Artes/cultura
26/04/2021 às 04:00•3 min de leitura
Poucas pessoas sabem, mas o Brasil é um país bastante inovador e regular quando o tema é realizar censos demográficos. Feitas pela primeira vez em 1872, ainda sob comando do Império, as contagens populacionais só foram se tornar regulares a partir de 1890, quando a República Federativa definiu que as pesquisas deveriam ser decenais.
Para se ter ideia, o Brasil foi o primeiro país no mundo a incluir o tema fecundidade nos levantamentos e até hoje é o único da América Latina a colher informações sobre renda. Entre elas, o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é considerado o maior exemplo de pesquisa quantitativa no país.
(Fonte: IBGE/Divulgação)
O Censo do IBGE é considerado uma pesquisa bastante importante por medir a densidade populacional e o perfil da população brasileira. Desde 1872, doze censos foram realizados no país, sendo o último em 2010. Na época, o estudo mostrou que a população brasileira já havia chegado na marca de 190 milhões de pessoas.
Para se entender como o estudo é feito, precisamos compreender todas as etapas da metodologia. De forma simplificada, o Censo do IBGE é dividido nas seguintes etapas: planejamento estratégico da pesquisa, censo experimental e treinamento, coleta de informações, apuração e criação do banco de dados.
Em primeiro momento, os pesquisadores precisam definir quais serão os locais estratégicos a serem estudados, considerando quais questões serão levantadas. Depois disso, a coleta de informações é feita pelos agentes censitários, que recebem vasto treinamento para assegurar a validade do processo.
Os agentes têm como objetivo visitar todas as casas do Brasil e falar com pelo menos uma pessoa da família. Como o questionário é feito em duas versões — uma simplificada e outra mais extensa —, nem todas as pessoas respondem tudo. Por fim, o IBGE faz uma longa apuração das informações e cria um banco de dados para aumentar a velocidade do estudo.
(Fonte: Pixabay)
Em teoria, um novo censo deveria ser realizado em 2021. Porém, recentemente o secretário especial de Fazenda do Ministério da Economia, Waldery Rodrigues declarou que a falta da previsão de recursos no orçamento sancionado pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, deve impossibilitar a realização nesse ano.
Vale ressaltar que a edição tinha sido originalmente agendada para 2020, mas acabou sendo postergada após os acontecimentos que levaram à pandemia de covid-19. Como o Censo do IBGE funciona muito mais do que apenas um recurso para se descobrir quantos brasileiros existem, qualquer atraso acarreta em diversos problemas.
Primeiro de tudo porque as pesquisas qualitativas e quantitativas auxiliam os próprios brasileiros a criarem uma identidade e entenderem as particularidades do seu povo. Entretanto, a maior dificuldade fica a cargo do próprio Governo Federal. Sem os dados do estudo, a União perde uma base para determinar a aplicação de investimentos e executar o recolhimento de impostos.
(Fonte: Pixabay)
Na visão de especialistas, a ausência regular dos Censos do IBGE gera uma grande perda para o país, sobretudo na qualidade das políticas sociais. Com o atraso das pesquisas, os políticos têm maior dificuldade para entender quais são os principais problemas a serem combatidos, existe uma redução no repasse de recursos aos municípios e gera todo um descompasso nas pesquisas sobre renda e desemprego.
Como o repasse financeiro da União aos estados e municípios é determinado pelo número de habitantes de cada local, a inexistência de pesquisas quantitativas atualizadas sobre o tamanho da população de determinada região atrapalha todos os cálculos e provoca um enigma no orçamento da federação.
O Fundo de Participação dos Municípios (FPM), que possui como base o número de habitantes de um município, é um dos exemplos de repasses determinados pelo Censo do IBGE. Essa é uma das principais fontes de renda das prefeituras e é usada para custear a folha de pagamento dos servidores públicos. Sem uma nova contagem, as estimativas ficam defasadas.
(Fonte: IBGE/Divulgação)
Como dito anteriormente, o Censo do IBGE usa dois tipos de pesquisa: uma simplificada e uma de amostragem. O sistema de amostragem foi adotado pela primeira vez em 1960 e desde então realiza a seleção de domicílios de forma sistemática, o que determina apenas uma fração da população para responder tópicos aprofundados.
Por isso, muitas pessoas podem ficar se perguntando como o Instituto chegou aos dados se não foi entrevistada. Em 2010, o IBGE utilizou o seguinte modelo de fracionamento:
A seleção dos domicílios é feita de forma aleatória e computadorizada. A escolha é feita de forma que a pesquisa se espalhe geograficamente por toda a extensão territorial de um município e entenda as particularidades de cara bairro ou distrito.