Artes/cultura
26/09/2022 às 11:00•2 min de leitura
Torcida organizada e futebol são duas palavras que caminham lado a lado, e diariamente são sinônimos de violência – infelizmente. Uma pesquisa feita pela Universidade do Rio de Janeiro (Uerj) apontou que a violência nos estádios são o principal motivo de 68% dos torcedores evitarem assistir a uma partida ao vivo.
Na década de 1990, isso era uma realidade que virava notícia na Europa, por exemplo, onde os hooligans protagonizavam cenas de violência e barbárie extrema com os times rivais, criando episódios como o em que 39 pessoas morreram após uma partida do Liverpool e Juventus, em 1985.
No Brasil, apesar de historicamente as torcidas organizadas existirem desde a década de 1940, formadas por grupos de torcedores com bandeiras e camisas personalizadas que cruzavam longas distâncias apenas para prestigiar seu time do coração, o conflito entre torcidas surgiu muito antes.
(Fonte: São Bernardo/Reprodução)
Antes de São Bernardo do Campo (SBC) se tornar um município de São Paulo (SP), em 1889, ganhar a alcunha de Vila de São Bernardo e começar a se espalhar por toda a região hoje conhecida como ABC Paulista, seus habitantes sofriam muita discriminação pelos moradores do Centro de SP por viverem aos arredores do estado.
Os moradores do Centro eram denominados "almofadinhas" pela população rural bernardense, composta, em sua maioria, por imigrantes italianos, que foram chamados, pejorativamente, pelo termo "batateiro" pelos paulistanos.
Após SBC conseguir sua independência, ganhando um espaço próprio em SP, foi a vez de os moradores da atual Santo André, antes uma vila concentrada próxima à estação de trem, começar a reivindicar seus direitos para se tornar um município.
(Fonte: Santo André em Memória/Reprodução)
Os ânimos exaltados e a constante comparação com a conquista de SBC, não demorou para atrair a atenção dos bernardenses, que passaram a chamar os andreenses de "ceboleiros".
Esse sentimento de rivalidade e irritação entre os dois foi alimentado ainda mais nos campos de futebol, explodindo na década de 1920, durante a disputa entre os times do antigo Atlético de São Bernardo e do Corinthians de Santo André.
Após o fim da partida, os jogadores de Santo André voltavam para casa a bordo do Bondinho dos Pujol, que interligava as duas cidades, quando o time rival os cercou e começou a lançar batatas podres enquanto gritavam hinos da torcida.
Revoltados com tamanha humilhação, os andreenses revidaram na partida seguinte, ocorrida no distrito de Santo André, recebendo os bernardenses com cebolas podres em campo.
(Fonte: São Bernardo/Reprodução)
O peso cultural, político e social que esse conflito carrega até hoje está enraizado na história de ambas as cidades – onde hoje os apelidos são celebrados com orgulho, pois faz um resgate do passado e daqueles que tiveram coragem para defender seus ideais, apesar das circunstâncias.
Reflexo disso é que o vereador Wagner Lino (PT) disse “Agora sou batateiro” ao receber, em 2009, o título de Cidadão São-Bernardense.
Os anos seguintes do evento histórico, foram marcados pela luta mais ferrenha de Santo André em se tornar município, resultando em diversos conflitos entre as pessoas, até que isso acontecesse em 1938.