Artes/cultura
27/08/2021 às 09:30•2 min de leitura
No Brasil desde 1813, o barão, médico e etnógrafo Georg Heinrich von Langsdorff era o cônsul-geral da Rússia no Rio de Janeiro, além de membro correspondente da Academia Imperial de Ciências de São Petersburgo.
Em sua Fazenda Mandioca, localizada no fundo da Baía de Guanabara (atual município de Magé, no Rio), ele criou um polo de encontro entre cientistas, artistas europeus e viajantes. O local possuía uma imensa biblioteca científica para pesquisas de seus hóspedes, um herbário, um jardim botânico e coleções zoológicas e minerais.
Georg Heinrich von Langsdorff. (Fonte: Free Journal/Reprodução)
Em 1824, em reunião com o governo do czar Alexandre I, Langsdorff decidiu que gostaria de fazer uma viagem científica e exploratória ao interior do Brasil, visando fazer “descobertas científicas, investigações geográficas, estatísticas e o estudo de produtos desconhecidos no comércio”. O homem, que havia integrado uma viagem de circunavegação que aportou no litoral de Santa Catarina, conseguiu o financiamento que queria do governo russo.
O czar entendeu que a viagem reavivaria as relações comerciais entre o Brasil e a Rússia, prejudicadas pelo embargo imposto por Dom João VI.
(Fonte: Terra/Reprodução)
Apesar de a ideia da Expedição Langsdorff — como o governo russo chamou — parecer genuína, o motivo que levava o rico barão europeu a se embrenhar na floresta amazônica era ganancioso.
“Ninguém veio apenas por valores humanísticos e científicos. Era claro que eles estavam atrás de valores materiais”, disse a socióloga Barbara Freitag-Rouanet, pesquisadora das viagens do médico, em uma palestra na Casa de Oswaldo Cruz. “No caso de Langsdorff, ele estava atrás de diamantes”.
(Fonte: Wikiwand/Reprodução)
O homem contratou o alemão Johann Moritz Rugendas, o botânico Ludwig Riedel, o astrônomo Néster Rubtsov, e o zoólogo e linguista Édouard Ménétries. O grupo começou sua viagem terrestre por Minas Gerais ainda no mesmo ano, chegando em setembro de 1825 ao interior de São Paulo.
No final da primeira viagem, desentendimentos com Langsdorff levaram Rugendas a se desligar da expedição, voltando para a Europa com 500 de suas litografias. A segunda viagem da expedição, feita de maneira fluvial, saiu em 22 de junho de 1826 do porto do Rio Tietê, e cobriu mais de 17 mil quilômetros.
Encerrada em 10 de março de 1829, de volta dos confins do Amazonas, apenas 12 dos 39 integrantes sobreviveram.
(Fonte: BrasilAlemanhaNews/Reprodução)
Além dos conflitos internos, a expedição também teve que enfrentar a natureza selvagem. Apesar do orçamento polpudo, os expedicionários tiveram que atravessar os rios a bordo de canoas, sendo a travessia do Rio Juruena, no Mato Grosso, a que causou mais mortes.
Em 1828, entre um remador engolido por uma onça e o geógrafo Néster Rubtsov ser “engolido” por um formigueiro, Langsdorff foi infectado pela malária e apresentou episódios de insanidade.
Em seu diário de bordo descoberto em 1930 e publicado em 1996, escrito até 20 de maio de 1828, o barão disse que eles “precisavam apressar a marcha porque tinham que atravessar lugares ainda mais perigosos”. Langsdorff também documentou que as provisões se tornaram escassas ao longo da viagem.
(Fonte: Folha do Meio Ambiente/Reprodução)
Foi devido a uma série de percalços, ataques, mortes e exaustão que a jornada acabou antes do esperado. A Expedição Langsdorff levou para o Império Russo animais empalhados, amostra de plantas nativas e mais de 800 documentos e ilustrações, atualmente esquecidas na Academia de Ciências de Leningrado.
Apesar de ter sobrevivido à própria odisseia, Langsdorff acabou perdendo a memória do que viveu durante 20 anos no Brasil, morrendo doente ao lado de sua mulher na Alemanha, em 1852.
A maioria do material extraído do próprio Brasil não ficou nele nem para contar história, e está distribuído em centenas de museus pela Europa.