Estilo de vida
28/01/2022 às 04:30•2 min de leitura
— BETOOOOOO, posso usar BBB na redação?
— Claro! Mas, antes, entenda o seguinte:
É evidente que o programa tem várias características negativas que são comuns aos realitys de todo o globo terrestre. Sim, é sensacionalista, pode manipular o comportamento social com objetivos lucrativos, pode ser alienante e se limitar a conhecimentos tidos como superficiais. Simmmm!
No entanto, é justamente aqui que mora a criticidade. Ela está na capacidade de desenvolver uma reflexão produtiva mesmo diante daquilo que o corpo social não entende como culturalmente útil. Ser crítico é transpor a barreira da superficialidade, entender como o BBB representa comportamentos sociais estabelecidos e aplicar essa análise à redação da prova do vestibular.
Cuidado! O seu receio em utilizar esse tipo de referência se encontra em uma intelectualidade elitista, que considera a cultura de massa como inferior, se comparada com os elementos artísticos inacessíveis valorizados pela nossa educação.
E é justamente essa a simbologia que Juliette tem em nosso país: a quebra do comportamento elitista! Citar Juliette na redação não é só um repertório, é um ato de resistência. Resistência à educação antidemocrática. Aquela que te obriga a decorar frases de Immanuel Kant, entender a modernidade proposta por Zygmunt Bauman ou até mesmo compreender a estruturação linguística evidenciada por Foucault.
Entenda: o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a Fundação Universitária para o Vestibular (Fuvest) e os principais vestibulares do país não querem papagaios em suas salas de aula. O processo avaliativo está em busca de criticidade, de autoria, de originalidade, tal como a sociedade buscou salvação de todos os seus medos na heroína do momento: Juliette.
Quer ver como isso ficaria na prática? Aqui vai um exemplo de introdução nos moldes do Enem para o tema: “a xenofobia enquanto prática cultural do brasileiro”.
O Big Brother Brasil (BBB), atração de grande audiência nacional, em sua edição 21, teve como protagonista Juliette, que ganhou o carinho do grande público pela sua originalidade e apego às raízes de sua região, o Nordeste. No entanto, esse comportamento empático não foi o mesmo encontrado pela nordestina dentro do programa, em que os participantes expuseram uma problemática que assola o Brasil desde os tempos coloniais: a xenofobia. Essa expressão de ódio ao comportamento da ganhadora do show televisivo tem como origem clara a concepção conservadora. Assim, não só a falha educacional, como também o sensacionalismo midiático contribui para o aprofundamento do quadro.
E, aí? Você citaria BBB em sua redação?
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Beto Ferreira, colunista do Mega Curioso, é professor de redação graduado pela Universidade Federal de Goiás e criador do ecossistema de estudos Juntos na Redação.