatório, John Kraus, pudesse avaliar. Foi assim que eles apelidaram o achado como Wow! Signal.

(Fonte: EarthSky/Reprodução)
(Fonte: EarthSky/Reprodução)

Os astrônomos perceberam que o sinal parecia vir da direção da constelação de Sagitário e trazia marcas esperadas e específicas de origem extraterrestre. Antes de prosseguir com as investigações, Kraus escreveu uma carta para o astrônomo Carl Sagan para alertá-lo sobre a descoberta: “O Sinal Wow! é altamente sugestivo de origem inteligente extraterrestre, mas pouco mais pode ser dito até que possamos fazer um estudo mais aprofundado”.

Eles observaram que a frequência parecia uma onda contínua que não tinha modulação, durando exatos 72 segundos. Supuseram que a origem da emissão tenha sido através de fontes naturais inventadas pelo homem, porém nenhuma dessas conseguia explicá-la adequadamente.

A teoria de Paris

(Fonte: Astronomy Now/Reprodução)
(Fonte: Astronomy Now/Reprodução)

As tentativas dos astrônomos de rastrear o sinal foram em vão, pois, como não houve mais repetição e sua duração foi pequena, era uma tarefa impossível saber de onde veio. Além disso, a localização precisa no céu de onde a frequência veio era incerta devido ao design do Big Ear, que tinha dois postes de alimentação, cada um recebendo um feixe de direção diferente de acordo com a rotação da Terra. O Wow! foi detectado em um feixe, mas não no outro, e os dados foram processados de uma forma que indeterminava qual dos postes o recebeu.

O telescópio Big Ear nunca mais captou um sinal com a intensidade “U” que, na escala, indica desvios-padrão acima do ruído de fundo entre 30 e 31. Para uma inteligência extraterrestre entrar em contato com os humanos, precisa usar uma frequência que seja ouvida sem margem de erro, e isso significa que ela teria de atravessar a poeira interplanetária e da atmosfera, o espectro invisível (que nos permite ver a luz do Sol e das estrelas sem interferência) e o intervalo de 1 GHz a 10 GHz.

(Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)
(Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)

Abaixo de 1 GHz há muito ruído na galáxia por causa dos corpos astronômicos, dificultando a identificação de um sinal. Acima de 10 GHz, há um ruído maior devido às menores partículas subatômicas. O Sinal Wow! chegou a 1,42 GHz, a maior frequência identificada como sendo de uma possível origem extraterrestre.

O astrônomo Antonio Paris apresentou a ideia de que, em certas condições, cometas poderiam emitir ondas de rádio dos gases que os cercam à medida que se aproximam do Sol. Ele apontou que o cometa 266P/Christensen estava quase na posição certa no dia em que o Sinal Wow! foi enviado.

Beco sem saída

(Fonte: CristaLinks/Reprodução)
(Fonte: CristaLinks/Reprodução)

Muitos astrônomos julgaram a teoria de Paris como errada. Ehman e Robert Dixon (que dirigia o observatório de rádio onde o Big Ear foi construído) analisaram o estudo do astrônomo e explicaram que eles deveriam ter visto a fonte do sinal. Para se tratar de um cometa, era necessário que o sinal aparecesse duas vezes em pelo menos 3 minutos, com uma resposta de 72 segundos e uma segunda ocorrência (após 1 minuto e 30 segundos) também de 72 segundos, mas não foi o que aconteceu.

A única explicação para isso não ter acontecido foi o corte abrupto do sinal, e um cometa não se comportaria assim porque os gases que o cercam cobrem áreas grandes e difusas; ou seja, o cometa não teria conseguido escapar do campo de captura do Big Ear tão rapidamente.

(Fonte: The Wow Signal Podcast/Reprodução)
(Fonte: The Wow Signal Podcast/Reprodução)

“O problema com os postes de alimentação é algo que ninguém pode explicar, nem mesmo eu”, disse Paris. “Existem alguns dados que sugerem que o problema está na extremidade do telescópio, e não no fenômeno em si”. Portanto, foi sugerida também a possibilidade de que o sinal tenha sido causado por uma falha no telescópio.

Ehman também não acreditava que o sinal fosse de origem alienígena, principalmente por tê-lo procurado mais de 50 vezes ao longo dos anos. Para ele, o sinal veio da Terra e simplesmente foi refletido em um pedaço de lixo espacial.

Sem resposta

(Fonte: Space/Reprodução)
(Fonte: Space/Reprodução)

Estudos provaram que essa tese de Ehman era muito improvável, pois um sinal de 1,42 GHz está protegido dentro de um espectro de banda reservada para fins astronômicos, na qual os transmissores terrestres são proibidos de emitir, além do fato de que cometas podem não gerar hidrogênio suficiente para produzir um sinal marcante como o Wow!. Em 1977, Ehman refez sua teoria em um artigo alegando que a fonte poderia ter sido militar ou um produto dos humanos.

Em 2012, no 35º aniversário do Sinal Wow!, o Observatório de Arecibo reuniu mais de 10 mil mensagens no Twitter com a hashtag #ChasingUFOs, anexou tudo a um cabeçalho de sequência repetitiva para cada mensagem individual e emitiu esse sinal para o espaço na intenção de que alguma inteligência extraterrestre o reconhecesse como uma forma de comunicação.

Até hoje a mensagem não foi recebida, tampouco foi o mistério do Sinal Wow! resolvido corretamente.

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