Artes/cultura
08/08/2021 às 04:00•2 min de leitura
Na década de 1960, o papel dos Estados Unidos como uma superpotência nuclear e sua dependência do comercialismo para alimentar um apetite voraz da economia, desencadeou em muitas pessoas uma espécie de angústia existencial.
Portanto, uma parcela da sociedade decidiu “ligar, sintonizar e sair”, como ressalta o psicólogo Timothy Leary, se concentrando nas mensagens que o rock psicodélico transmitia, remodelando os hábitos, costumes, valores e tradições de uma cultura hegemônica na efervescente sociedade em que pairava a tensão da Guerra Fria.
O movimento de contracultura surgiu exatamente como uma maneira de as pessoas se libertarem dessas amarras e protestarem contra o padrão e o próprio sistema da época.
(Fonte: English Tenses/Reprodução)
As peruas Kombi da Volkswagen se tornaram uma extensão do símbolo de protesto dessas pessoas, uma crítica aos carros superpoderosos de Detroit e à sociedade em geral. Conhecido como Tipo 2, o veículo foi uma evolução do Fusca VW, chamado Tipo 1, de 1933, quando Adolf Hitler estabeleceu que o Volkswagen era o mais novo "carro do povo".
Conforme a Kombi foi sendo mais aceita na América, ela assumiu um caráter de "culto" para os grupos marginalizados. O “ônibus hippie”, como também ficou conhecida, se destacava na multidão e incomodava por sua aparência quadrada que ia contra os padrões.
(Fonte: USA Today/Reprodução)
Essa foi a primeira vez que as pessoas começaram a rejeitar a cultura norte-americana dominante. “Era uma maneira de elas dizerem: ‘Não precisamos de seus grandes carros V8”, ressalta Roger White, curador da História do Transporte Rodoviário da Divisão de Trabalho e Indústria do Museu Nacional de História Americana, no Museu Smithsonian.
Além disso, o veículo facilitava os revolucionários a transportar mais pessoas para os comícios, assembleias de voto, protestos e outras manifestações. A Kombi também foi um emblema na luta racial durante os anos de 1960, quando os afro-americanos boicotaram os ônibus em Montgomery, Alabama, de modo a dar um basta na segregação no transporte público.
(Fonte: We Heart It/Reprodução)
Em um dos períodos mais tumultuados da América do Norte, milhares de peruas Kombi foram feitas até que o interesse fosse perdido e a produção acabasse de vez em 2014. Atualmente, um painel lateral e uma porta traseira personalizadas estão em exposição no Museu Nacional, em Washington.
As peças foram pintadas com a frase: "Amor é progresso. O ódio é caro" pelo líder afro-americano Esau Jenkins durante o movimento de contracultura.
"Essas peças ampliam a narrativa do que estava acontecendo naquela época", aponta William Pretzer, curador sênior do Museu Nacional de História e Cultura Afro-americana. “Elas nos ajudam a entender a rejeição dos direitos e da cidadania que existiam naquela época. Não é história negra; é a história americana.”