A história do esquiador que sobreviveu a duas avalanches

06/12/2021 às 11:003 min de leitura

Em 7 de janeiro de 2020, o esquiador Ken Scott levantou-se da sua cama em Idaho, nos Estados Unidos, para iniciar mais um dia qualquer. Ele havia acabado de escutar na rádio que o Silver Mountain Resort, um resort de esqui nas redondezas, tinha sido abençoado com quase trinta centímetros de neve.

Tendo trabalhado por 30 anos como patrulheiro de esqui e vendedor de equipamentos, ele não queria perder a oportunidade de aproveitar essas condições ideais para praticar o esporte. Por mais que sua esposa, Ruth Scott, sempre lhe acompanhasse nessas jornadas, dessa vez ele iria sozinho. E foi assim que tudo mudou.

Chegada na montanha

(Fonte: Ken Scott/Divulgação)(Fonte: Ken Scott/Divulgação)

Ao pisar no Silver Mountain Resort, Scott deparou-se com uma amiga de longa data, Rebecca Hurlen-Patano, uma antiga instrutora de esquiagem que costumava se aventurar por essas regiões há mais de duas décadas. Durante as próximas horas, a dupla esquiou em várias pistas sob um céu parcialmente nublado, divertindo-se em seu trajeto íngreme. 

Foi então que notaram que a Wardner Peak, a montanha lar de trilha desafiadora de 2 km de altura chamada “16-to-1”, estava aberta. Ela esteve fechada durante toda a temporada por conta da preocupação de que os esquiadores pudessem potencialmente causar uma avalanche.

Porém, naquela manhã patrulheiros haviam disparado 13 cargas explosivas no pico da montanha para limpar a neve solta das encostas superiores, reduzindo a chance de um deslizamento de neve.

Avalanche na pista

(Fonte: Rebecca Hurlen-Patano/Divulgação)(Fonte: Rebecca Hurlen-Patano/Divulgação)

Como não há nenhum teleférico que leve os esquiadores ao topo da 16-to-1, Scott e Hurlen-Patano fizeram o trajeto a pé atravessando a neve grossa e as árvores espalhadas pelo caminho. No meio do caminho encontraram outros esquiadores regulares que estavam se direcionando para a trilha. Eram eles: Warren Kays, Bill Fuzak e Carl Humphreys.

Ao chegar no topo, Hurlen-Patano tomou a frente do grupo e desceu primeiro. Não demorou muito para que a neve debaixo dela cedesse e foi então que ela percebeu o que estava acontecendo. “Avalanche!”, gritou para Scott, que não estava muito atrás. Instantaneamente, os dois foram atingidos por um pesado bloco de neve que os carregaria montanha abaixo por 150 metros. 

Scott tentou se lembrar das lições de sobrevivência que havia aprendido como patrulheiro, mas nada parecia adiantar. Quando a situação se acalmou, Rebecca conseguiu se livrar da neve e identificou Scott parcialmente livre e respirando. Mais atrás ela avistou Fuzak e Kays, mas nenhum sinal de Humphreys. Sabendo que Scott estava bem, ela foi tentar ajudar os demais em primeiro lugar, mas o desastre estava longe de acabar.

Segunda avalanche

(Fonte: Hank Lunsford/Divulgação)(Fonte: Hank Lunsford/Divulgação)

Enquanto todos tentavam se recuperar do que havia acontecido, um estrondo enorme tomou conta do lugar. Uma segunda avalanche muito maior do que a primeira logo atingiu os esquiadores. Hurlen-Patano não teve nem tempo de olhar para trás quando já estava sendo engolida pela neve.

Ela foi jogada sobre a cabeça de Fuzak e carregada por mais 6 metros colina abaixo. Para sua sorte, ela mais uma vez estava parcialmente enterrada e conseguiu se livrar. Logo ela percebeu que toda a paisagem ao seu redor havia sido transformada e ela tinha perdido qualquer ponto de referência. 

Dessa vez, todos os seus amigos desapareceram debaixo da neve. Enquanto isso, Scott estava preso no chão sem conseguir mover um único dedo. A neve era tão pesada que ele mal conseguia expandir os pulmões para respirar. Em sua cabeça ele sabia que sua única chance de sobrevivência era através de Rebecca.

Na visão de Scott, suas chances de sobrevivência eram de 90% caso a ajuda chegasse nos primeiros 15 minutos e de somente 30% se ele tivesse que ficar meia hora embaixo da neve. Estatisticamente, cerca de três quartos das vítimas de avalanches morrem de asfixia ou sufocação. 

Resgate miraculoso

(Fonte: Ken Scott/Divulgação)(Fonte: Ken Scott/Divulgação)

Como primeira ideia, Rebecca pegou o celular e logo conseguiu contactar ajuda. Em questão de 10 minutos, a “16-to-1” estava lotada de patrulheiros em busca dos membros soterrados. Após 40 minutos de procura, Bill Fuzak foi encontrado desacordado em meio a neve, mas ainda com vida.

A partir desse momento, Hurlen-Patano teve uma ideia de onde Scott — já sem qualquer perspectiva de resgate — poderia estar. Após longa espera, seu corpo foi localizado pelo grupo lutando ao máximo para respirar. Ao fim do dia, Scott, Fuzak e Kays foram encontrados vivos. Por outro lado, Humphreys e outros três esquiadores não tiveram a mesma sorte, infelizmente. 

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