Ciência
17/08/2022 às 06:43•3 min de leitura
Há 53 anos (mais exatamente, no dia 18 de agosto de 1969), chegava ao fim um dos mais importantes eventos musicais e culturais já ocorridos na nossa história. Falamos aqui do famoso Festival de Woodstock, ocorrido na cidade de Bethel, no estado de Nova York, e que mudou os rumos de muita gente desde então - mesmo de quem não estava lá.
O festival, que durou quatro dias, é até hoje visto como um grande símbolo da cultura hippie e da contracultura que se manifestavam nos anos 60 e 70. No total, ocorreram 32 apresentações musicais para um público de meio milhão de pessoas, ao meio de muita chuva. Artistas de grande calibre - como Janis Joplin, Jimi Hendrix, Grateful Dead, The Who e Creedence Clearwater Revival, dentre vários outros - estiveram entre as atrações.
Mas por que Woodstock é tão importante e segue reverberando até hoje? É esta história que contaremos aqui.
(Fonte: Tenho Mais Discos Que Amigos)
Um dos mais importantes festivais de música do planeta foi realizado - pasme - por quatro produtores independentes. Michael Lang, John P. Roberts, Joel Rosenman e Artie Kornfeld tiveram esta iniciativa e começaram a construir o evento ao colocar um anúncio no New York Times e no Wall Street Journal, que dizia: "Jovens com capital ilimitado buscam oportunidades de investimento legítimas e interessantes e propostas de negócios". Michael Lang e Holly George-Warren responderam ao anúncio e começaram a articular a ideia.
No entanto, já no início, algumas coisas começaram a dar errado: as cidades de Woodstock e Wallkill, no estado de Nova York, se recusaram a hospedar o evento. Os realizadores foram então para um plano B: encontraram um fazendeiro, Max Yasgur, que ofereceu o seu terreno para que o festival pudesse acontecer.
Poucos ingressos foram vendidos, mas cerca de 500 mil pessoas compareceram. A maioria delas entrou de graça, já que Woodstock praticamente não tinha um sistema de segurança.
Quando começou a chover, o local virou um imenso mar de lama. Mas diferente do que poderia se imaginar, as pessoas não se dispersaram. Na realidade, isso favoreceu que as pessoas ficassem mais unidas, e que o espírito "paz e amor" vigorasse entre elas. A grande quantidade de psicodélicos consumidos no evento pode ter contribuído para isso.
(Fonte: Folha de São Paulo)
O evento acabou criando uma espécie de lenda sobre os "três dias de paz e música" (o quarto dia é contado com a virada da madrugada do domingo para a segunda, dia 18) que ocorreram no local, e Woodstock entrou para a memória coletiva quase como uma experiência religiosa.
O mais curioso é que o evento foi cercado de muito caos. Para começar, a população da cidade estava numa campanha contra os hippies, que consideravam perigosos. Por conta do trânsito, a ordem dos shows teve que ser mudada, uma vez que alguns dos artistas ainda não haviam chegado no horário previsto às suas apresentações. Foi o caso do cantor folk Richie Havens, que teve que abrir o festival e improvisar, tocando durante três horas.
A logística do evento também era bem precária. Chovia muito, e o palco não estava bem protegido para lidar com esta intempérie. Havia fios elétricos expostos e os organizadores, em certo momento, estavam rezando para que os torres de luz não caíssem sobre as pessoas.
Nem todos os artistas encararam bem o festival. A banda Grateful Dead considerou aquele o seu pior show de todos os tempos. Já Roger Daltrey, vocalista do The Who, disse que sua experiência foi horrível: não havia nenhuma comida nos bastidores que não estivesse misturada com LSD, e ele entrou no palco alterado depois de beber um chá sem saber que continha o alucinógeno.
(Fonte: Warren)
Pesquisadores e jornalistas concordam que o evento moldou a cultura da época - e segue influenciando até hoje. Para começar, Woodstock teve forte ressonância política. Vários artistas entoaram músicas de protesto contra a Guerra do Vietnã - incluindo aqui a lendária interpretação do guitarrista Jimi Hendrix ao hino dos Estados Unidos.
O jornalista David Fricke, que tinha 17 anos quando o festival ocorreu, contou sobre sua experiência para a revista Rolling Stone: “sim, foi um show – essa foi a principal razão pela qual todos compareceram – mas a razão pela qual nos lembramos é por causa da maneira como as pessoas reagiram às circunstâncias, às condições e às obrigações que apresentaram. A música foi o que nos inspirou a continuar fazendo isso.”
Já o jornalista Greil Marcus, crítico de música da Rolling Stone, declarou: "durante três dias, todos se divertiram juntos e mudaram o mundo. Foi um protesto e foi um ato de resistência. Quando os estudantes se reuniram na Praça Tiananmen em 1989, eles disseram: 'Este é o nosso Woodstock'. Eles não queriam dizer Santana, The Who e Hendrix; eles significavam nos unir, tomar uma posição independentemente de quão jovens pudéssemos ser. Então, nesse sentido, essas férias se transformaram em outra coisa".