'Os Sofrimentos do Jovem Werther': o livro que levou pessoas ao suicídio

17/04/2023 às 12:003 min de leitura

O músico húngaro Reszo Seress não imaginava que a composição em piano que chamou de "Domingo Sombrio", que compôs em 1933 após o término de um relacionamento que o levou a um estado de depressão, se associaria a uma onda de suicídios que tirou a vida de 19 pessoas, tanto na Hungria quanto nos Estados Unidos.

Ele esperava que sua obra fosse apenas um desabafo, contando com a ajuda de amigos artistas para deixar a letra mais poética e melodicamente mais triste. Depois que a mídia começou a noticiar casos de pessoas que tiraram a própria vida ao som da música, as rádios foram proibidas de tocá-la, a ponto de as autoridades a banirem completamente de seus territórios por acreditarem que algo nela inspirava uma depressão que poderia motivar as pessoas a se matarem.

O mesmo aconteceu com a obra do escritor Goethe, Os Sofrimentos do Jovem Werther, o livro que foi banido em vários países.

"Werther fever"

(Fonte: English Touring Opera/Reprodução)(Fonte: English Touring Opera/Reprodução)

Publicado na Alemanha pela primeira vez em 1774, o livro é uma coletânea de cartas do protagonista Werther ao seu amigo Wilhelm relatando sua paixão obsessiva e impossível por Charlotte, uma mulher culta que vive na alta sociedade alemã e que está prometida a se casar com Albert.

A sensibilidade romântica, o sofrimento inerente da alma, o amor inalcançável, idealização e depressão que levam ao suicídio de Werther no final da narrativa por não conseguir viver sem sua amada, são as características do ultrarromantismo, a segunda geração do movimento literário Romantismo do qual o livro faz parte.

Werther compôs um herói considerado trágico, que apresenta uma inadequação em relação ao seu destino – ainda que grandes virtudes estejam reservadas para ele, como para qualquer outro –, e o seu amor impossível, "que dói na alma", não encontra alívio senão na morte. E foi exatamente essa ideia de morrer de amor e o quão belamente trágica pode soar, a ponto de despertar a piedade dos leitores, que causou um medo nas autoridades de alguns países.

(Fonte: A Pilgrim in Narnia/Reprodução)(Fonte: A Pilgrim in Narnia/Reprodução)

Ao ser publicado no final do século XVIII, quando o iluminismo enfatizava a equidade e o amor, o livro de Goethe se tornou um fenômeno popular, sobretudo entre os jovens, sendo traduzido para mais de 20 idiomas diferentes, sob a propaganda de que Napoleão Bonaparte o leu mais de sete vezes.

Da mesma forma que John Green arrebanhou milhares de leitores com seu A Culpa é das Estrelas, em meados de 2012, transformando o mercado literário moderno com o estilo de obra que o público queria consumir –, o mesmo aconteceu da Europa Ocidental ao Norte no século XVIII. No que ficou conhecido como "Werther Fever", os jovens, extremamente atraídos pela tragédia romântica de Goethe, começaram a usar até as roupas descritas no romance, bem como absorverem uma personalidade melancólica como estilo.

Efeito Werther

(Fonte: Exploring your Mind/Reprodução)(Fonte: Exploring your Mind/Reprodução)

Os fãs começaram a reproduzir ou a se sentirem motivados a cometerem suicídio tanto por se familiarizarem com o sofrimento emocional do jovem Werther, como também por ele lançar luz sobre um problema estrutural da sociedade: o pobre que nunca venceria.

O jovem se sentia infeliz com a maneira como a burguesia tratava mal os trabalhadores manuais ou fazendeiros, e como quem estava na classe inferior estava fadado a uma vida sem perspectivas e, sobretudo, sem pequenas felicidades, como um amor.

Por causa desses temas radicais e diálogo direto que aproximou tanto os leitores, o livro foi contestado em muitos países europeus, depois foi terminantemente proibido quando as taxas de suicídios começaram a aumentar pela Europa, como na Itália, Copenhague e Leipzig.

(Fonte: Vintage News/Reprodução)(Fonte: Vintage News/Reprodução)

Embora nunca tenha sido demonstrado em dados de forma conclusiva a imitação do suicídio, sobretudo pela época em que ocorreram, alguns episódios notórios validaram o medo das autoridades, como quando Christel von Lassberg se afogou no rio Ilm, em Weimar, em 16 de janeiro de 1778, com uma cópia do Werther em seu bolso.

Como resultado, a medicina psiquiátrica incorporou a existência do chamado "efeito Werther de contágio suicida" para casos em que há um comportamento de cópia do ato de tirar a própria vida com base em acontecimentos famosos.

Muitos países possuem diretrizes para a maneira como a mídia relata casos de suicídios exatamente porque é isso que pode interferir as ações dos outros, e não o ato em si.

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