Artes/cultura
11/08/2022 às 09:00•2 min de leitura
Nas colinas do Terai, uma planície do Nepal, habitam os Kusunda, um pequeno grupo indígena que vive espalhado pelo centro-oeste do país. Essa comunidade é originária daquela região, e atualmente representam um grupo cultural sem precedentes.
Linguistas acreditam que o seu idioma — também chamado de Kusunda — não tem relação com nenhuma outra língua do mundo. Não se sabe ao certo como o idioma se originou, e ele possui uma variedade de elementos incomuns, incluindo a falta de indicativos para negar uma frase, palavras para "sim" ou "não", palavras para indicar uma direção ou até mesmo uma estrutura gramatical definida.
Estudantes nepaleses aprendendo Kusunda.
Nos últimos 15 anos, estudos estão sendo feitos para tentar documentar a língua Kusunda. Já foram realizadas tentativas de procurar alguma ligação com diversos idiomas, como o Burushaski do norte do Paquistão e o Nihali da Índia, para encontrar a possível origem. Porém, até o momento, não foi possível chegar a uma resposta conclusiva.
Todas as demais línguas nativas do Nepal já foram rastreadas até a sua origem, exceto pelo Kusunda. Embora ainda precise de mais evidências, alguns linguistas acreditam que o idioma possa ser um sobrevivente de uma antiga língua aborígene falada nas regiões sub-Himalaias.
Mas o que mais chama a atenção e desperta a curiosidade destes pesquisadores, é a falta de alguns padrões linguísticos. Não existe uma maneira padrão de negar uma sentença, por exemplo, e há poucas palavras que implicam algo negativo. Em vez disso, as pessoas dependem do contexto, que é normalmente definido por um verbo, que indica se a pessoa quer muito ou não quer fazer determinada ação.
O Kusunda também não tem palavras para direções, como esquerda ou direita, nem possui regras ou estruturas gramaticais para se referir ao passado, presente ou futuro. Para indicar uma direção, o falante precisa sugerir um lado, a partir de onde ele está. Já para saber se uma ação já aconteceu, é necessário descrevê-la como uma experiência diretamente relacionada ao falante. Se for uma ação futura, ela deve ser expressa de maneira mais geral.
Kamala Khatri, a última falante fluente de Kusunda.
De acordo com os dados do último censo nepalês de 2011, existem apenas 273 Kusunda no país. Destes, apenas uma mulher é conhecida por compreender todo o idioma. Kamala Khatri, de 48 anos, é a última falante fluente. Ela não ensinou a língua Kusunda para seus próprios filhos, pois acreditava que era mais importante que eles falassem o nepalês.
“Achei que eles deveriam aprender nepalês porque é útil”, explica ela. “As pessoas zombavam da nossa língua e diziam que não era normal. Os falantes de Kusunda enfrentaram muito estigma. Mas agora me arrependo de não poder conversar com meus próprios filhos em nossa própria língua”.
Hoje Khatri trabalha com a Comissão de Idiomas, ensinando Kusunda para 10 membros da sua comunidade. Essa iniciativa é uma tentativa do governo do Nepal de fazer com que grupos indígenas não percam suas raízes históricas e culturais.