Artes/cultura
28/02/2023 às 11:00•2 min de leituraAtualizado em 24/06/2024 às 16:18
Geralmente ouvimos histórias de gestantes com desejos alimentares estranhos, sentindo uma vontade incontrolável de comer todo tipo de coisa que não é alimento — desde sabonetes ou outros objetos de casa, até terra e tijolos. Isso também é relativamente comum em crianças com menos de dois anos, que levam tudo à boca. Mas em adultos não-gestantes, isso pode ser um grave distúrbio alimentar.
A chamada síndrome de pica, que tem chamado certa atenção nas redes sociais por seu nome curioso, é uma condição séria — que demanda tratamento nutricional e psiquiátrico.
O nome, aliás, não é nenhum trocadilho. É uma referência ao nome científico de um pássaro da família dos corvídeos: o Pica pica. Essa espécie é conhecida por se alimentar de quase tudo, sem muito critério. Daí a associação com quem sofre de síndrome de pica. Inclusive, o distúrbio tem esse nome também em inglês e vários outros idiomas, pelo mesmo motivo.
O pássaro Pica pica é típico do hemisfério norte, vivendo entre a Europa e a Ásia (Fonte: Wikimedia Commons)
Mas, ao contrário do pássaro, que come de tudo, quem sofre de síndrome de pica tem um vício direcionado, com uma vontade incontrolável daquele objeto específico.
Há casos de gente que já devorou milhares de esponjinhas de lavar louça ou que é viciada em talco. A pessoa até sabe que não deve comer aquilo, mas tem um desejo muito forte de ingerir aquele objeto, como se fosse um alimento saborosíssimo.
Apenas provar objetos estranhos por diversão, comer pontualmente ou como parte da cultura — como certos povos, que comem argila em rituais — não é um problema. A questão se torna digna de preocupação quando a pessoa passa mais de 30 dias com aquele desejo insaciável, de modo que isso começa a lhe causar problemas.
Vale lembrar que ela é relativamente comum em pessoas grávidas e crianças menores de dois anos, que levam tudo à boca. Mas em crianças maiores, isso pode ser um grave problema: se a criança comer tinta, por exemplo, pode se intoxicar. É interessante observar, ainda, que alguns tipos de vontades recebem nomes específicos na medicina:
Fonte: Trip Advisor/Reprodução
A imagem acima é uma peça exposta no Museu Psiquiátrico Glore, nos Estados Unidos, que mostra os objetos extraídos de um paciente com pica. Entre os 1446 itens, estão 453 pregos, 42 parafusos, alfinetes, além de partes de colheres, saleiros e pimenteiros.
De modo geral, comer coisas estranhas não causa nenhum problema de saúde físico — a não ser que o vício esteja relacionado a objetos tóxicos ou pintados com tinta. Também há notícias de pessoas com vício em ingerir pregos e canetas, que podem ferir o organismo.
De modo geral, os médicos fazem testes de anemia, intoxicação e para possíveis problemas no trato intestinal, por conta da ingestão de objetos estranhos.
Caso não exista nenhum problema, o tratamento deve ser multidisciplinar, incluindo um clínico geral (ou pediatra/geriatra, dependendo da idade do paciente), bem como os profissionais de psicologia e nutrição. Se for diagnosticado um problema psiquiátrico, essa área também deve fazer parte do tratamento.
Isso porque a síndrome de pica também é um problema multifatorial: ela pode ter origem em deficiências nutricionais (falta de zinco e ferro, por exemplo), mas também pode estar ligada a questões psiquiátricas (como esquizofrenia, transtorno obsessivo-compulsivo e depressão). A pica também ocorre em pessoas no espectro autista ou com deficiência intelectual.
Se você ou alguém da sua família exibir os sintomas da pica, o primeiro passo é reconhecer se o vício é potencialmente tóxico e afastar a pessoa desses objetos, procurando ajuda médica o mais rápido possível.