Ciência
22/08/2023 às 13:00•2 min de leitura
A Polônia é um país rico em história e cultura, mas também em mistérios e lendas. Um deles é o mito dos vampiros, seres sobrenaturais que se alimentam de sangue humano e que podem retornar dos mortos para assombrar os vivos. Embora hoje em dia sejam vistos como personagens de ficção, no passado eles eram temidos como uma ameaça real e perigosa.
Para evitar que os mortos se transformassem nestas criaturas, ou que os já existentes saíssem de seus túmulos, os habitantes do país recorriam a diversas práticas funerárias que visavam impedir ou dificultar a ação desses seres malignos, chamado de apotropismo, ou seja, um ritual para afastar o mal.
(Fonte: Universidade Nicolau Copérnico de Torun/Reprodução)
Arqueólogos que estudam os cemitérios poloneses dos séculos 16 e 17 têm encontrado vários exemplos desses enterros apotropaicos, que revelam os medos e as crenças das pessoas da época.
Em julho de 2023, uma equipe da Universidade Nicolau Copérnico de Torun descobriu em Pien, uma vila no sudeste da Polônia, os restos mortais de uma criança enterrada de bruços, com um cadeado triangular perto dos pés. Esse tipo de sepultamento era considerado uma forma de impedir que o morto se levantasse ou saísse do caixão.
(Fonte: Universidade Nicolau Copérnico de Torun/Reprodução)
Em 2022, a equipe já havia encontrado na mesma vila o corpo de uma mulher jovem com um item semelhante no dedão do pé e uma foice sobre a garganta. Enquanto o primeiro objeto tinha a mesma função do anterior, a foice servia para cortar a cabeça do vampiro caso ele tentasse se erguer. Outras ferramentas que podiam ser usadas para esse fim eram pedras, estacas ou moedas.
"O Vampiro" de Philip Burne-Jones (Fonte: Wikipedia/Reprodução)
Esses casos datam da Alta Idade Média e também foram encontrados em outros países da Europa Central e Oriental, como Eslováquia, Hungria, Áustria e Romênia. Eles tendem a aparecer com mais frequência em épocas de tragédias coletivas, como epidemias, guerras ou fome, quando as pessoas podiam atribuir as desgraças à ação do mal.
O século XVII foi um período especialmente difícil para a Polônia, que enfrentou invasões estrangeiras, conflitos internos, crises econômicas e surtos de peste. Nesse contexto, os mortos que não eram aceitos nos cemitérios cristãos por diversos motivos - como ter morrido de forma violenta ou repentina, cometido suicídio, contrair alguma doença, apresentar deformidade física ou não ter sido batizado - eram vistos como potenciais vampiros e enterrados em locais isolados e sem marcação.
Os arqueólogos que estudam essas práticas tentam entender as razões e os significados, mas muitas vezes se deparam com diversas incertezas. Os motivos específicos por trás desses rituais antivampiros provavelmente se perderam no tempo. O que resta são os vestígios materiais que testemunham a existência de um mundo no qual o sobrenatural e o natural se misturavam, pontuado pelo medo constante da morte e do desconhecido.