Estilo de vida
05/03/2021 às 12:00•4 min de leitura
Há algo de estranho no apartamento de Samantha Hartsoe. Foi por isso que a cidadã de Nova York, nos Estados Unidos, decidiu compartilhar com seus seguidores do aplicativo TikTok, nesta quarta-feira (3 de março de 2021), o que acabou descobrindo.
Em seu primeiro vídeo na plataforma, Hartsoe apareceu dizendo que sempre a incomodou o fato de que não importa o quanto aumente a temperatura de seu aquecedor, o banheiro de sua casa sempre permanece gelado, a ponto de ela sentir o ar soprando em seu rosto. A jovem até conferiu se a corrente de vento estava vindo do respiradouro do cômodo, mas não estava.
Então Hartsoe percebeu que, ao parar sob a porta do banheiro, os fios de seus cabelos se mexem por causa da brisa e alegou que pode senti-la vindo com mais intensidade de onde fica o interruptor de luz. Tateando a parede, ela descobriu que a fonte de ar frio estava vindo de trás do grande espelho sobre a pia.
(Fonte: Around World Journal/Reprodução)
No segundo vídeo publicado, Hartsoe apareceu removendo o espelho da parede e se deparando com um buraco, do qual ela não sabia da existência até aquele momento. Espiando pela abertura, ela notou que há uma sala inteira atrás dele.
Decidida a investigar o local, Hartsoe declarou que ia entrar, e um jovem chamado John, provavelmente seu vizinho ou colega de quarto, a questionou: “E se houver alguém morando lá agora? Você não assistiu ao filme Parasita?”. Mas Hartsoe se manteve convicta: “Eu preciso de mais respostas. Eu tenho que entrar e descobrir o que há do outro lado do meu banheiro. E se tiver alguém morando lá?”.
(Fonte: Wiki Trusted/Reprodução)
A jovem jogou um balde pela abertura na parede para poder usá-lo como degrau em sua aterrissagem. Em seguida, ela colocou uma máscara, prendeu uma lanterna em uma faixa de cabelo e pegou um martelo para se defender. Hartsoe fez uma oração rápida e atravessou o buraco.
Ela filmou que não existe apenas uma sala, mas sim um apartamento inteiro do outro lado, completamente abandonado e repleto de sacos de lixo e materiais de construção. Não há revestimento nas paredes nuas, que expõem as tubulações e alicerces.
LOOK AT WHAT SHE FOUND IN HER NYC APARTMENT pic.twitter.com/gmU3w5jRxU
— Chey the Shooter (@CheyMillz) March 4, 2021
Após voltar em segurança para o local, ela disse que entraria em contato com o locador se conseguisse, visto que já havia telefonado 3 vezes no último mês para reclamar do frio, mas o homem nunca a respondeu.
O caso no mínimo perturbador de Samantha Hartsoe acumula mais de 10 milhões de visualizações no aplicativo, mas o contexto de sua história tem referências ainda mais obscuras.
(Fonte: Horror Film Wiki/Reprodução)
São poucos os autores que conseguem consolidar suas histórias de maneira tão marcante, a ponto de fazer as pessoas se questionarem se elas são reais ou fictícias. Clive Barker é uma dessas exceções. Em meados de 1985, o autor e cineasta britânico escreveu uma série de 6 antologias ficcionais de horror intitulada Os Livros de Sangue, que é considerada o cânone do gênero. As histórias vão desde o terror tradicional até o noir, mas a maioria delas apresenta pessoas comuns vivendo em cenários contemporâneos e envolvidas com eventos violentos de origem misteriosa ou sobrenatural.
A quinta antologia da série de Barker se tornou a mais notória por causa do conto O Proibido, que narra a história da estudante universitária Helen Lyne que descobre estranhas pichações em referência a uma lenda urbana de um espírito vingativo chamado Candyman.
A partir disso, Lyne passa a ser aterrorizada pela entidade desse homem de origem não especificada, que veste uma jaqueta de retalhos, tem os olhos brilhantes e selvagens, o tom de pele de um amarelo ceroso, como a parafina de uma vela, e tem um cheiro similar ao de algodão-doce, com um gancho enferrujado no lugar de uma de suas mãos.
(Fonte: Filmtopp/Reprodução)
O conto foi adaptado para uma versão cinematográfica em 1992, com roteiro e direção de Bernard Rose, no qual outros aspectos foram acrescentados à história, como o fato de que é possível evocar o Candyman chamando seu nome 5 vezes diante do espelho.
O sucesso do filme o transformou em uma trilogia milionária que se enraizou no imaginário popular, gerando uma série de teorias sobre o Candyman, tornando-o uma lenda urbana da vida real tão poderosa e controversa quanto o Slender Man.
Quando Samantha Hartsoe mostrou o buraco atrás do espelho, a primeira coisa que os internautas fizeram foi relacionar o seu caso com o do Candyman, visto que na lenda popular o espírito alcança suas vítimas vindo por trás dos espelhos. Mas a história não para por aí.
(Fonte: Chicago Reader/Reprodução)
Em meados de 1938, a Chicago Housing Authority (CHA), uma corporação municipal que supervisiona habitações públicas da cidade de Chicago, desenvolveu o projeto ABLA Homes, que era um conjunto de 3.596 moradias no bairro Cabrini-Green, então um dos mais perigosos da zona sul da cidade de Illinois.
Portanto, não demorou muito para que os 4 complexos de conjuntos habitacionais, que chegaram a abrigar mais de 17 mil residentes entre 1938 e 2000, acabou sendo infestados pelas gangues de rua, pelos viciados e traficantes, tornando o local palco para crimes sanguinários. Só nos primeiros três meses de 1981, o Departamento de Polícia de Illinois contabilizou 11 pessoas assassinadas e 37 baleadas nas imediações.
Residente do prédio Grace Abbott, construído em 1955 pela ABLA, Ruthie Mae McCoy era uma mulher solteira de 52 anos que passou boa parte de sua vida dividindo espaço com o medo. Diagnosticada com transtornos mentais, a mulher era perseguida pela paranoia, e morar em um lugar tão perigoso não facilitava o cotidiano dela.
(Fonte: Twitter/Reprodução)
Era sempre um tormento quando McCoy saía de seu apartamento, o último do corredor fétido do 11º andar, tendo que enfrentar os elevadores escuros e defeituosos, e as escadas sujas e lotadas de viciados em cocaína que coabitavam as áreas comuns do Grace Abbott. Ela, supostamente, deveria se sentir segura dentro de sua casa, mas não conseguia porque havia pessoas nas paredes.
Em todas as torres, atrás dos armários dos banheiros dos apartamentos que ficavam no final de cada corredor, havia um espaço de apenas 60 centímetros de uma espécie de túnel que era usado por profissionais de manutenção. Na década de 1980, porém, esse fácil acesso se tornou o alvo de ladrões, que penetravam as casas empurrando o armário do banheiro.
(Fonte: Chicago Reader/Reprodução)
Em 22 de abril de 1987, entre 20h50 e 21h04, Ruth Mae McCoy foi assassinada por alguém que invadiu seu apartamento pelo buraco na parede do banheiro. Instantes antes, a mulher chegou a ligar para a polícia dizendo palavras confusas, como “eles derrubaram o armário”, porém sua falta de comunicação impediu que o atendente levasse em consideração suas queixas.
O fato de o filme de 1992 ter incorporado elementos do crime de McCoy apenas ajudou a cimentar o Candyman como uma lenda real, assim como o medo de que algo ou alguém surja de trás do espelho do seu banheiro por meio de passagens como a encontrada por Samantha Hartsoe.