Ciência
20/01/2022 às 13:00•2 min de leitura
Rijksmuseum, o museu nacional da Holanda, em Amsterdã, publicou uma imagem de ultra-alta resolução de A Ronda Noturna, de Rembrandt. Essa é a mais detalhada foto de uma obra já existente na história da arte.
Chamada de “Operação A Ronda Noturna”, é o maior e mais abrangente projeto de pesquisa e conservação do trabalho de Rembrandt. A Ronda Noturna é considerada uma das maiores obras-primas da Idade de Ouro Holandesa.
(Fonte: Ilv Njiokiktjien/NYT)
A “Operação A Ronda Noturna” foi um grande desafio de restauração e conservação de A Ronda Noturna, obra-prima de Rembrandt, conduzido pela equipe de Robert Erdmann, especialista do Rijksmuseum. Foram três anos de uma dura pesquisa.
Parte das dificuldades foram resultantes de modificações feitas no original, que sofreu cortes nos quatro lados para que coubesse em uma parede, entre duas portas. Isso ocorreu durante uma mudança, no ano de 1715, e as tiras removidas nunca foram encontradas.
A versão conhecida foi feita utilizando inteligência artificial. A partir de uma cópia feita por um artista da época, restauradores e cientistas da computação a usaram e combinaram com uma análise do estilo do artista para recriar as partes que faltavam.
(Fonte: Rijksmuseum)
Utilizando uma câmera Hasselblad H6D 400c Multi-shot de 100 megapixels, 8439 imagens individuais da obra foram captadas. Medindo 5,5 centímetros por 4,1 centímetros cada, resultou em uma imagem com 717 bilhões de pixels.
Segundo informações da página do projeto no site do Rijksmuseum, a distância entre cada pixel é de apenas cinco micrômetros. A título de comparação, cada pixel das fotografias de A Ronda Noturna mede menos que um glóbulo vermelho, ou seja, a riqueza de detalhes é imensa, afinal a peça mede 3,8 metros de largura por 4,5 metros de altura.
(Fonte: Rijksmuseum)
Em entrevistas, Rob Erdmann, coordenador do projeto de restauro e conservação da obra de Rembrandt, explicou um pouco do processo, que durou cerca de três anos.
Segundo Erdmann, este trabalho, o primeiro do tipo em todo o mundo, dá acesso a detalhes que nem mesmo a olho nu visitantes do museu teriam. Usando uma ferramenta de zoom é possível enxergar cada partícula de pigmento e cada pincelada do artista. Até mesmo ver as camadas de tinta em uma rachadura.
Além de ajudar a preservar obras de arte, projetos de fotos de ultra-alta resolução como o de A Ronda Noturna facilitariam a vida de pesquisadores e restauradores de todo o mundo. É possível, por exemplo, reduzir o tempo do trabalho de restauro. Outro fator que enche os olhos dos cientistas é a possibilidade de que, concomitantemente, diferentes estudiosos de arte visualizem e estudem obras de arte, sem restrições de horário, inclusive.
(Fonte: Rijksmuseum)
Com a explosão da produção artística nesta nova era digital, impulsionada pelas redes sociais e alta produção de conteúdo, as dinâmicas da arte foram seriamente impactadas.
Há uma corrida cultural para utilizar a Inteligência Artificial (IA) em todas as fases da cadeia cultural, desde a criação e produção, até a disseminação e consumo. É possível enxergar toda uma nova economia criativa baseada nesta inovação.
Discussões acerca do uso da IA na arte rondam aspectos como geração de empregos e a própria definição do conceito de arte e humanidade. Como a “Operação A Ronda Noturna” demonstrou, o uso de artifícios digitais pode chegar a resultados mais fidedignos, dependendo do caso.
Entretanto, apesar da capacidade de mimetizar técnicas, a IA ainda não consegue reproduzir a imprevisibilidade da mente humana, aspecto incontornável da produção artística. As discussões são longas e, ao que tudo indica, sem solução a curto prazo.
Para acessar a imagem em resolução ultra-alta, clique aqui.