Canto difônico: a música feita com a garganta

08/08/2021 às 08:002 min de leitura

O canto difônico, popularmente conhecido como o canto de tom, é um estilo musical harmonioso e profundo que mistura notas musicais a partir dos lábios, língua, mandíbula, palato e laringe. Praticado no Tibete, Escandinávia, África do Sul e norte do Canadá, essa expressão artística é resultado das tradições de três culturas, que se especializaram na modalidade para vocalizar com perfeição e enaltecer significados importantes.

Originário das tribos indígenas na Sibéria e Mongólia Ocidental, o canto difônico surgiu como resultado de um amplo interesse comunitário de utilizar timbres vocais harmonicamente ricos em músicas, como uma forma de se comunicar com o mundo espiritual. Durante boa parte de sua história no século XX, o estilo foi proibido por regimes comunistas, que o acusaram de associações étnicas e ritualísticas "retrógradas". Seu restabelecimento, então, ocorreu apenas na década de 1980, quando povos asiáticos reviveram cerimônias fundamentadas no ritmo gutural.

Atualmente, o canto de tom é praticado em larga escala exclusivamente por homens na região de Tuva, na Rússia, em um ensaio conhecido como khöömei. Além deles, as mulheres inuítes canadenses têm técnicas aprimoradas de inalações curtas, afiadas e rítmicas, bem como exalações de respiração; enquanto o povo Xhosa, na África do Sul, é referência na modalidade eefing, que consiste em um estilo vocal baixo, rítmico e sem palavras, produzido para acompanhar cantos em festas e celebrações.

Estilos e inspirações

Por estar contextualizado em uma série de grupos e tradições, o canto difônico buscou inspiração em inúmeras crenças e está vinculado intrinsecamente com a adaptação dos sons da natureza, comunicação com o mundo sobrenatural, identificação de vozes de animais e outros tipos de melodia que se combinam com paisagens.

No passado, esse canto era vinculado estritamente a contextos ritualísticos e estava restrito ao acompanhamento masculino. Isso por causa da crença de que, se mulheres ousassem cantar com a garganta, estariam destinadas à infertilidade ou poderiam trazer infortúnios aos seus homens por um período de sete gerações.

Com o tempo, esse tabu foi quebrado, e novos estilos passaram a surgir. Assim, aqueles relacionados ao povo tyvan — khöömei, sygyt, borbangnadyr e ezenggileer — foram os mais comuns e passaram a ser cantados por todo tipo de artista, além de incorporados nos mais diversos eventos pelo mundo.

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