Cientistas recriam rara tinta azul do período medieval

30/04/2020 às 06:002 min de leitura

Cientistas portugueses podem ter resolvido um grande mistério que já durava mil anos: eles conseguiram descobrir a "receita" de uma misteriosa tonalidade de tinta azul-púrpura, muito utilizada na época medieval para tingir peças de roupas e para adornar manuscritos. De todas as tintas usadas na Idade Média, esta era a única que ainda tinha sua receita perdida na história.

(Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)(Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)

O pigmento azul perdido

A misteriosa tonalidade possuía um pigmento chamado folium e era muito utilizada para iluminar manuscritos. A iluminura é uma técnica de pintura decorativa usada nestes manuscritos da época. No entanto, a técnica acabou caindo em desuso após Gutenberg inventar a primeira máquina de impressão. Já o folium, obtido através de plantas, foi substituído por outros elementos de origens minerais para a produção de tintas.

A letra P, iluminada em uma Bíblia antiga. (Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)A letra P, iluminada em uma Bíblia antiga. (Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)

Um grupo de pesquisadores, liderado por Maria Melo, cientista da Universidade Nova de Lisboa em Caparica, Portugal, começou, então, uma pesquisa para tentar descobrir a origem da cor. A equipe iniciou uma jornada através de textos medievais, onde buscava informações sobre a planta desconhecida que continha o pigmento azul utilizado para a fabricação da tinta. Os cientistas acabaram encontrando um livro com um título bem direto: O livro sobre como fazer todas as tintas coloridas para livros iluminados.

No entanto, a equipe encontrou dificuldades em conseguir as informações necessárias, visto que o livro estava escrito em português, mas com fonética hebraica. Mesmo sem conseguir traduzir todas as páginas, no final, o grupo conseguiu informações suficientes que levaram à misteriosa planta.

De valorizada à erva-daninha

Com a ajuda de um botânico, a equipe chegou até à Chrozophora tinctoria, a planta que possuía o pigmento perdido. Ela foi encontrada em uma vila no sul de Portugal e um fato curioso é que a outrora tão valorizada planta hoje é considerada uma erva-daninha, que cresce nos campos após a colheita de outras plantações. 

(Fonte: Paula Nabais/Nova Univ./Reprodução)(Fonte: Paula Nabais/Nova Univ./Reprodução)

Após encontrarem a planta, os pesquisadores voltaram ao laboratório para seguir os passos contidos no livro e extrair o pigmento.

Para finalizar, o grupo realizou alguns testes para analisar a estrutura molecular das tintas — tanto a original, quando a fabricada por eles —  e chegaram à conclusão que são as mesmas. Mistério resolvido!

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