Estilo de vida
10/04/2023 às 09:00•2 min de leitura
A divulgação de imagens e informações sobre autores de ataques como o ocorrido em uma creche de Blumenau (SC), na última quarta-feira (5), pode influenciar outros agressores a praticarem novos atos semelhantes, como apontam estudos sobre o tema. Especialistas chamam esta relação de “efeito contágio”.
O fenômeno explica a proximidade entre os atentados no interior catarinense, que resultou em quatro crianças mortas, e a uma escola em São Paulo (SP), no final do mês passado, quando uma professora foi morta, segundo a pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP), Michele Prado. Para ela, novos ataques podem acontecer.
Em entrevista à BBC, a representante do Monitor do Debate Político no Meio Digital da USP explicou que o efeito contágio dura de 13 a 14 dias após um atentado ganhar maior destaque na mídia. A partir da exposição do autor e das cenas do ataque, potenciais imitadores se sentem motivados a agir.
(Fonte: GettyImages)
Ainda de acordo com a especialista, o ataque na capital paulista, no dia 27 de março, gerou comemorações em grupos extremistas online, nos quais este tipo de ato é planejado. Ela disse que mensagens em algumas destas comunidades de ódio, após o crime, instruíram a realização de novos atentados com alvos mais vulneráveis.
Atendendo a uma solicitação do Ministério Público de Santa Catarina, que também se baseou em estudos relacionados ao efeito contágio, vários veículos de comunicação decidiram mudar a cobertura dos ataques em escolas. As empresas pertencentes ao Grupo Globo estão entre as que alteraram suas políticas.
Pelas normas anteriores da companhia, os dados dos autores eram divulgados somente uma vez. Mas a partir de agora, os veículos não vão mais expor a foto nem o nome do criminoso, conforme anúncio feito durante o Jornal Nacional. Veja:
Grupo Globo muda política sobre cobertura de massacres. Saiba mais: https://t.co/eZivBuOHBO #JN pic.twitter.com/z2YQaqtpSs
— Jornal Nacional (@jornalnacional) April 5, 2023
Quem também tomou medida semelhante foi o Estadão. Em seu perfil no Twitter, o jornal explicou que não iria publicar “nenhuma foto, vídeo, nome ou outras informações sobre o autor do ataque em Blumenau”. A empresa afirmou que a decisão segue recomendações de estudos que relacionam comunicação e violência.
A CNN Brasil e a Band são alguns dos outros veículos que seguiram o mesmo caminho, optando por não dar fama aos criminosos. O grupo de pesquisa americano Gun Violence Archive, especializado em monitorar tais ocorrências, afirma que cada ataque a escola desencadeia outros três nos Estados Unidos.
Nos últimos 20 anos, um total de 22 ataques em escolas, feitos por alunos e ex-alunos, foi registrado no Brasil. É o que mostra o levantamento realizado pelo Grupo Ética, Diversidade e Democracia na Escola Pública do Instituto de Estudos Avançados da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Os atentados ocorreram, majoritariamente, em escolas públicas, com 18 casos nestas instituições. Outro dado revelado pela pesquisa é o crescimento do número de atentados nos últimos dois anos, com 10 casos acontecendo no período.