Estilo de vida
13/12/2020 às 14:00•3 min de leitura
ATENÇÃO: esse texto pode trazer conteúdos sensíveis por abordar um caso real.
O que é necessário para que algo viralize na internet?
O filme Megan is missing precisou apenas que pessoas no aplicativo TikTok (disponível em mais de 150 mercados ao redor do mundo e com cerca de 500 milhões de usuários ativos) fizessem vídeos curtos com frases como “Eu estou com medo de sair de casa”, “Não assistam esse filme, pelo amor de Deus!!” ou “Eu estou apavorada”, para que ganhasse a atenção do mundo do dia para a noite.
Em 2006, o cineasta norte-americano Michael Goi escreveu em 6 dias um roteiro em um estilo found footage narrando a história de duas melhores amigas de 14 anos, Megan Stewart (Rachel Quinn) e Amy Harman (Amber Perkins), que moram em North Hollywood, na ensolarada Califórnia. O filme se constrói ao redor do fato de Megan ter começado a conversar com um garoto pela internet e do seu subsequente desaparecimento, que leva Amy a não medir esforços para tentar encontrá-la.
O longa foi rodado no mesmo ano que foi escrito, porém não encontrou uma distribuidora até 2011, quando a Anchor Bay Films deu-lhe um lançamento limitado nos cinemas e o distribuiu em DVD.
Megan is missing se tornou extremamente polêmico e controverso quando chegou ao público exatamente por causa de seu conteúdo perturbador. A história explora uma Megan que lida com Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) por ter sido estuprada quando criança, fazendo com que ela desenvolva um comportamento extremamente autodestrutivo – para o desgosto de sua melhor amiga – e comece a frequentar raves para beber, se drogar e encontrar sexo casual com múltiplos parceiros. No momento em que isso se estande para as garras da internet, é quando a garota desaparece e fotos e vídeos dela sendo violentada e torturada surgem na rede em sites de fetiche.
O estilo de gravação e as sequências de cenas explícitas foram consideradas extremamente gráficas e chocaram a todos em 2011, causando o banimento do filme na Nova Zelândia pelo Escritório de Classificação de Filmes e Literatura, que o definiu como “prejudicial ao bem público”. A crítica declarou que o longa era um terror não pelo gênero, mas pela maneira como abordava tudo. Além de ser muito violento e hipersexualizar meninas adolescentes em um conteúdo de exploração geral, ele foi considerado uma produção “baixa e suja”.
“Isso é um lixo amador disfarçado de um filme com mensagem importante”, declarou Rod Lott, um crítico da Oklahoma Gazette. Isso porque o filme foi comercializado como um conteúdo educacional com o intuito de alertar os jovens e os pais sobre os perigos das redes sociais e a influência da cultura da internet.
Foi o que todo mundo se perguntou sobre o filme: é baseado em uma história real ou não? De acordo com o diretor Michael Goi: não. O filme tem correlação com a verdade no que diz respeito aos perigos aos quais os jovens podem se expor no geral, porém Megan é um artifício que tanto pode ser atribuído a um homem ou uma mulher, criança ou adolescente, pois há a possibilidade de qualquer um passar pelo o que a personagem passou.
No entanto, a dúvida de se os eventos são reais surgiu de maneira genuína, visto que o filme foi divulgado em 2011 de uma maneira tendenciosa, dizendo que tinha “base em eventos reais” – o que pode significar qualquer coisa se não interpretado adequadamente.
Depois que o filme se espalhou pelo TikTok de maneira descontrolada, apavorando muitos usuários e causando gatilhos emocionais, Michael Goi chegou a criar uma conta no aplicativo só para poder esclarecer algumas dúvidas e também se desculpar pelo conteúdo nocivo.
“Não consegui dar a vocês os avisos habituais que costumava dar às pessoas antes de assistirem a Megan is missing”, disse Goi. “Não assista ao filme no meio da noite e nem sozinho. E se você ver as palavras ‘foto número um’ aparecendo na tela, você tem cerca de quatro segundos para desligar o filme, se já estiver meio que pirando antes de começar a ver coisas que talvez não queira. Desculpa a quem já postou sobre como surtou vendo tudo isso, mas fica um aviso justo para aqueles que estão considerando assisti-lo”.
Megan is missing está disponível para ser alugado no YouTube, iTunes e no Google Play.