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20/12/2022 às 13:00•3 min de leitura
Nos Estados Unidos de meados de 1898, a Lei Seca — conhecida como Lei de Temperança — surgia no estado de Massachusetts proibindo a venda de bebidas alcoólicas em quantidades inferiores a 15 galões, instaurando uma restrição que durou 15 anos, com base na 18ª emenda da Constituição americana, que proibiu a fabricação, comércio, transporte e importação do álcool. O objetivo era "salvar" o país da pobreza, violência e dos pecados que a bebida supostamente acarretavam, tendo como base a influência do revivalismo religioso.
O Brasil e diversos outros países sempre foram muito rigorosos com a venda e o consumo de álcool, principalmente entre jovens menores de 18 anos. Não é para menos que a Organização Mundial da Saúde (OMS) é taxativa sobre os efeitos psicológicos de curto e longo prazo que a bebida alcoólica pode causar na vida dos jovens.
No entanto, a Rússia demorou até 2013 para considerar a cerveja uma bebida alcoólica, se mantendo indiferente ao impacto dela na sociedade.
(Fonte: Russia Beyond/Reprodução)
Estima-se que a produção de cerveja começou entre os povos sumérios por volta de 4000 a.C. com base em uma escavação arqueológica na Mesopotâmia que descobriu um tablete de argila mostrando aldeões consumindo uma bebida de uma tigela. De lá para cá, a principal característica da cerveja é o teor de álcool, responsável por dar aquela sensação agradável e também por definir boa parte do sabor da bebida.
A cerveja se torna alcoólica quando a levedura, um fungo, converte o açúcar em álcool e dióxido de carbono em um processo chamado de fermentação, a principal etapa de produção da cerveja.
(Fonte: Dean Tsourakis/Reprodução)
Apesar disso, pessoas de qualquer idade podiam comprar e beber cerveja na Rússia, pois ela era considerada um alimento, não uma bebida alcoólica. Não é novidade nenhuma que a ingestão de álcool faz parte da cultura russa — não é para menos que inventaram uma das mais populares, a vodca —, por isso sua ingestão sempre foi considerada algo comum.
Tudo mudou, porém, na manhã de 1º de janeiro de 2013, quando entrou em vigor a lei do então presidente Dmitry Medvedev determinando que toda cerveja era alcoólica a partir daquele dia. Antes disso, a legislatura russa já havia tentado outra maneira de desencorajar as pessoas a consumirem tanta cerveja, aumentando em 200% os impostos sobre o produto.
Mesmo com a alta dos preços e das reclamações sobre isso, os russos continuaram bebendo, portanto, as autoridades concluíram que o problema não era a precificação, mas a disponibilidade do produto.
Dmitry Medvedev. (Fonte: CNN/Reprodução)
Dessa forma, a lei de Medvedev proibiu a venda de cerveja em quiosques espalhados pelas ruas, no metrô e em postos de gasolina — pontos que representavam cerca de 30% do total de vendas de cerveja no país.
Além disso, os anúncios de cerveja foram removidos da televisão e ficou estabelecido que a bebida só pode ser consumida entre 23h e 8h. Não é nem preciso dizer o quanto essas ações causaram uma revolta massificada na sociedade russa, que não se importava que a bebida já havia se tornado um caso de saúde pública.
Afinal, conforme um relatório de 2012 do The Telegraph, cerca de 500 mil mortes anuais na Rússia estavam relacionadas ao consumo de álcool, com o russo bebendo em média cerca de 32 litros de álcool por ano.
(Fonte: Russia Beyond/Reprodução)
A oposição não hesitou em usar o velho discurso de que a falta de disponibilidade de cerveja levaria a mais problemas de saúde do que menos porque os russos apelariam à vodca como substituição.
Em comunicado, Isaac Sheps, presidente do Sindicato dos Cervejeiros Russos, disse que as pessoas estocariam cerveja em casa, o que ele definiu como algo mais problemático do que estocar vodca.
As autoridades não cederam à pressão pública — muito pelo contrário, as leis foram renovadas em vários aspectos. Foi retirado o consumo de álcool em espaços públicos e o governo estabeleceu em 21 anos a idade mínima para iniciar o consumo de bebidas alcoólicas de alto teor.