Ciência
22/04/2023 às 02:00•2 min de leitura
Durante o final do século XVI e início do XVII, a Europa foi tomada pela histeria em massa causada pela mania de bruxaria, impulsionada pela agitação política da Reforma Protestante, da Contrarreforma e das Guerras de Religião. Esse período resultou na prisão, tortura, julgamento e execução de milhares de pessoas, a maioria mulheres, sob acusação de bruxaria.
Em 1735, a histeria havia diminuído e o parlamento inglês aprovou a última das Leis de Bruxaria, que tornou ilegal fingir usar a bruxaria ou praticar feitiçaria, encantamentos ou conjurações, assim como se comprometer a prever o futuro. Depois disso, apesar da caça às bruxas ter chegado ao fim, essa lei continuou existindo esquecida em meio à legislação. E foi com base nela que em 1944 a médium Helen Duncan foi presa.
Duncan em uma de suas sessões. (Fonte: Wikipédia)
Helen Duncan nasceu em 1897 em Callander, na Escócia, e teria começado a ter visões aos 16 anos. Ela se tornou conhecida por suas habilidades como médium e por suas sessões de espíritos, nas quais afirmava se comunicar com parentes falecidos de seus clientes. Foi durante uma dessas sessões que sua história tomou um rumo inesperado.
Em 1941, Duncan realizou uma sessão na qual afirmou ter se comunicado com o espírito de um marinheiro que havia morrido no afundamento do HMS Barham, um navio de guerra britânico, durante a Segunda Guerra Mundial. No entanto, a notícia do naufrágio não havia sido divulgada para o público ainda e era considerada altamente confidencial. Dessa forma, a Marinha Real ficou preocupada com a possibilidade de Duncan ter ouvido informações secretas que poderiam colocar em risco a segurança nacional e uma investigação foi aberta contra ela.
Fingir poder ver o futuro era crime na época. (Fonte: Getty Images)
Depois de algum tempo de investigação, em 1944, Duncan foi presa. Inicialmente, ela foi acusada de violar a Lei da Vadiagem, que proibia as pessoas de fazerem truques e adivinhações. Porém, posteriormente, seus acusadores lançaram mão da Lei de Bruxaria de 1735 para enquadrá-la.
Durante o julgamento, as autoridades afirmaram que as habilidades de Duncan eram fraudulentas e que ela havia se aproveitado da ansiedade dos familiares dos soldados mortos na guerra para lucrar. Sem muito esforço, já que ela realmente cometia tais fraudes, ela foi condenada a 9 meses de prisão.
Evidentemente, as autoridades não acreditavam que Duncan tivesse poderes psíquicos. Na verdade, acreditavam que ela havia obtido suas informações por meio de fofocas, mas temiam que isso pudesse prejudicar as forças que naquele momento lutavam contra o Nazismo, então a solução foi prendê-la.
Duncan cumpriu sua pena e, somente anos mais tarde, em 1951, a Lei de Bruxaria de 1735 foi finalmente revogada.