Estilo de vida
27/05/2023 às 07:00•2 min de leitura
O Jurupari é um dos personagens míticos mais populares do folclore amazônico. Como a maioria destes seres, a sua forma depende da etnografia utilizada para pesquisá-lo. Ele pode aparecer na forma de um homem de boca torta, de uma grande cobra com braços, assumir a aparência de um sábio, de um bebê invisível ou apenas de um deus – diferindo de acordo com a região onde a lenda é contada.
Figura cativa nos "bois" dos Festival Folclórico de Parintins e presente em enredos de várias escolas de samba, o Jurupari é uma figura mitológica que faz parte de algumas culturas indígenas amazônicas, como os povos Tukano e Desana. Assim como o personagem Sandman, de Neil Gaiman, a divindade indígena tem poderes relacionados com os sonhos, espiritualidade e transformação.
Além das variadas representações culturais, o ser mitológico ainda é personagem da lenda do guaraná, na qual, por inveja do indiozinho Cauê – protegido pelo deus Tupã e amado por toda a tribo, transformou-se em uma serpente e matou a criança. Mas, entre as histórias do Jurupari, duas se destacam.
(Fonte: Naomi Covacs/Tive uma Ideia)
Esse relato mítico começa com uma concepção milagrosa: a índia Ceci estava descansando embaixo de uma árvore e, com fome, comeu do seu fruto — o mapati (uva da Amazônia) — proibido para moças que estavam em período fértil. Como resultado, ela engravidou de um menino e foi expulsa da tribo.
Essa criança era o Jurupari, que fora enviado por seu verdadeiro pai, o Sol (Guaraci), para reformar os costumes e as leis dos homens. Com sete dias de vida, o menino aparentava ter dez anos e uma sabedoria que atraiu a atenção de todos. Chamado de legislador, o filho do Sol decidiu romper a tradição milenar do matriarcado que regia a linha de descendência.
Decidido a tornar os homens independentes do poder das mulheres, Jurupari instituiu grandes festividades, das quais só homens podiam participar. Inconformada, Ceci desrespeitou a nova lei e entrou em um desses cerimónias, e foi fulminada por um raio. Chamado a ressuscitar a mãe, Jurupari não o fez, pois não podia abrir precedentes, mas transformou-a em uma estrela.
(Fonte: Marcos Miller/Tive uma ideia/Reprodução)
A versão mais conhecida de Jurupari atualmente — a de "deus da escuridão e do mal" – pode ter sido estimulada e contada pelos jesuítas, pois a noção de demônio não existia na mitologia indígena, mas sim entre os católicos.
Ao associar a entidade ao controle dos sonhos e pesadelos das pessoas, os religiosos substituíam a sua adoração pelo deus branco trazido da Europa. Nesse discurso reformista, Jurupari visita as pessoas em sonhos, causa pesadelos e maus presságios. Impedidas de gritar, elas asfixiam.