Ciência
09/05/2023 às 02:00•2 min de leitura
Uma decisão da Skate Canada, órgão regulador da patinação artística no país, pode representar uma revolução da prática desse esporte olímpico no mundo. Por unanimidade, os administradores da organização determinaram a retirada da linguagem de gênero em seu manual de regras para competições, redefinindo equipes somente como "Parceiro A e Parceiro B".
A decisão, que afeta de forma direta as duplas e equipes de dança no gelo, implica que os pares de competições em todos os níveis naquele país não precisarão mais ser compostos por um homem e uma mulher, mas também por casais do mesmo sexo e também por atletas não binários
Embora a mudança tenha sido saudada no mundo inteiro com cachoeiras de arco-íris, e também provocado reações iradas de conservadores, a decisão sobre a adoção da medida ao nível mundial depende da International Skating Union (ISU), com sede em Lausanne, na Suíça. Lá a regra é clara desde 1950: pas-de-deux é só entre “uma mulher e um homem”.
As notas da dança no gelo dependem muitas vezes de performances sensuais e apaixonadas.
A dança no gelo, na qual dois atletas executam sobre patins movimentos característicos de uma dança de salão, existe como esporte olímpico desde 1976. No entanto, o esporte tem um componente fortemente artístico e estético pois a modalidade restringe saltos, piruetas ou levantamentos sobre as cabeças.
Com isso, a pontuação se resume mais à performance artística, o que confunde o público não iniciado. O componente técnico representa 50% da pontuação, com juízes avaliando as habilidades técnicas ao executar elementos de maior dificuldade. Já o componente de execução engloba a qualidade geral da apresentação, o que inclui sincronia, ritmo, interpretação da música, postura e fluidez.
Para atrair a atenção do público e dos jurados, o casal se entrega, na prática, a uma exibição sensual e apaixonada, que mexe com o imaginário das pessoas. Na Olimpíada de 2018, por exemplo, a exibição do premiadíssimo casal Tessa Virtue e Scott Moir fez com que as redes sociais afirmassem, e até exigissem, que eles eram amantes, o que não é verdade.
Em fevereiro deste ano, durante uma reunião ordinária da ISU, a medalhista mundial e campeã canadense Kaitlyn Weaver — assumidamente queer — perguntou se o órgão mundial pretendia estender as regras de gênero do Canadá ao resto do mundo. "Vocês têm algum plano futuro para que isso faça parte do debate global?", perguntou.
Para surpresa de Weaver, o presidente do comitê técnico da ISU, Shawn Rettstatt, respondeu que sim. Segundo o executivo, há planos de uma mudança mais ampla da regra que favoreça pares do mesmo sexo em competições. A proposta poderá ser votada no ano que vem.