Estilo de vida
18/03/2021 às 07:00•3 min de leitura
Extremamente popular em festas e bailes por todo o Brasil, o funk é um gênero musical bastante controverso e até mesmo odiado por algumas pessoas. Porém, o que muitos não sabem é que não é criação nossa. Nascido entre as décadas de 1960 e 1980, o gênero teve origem na ascensão do movimento negro nos Estados Unidos e pode ser considerado um "irmão" do soul e do hip hop.
Porém, por mais que suas letras sejam polêmicas aos olhos dos mais conservadores, é inegável que sua adaptação brasileira tenha se tornado parte da cultura nacional. Pode-se dizer que, hoje, o funk também é um sinal de resistência e representação de uma realidade marginalizada e ignorada pela sociedade: a das periferias.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Enquanto Martin Luther King e Rosa Parks lutavam contra a política do Apartheid, que negava aos negros o direito de sentar no ônibus em um lugar ao lado de um homem branco, o funk surgia como um palanque para a importância da polução afrodescendente e de sua cultura dentro da sociedade norte-americana.
Em distritos como o Bronx, em Nova York, a música e as danças passavam a dar mais visibilidade para os habitantes dos chamados "guetos". Gradativamente, o funk e o hip hop brigavam para conquistar o mesmo espaço que o jazz e o rock já haviam adquirido — gêneros que também falavam sobre representatividade e resistência.
Conforme o estilo foi ganhando notoriedade e com a influência dos EUA sobre países latino-americanos durante a Guerra Fria, esses ritmos também foram incorporados a outras culturas e começaram a se difundir mundialmente. No Brasil, o funk explodiu de verdade através dos bailes organizados por produtoras como a Furacão 2000 e não demorou muito para se tornar extremamente popular.
(Fonte: José Barbosa/Estadão Conteúdo)
Em pouco tempo, o Rio de Janeiro acabou virando berço para os funkeiros mais populares do Brasil. A vertente carioca trazia letras em português e se inspirava no Miami Bass para desenvolver batidas mais agitadas e dançantes. De maneira geral, as canções abordavam a realidade das periferias e falavam sobre a verdade da vida dentro das favelas.
Com a explosão do estilo musical, muitos jovens encontraram no funk uma oportunidade de ascensão social e de conquistar dinheiro e espaço para ajudar amigos e familiares. Foi assim também que surgiu a vertente do "funk ostentação", com músicas que falavam sobre o sucesso financeiro no cenário musical e a conquista de poder aquisitivo por pessoas de origem simples.
O grande responsável pelo funk ter se tornado o que é hoje no Brasil foi o DJ Malboro, que obteve incrível sucesso em seu primeiro disco "Funk Brasil", lançado no final da década de 1980. Malboro introduziu a batida eletrônica ao gênero musical e inspirou diversos outros artistas a se tornaram funkeiros.
(Fonte: Bonde do Tigrão/Instagram)
A partir dos anos 2000, o funk deixou de ser tocado apenas nas periferias e se espalhou para o Brasil inteiro. Não era muito difícil escutar o ritmo sendo tocado em casas noturnas, academias ou outros ambientes de convívio popular espalhados pelas metrópoles.
O grupo Bonde do Tigrão, por exemplo, alavancou justamente nesse período e obteve seu disco de platina pela Pró-Música Brasil em 2001. E não foi uma oportunidade só para os homens. Tati Quebra-Barraco, como a MC ficou conhecida popularmente, também abriu portas para que as mulheres se tornassem estrelas no funk e falassem sobre sexo, empoderamento e liberdade feminina.
Para os amantes de um funk mais melódico, a dupla Claudinho & Buchecha também embalou alguns hits de sucesso que impactaram os programas musicais nas rádios e televisões nacionais. Dali em diante, o gênero definitivamente se consolidou na cultura nacional e chamou a atenção para uma parcela da população negligenciada.
(Fonte: Globo/Reprodução)
Por mais que o funk ainda desperte reações negativas de algumas pessoas, seu sucesso popular é incontestável. Para se ter ideia, o canal mais popular do ritmo no YouTube, feito pela produtora Kondzilla, já possui mais de 63 milhões de seguidores e constantemente lança músicas de sucesso.
O funk brasileiro, que nasceu como uma vertente do braço norte-americano, ultrapassou as barreiras nacionais e despontou como um gênero musical influente no mundo todo. Através de cantoras como Anitta e Ludmilla, que acabaram desenvolvendo a vertente do funk pop, músicas brasileiras também conquistaram espaço no cenário internacional.
A expansão do funk pode ser notada através dos gráficos fornecidos pelas plataformas de streaming. Segundo o Spotify, os cinco países que mais consomem funk no mundo além do Brasil são: Estados Unidos, Portugal, Argentina, Paraguai e Reino Unido. Sendo assim, o funk não só é cultura brasileira, como também carrega uma gigantesca carga histórica sobre movimentos sociais.