Ciência
26/05/2023 às 11:13•2 min de leitura
Em 2004, um estudo italiano publicado na revista científica Polymers descobriu quantidades significativas de microplástico no leite materno de 26 das 34 mães saudáveis que foram estudadas uma semana após terem dado à luz. As amostras de leite estavam contaminadas por polipropileno, PVC e polietileno, que são extremamente nocivos à saúde.
Os pesquisadores apontaram que a presença dessa quantidade de plástico se dá pelo consumo de bebidas e alimentos comercializados em embalagens plásticas, bem como a ingestão de frutos-do-mar contaminados. Uma vez que os microplásticos se tornaram onipresentes no meio ambiente, ficou praticamente impossível evitar a exposição do ser humano a eles, e recentemente isso têm aumentado.
Além de terem sido detectados no sangue e no leite de vaca, microplásticos foram encontrados no cérebro humano.
(Fonte: GettyImages/Reprodução)
Um estudo publicado em 19 de abril de 2023 no MDPI, realizado por um time de pesquisa da Universidade de Viena, na Áustria, também detectou microplásticos no cérebro de ratos apenas duas horas após ingerirem água potável contendo o material. Ou seja, as minúsculas partículas conseguiram saltar a barreira hematoencefálica em apenas duas horas após a ingestão. Uma vez lá, o plástico pode aumentar o risco de inflamação, distúrbios neurológicos ou mesmo de doenças neurodegenerativas, como Alzheimer ou Parkinson. Isso muda muito o que conhecemos sobre de onde vêm essas doenças.
Além disso, Lukas Kenner, um dos pesquisadores, acredita que a contaminação microplástica em nossos cérebros pode causar efeitos de saúde a curto prazo, como comprometimento cognitivo, neurotoxicidade e níveis alterados de neurotransmissores, que contribuem para mudanças comportamentais. Outros potenciais problemas de saúde associados às partículas no nosso corpo são doenças autoimunes, problemas reprodutivos e certos tipos de câncer.
A equipe de pesquisa usou modelos de computador para rastrear a dispersão dos plásticos durante o estudo no corpo dos camundongos, que foram infectados pelas partículas com menos de 0,001 milímetro por meio de um mecanismo de transporte biológico até então desconhecido. Geralmente, esses plásticos são absorvidos pelas moléculas de colesterol na superfície da membrana cerebral e, ao serem guardados em seus pequenos pacotes lipídicos, só então atravessam a barreira hematoencefálica – que protege o cérebro de toxinas e outras substâncias nocivas.
(Fonte: GettyImages/Reprodução)
Essa, no entanto, não é a primeira vez que os humanos acabam consumindo plástico de maneira diferente. Ano passado, um estudo na China relatou que os humanos estão inalando nanoplásticos que podem afetar o cérebro. Uma vez aspiradas, essas partículas levam ao exercício reduzido de certas enzimas cerebrais que também funcionam mal no cérebro de pacientes com doença de Parkinson e Alzheimer.
Tudo isso mostra que os plásticos não só dominaram o meio ambiente como também cada canto de nossos corpos, do cérebro à placenta. Ainda é incerto em quais circunstâncias os plásticos afetam essas diferentes partes do nosso corpo, apesar de muitos produtos químicos encontrados em vários tipos de plásticos sejam conhecidos como cancerígenos e responsáveis por serem desreguladores hormonais, podendo ser associados até à obesidade e deficiências neurológicas em fetos.
O Observatório Global de Saúde Planetária do Boston College foi o primeiro a analisar os riscos à saúde que o plástico causa em todo seu ciclo de vida, descobrindo que os padrões atuais de produção, uso e descarte de plástico não são sustentáveis, além de responsáveis por danos significativos à saúde humana.
(Fonte:GettyImages/Reprodução)
Muito embora isso seja sabido, piora o cenário descobrir que a produção de plástico acelera a cada ano. A organização Plastic Ocean aponta que os humanos produzem mais de 380 milhões de toneladas de plástico por ano, sendo que 50% disso é para fins de uso único, e isso permanece no planeta por centenas de anos.
Atualmente, mais de 100 países proibiram total ou parcialmente sacolas plásticas descartáveis, que se enquadram na categoria "plástico de consumo único".
É bom saber que 75% das pessoas em todo mundo apoiam que o plástico causa complicações na saúde humana e que precisa ser reduzido imediatamente, mas a regulamentação global de plásticos continua muito fora de sintonia com a opinião pública e, sobretudo, a comunidade científica.