Radu, o Belo: o irmão esquecido do brutal Vlad, o Empalador

Vários séculos atrás, um homem impiedoso deixou sua marca na história ao eliminar seus adversários e deixar seus corpos à mostra. Vlad, o Empalador, não fazia distinção entre culpados e inocentes, homens, mulheres e até mesmo crianças: às vezes, toda uma vila era morta brutalmente por conta de algumas poucas pessoas. Sua crueldade levou ao surgimento do mito do Conde Drácula, personagem bastante conhecido pela cultura popular.

O que pouca gente sabe é que esta figura violenta cresceu ao lado de outros irmãos, entre eles o menos conhecido, Radu, o Belo. Embora muito menos famoso do que o temido Empalador, Radu teve papel crucial em toda a história do irmão, da região da Valáquia e do Império Otomano.

Radu, o Belo

Nascido por volta de 1430, Radu III da Valáquia nasceu filho de Vlad II Dracul, o conde palatinato (ou voivoda) da Valáquia, e da Princesa Cneajna da Moldávia. Quando tinha aproximadamente 4 anos, Radu e seu irmão Vlad III acompanharam o pai em uma reunião com Murad II, o sultão do Império Otomano. O encontro não saiu como planejado: acuado, o voivoda só saiu de lá com vida após concordar em ser fiel aos otomanos e deixar seus filhos como reféns, para garantir o acordo.

Filho do voivoda da Valáquia, Radu, o Belo foi o irmão menos famoso de Vlad, o Empalador (Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)

Após ser traído pelo sultão, Vlad II acreditava que seus filhos haviam sido mortos. Mas, na realidade, os dois meninos foram acolhidos, tiveram a oportunidade de estudar lógica e aprenderam a falar diversos idiomas. A história alude a Radu tendo uma vida um pouco melhor que a do irmão, com Vlad III possivelmente tendo sido torturado e assistido ao empalamento de inimigos do Império Otomano. Teria sido ali que o garoto aprendeu a técnica que o deixaria famoso no futuro.

Quando Radu tinha aproximadamente 10 anos, seis após ter sido feito refém, seu pai foi morto por adversários. Um de seus outros irmãos, que ainda vivia com os pais na Valáquia, foi vítima de extrema violência, sendo torturado, cegado e enterrado vivo. Parecia que se encerrava ali o voivodado da família Dracul, mas a história estava longe de terminar.

O nascimento do lendário e temido Empalador

Após o assassinato de Vlad II, já sem a necessidade de manter reféns, o sultão libertou os dois irmãos. Tomado pela ira, Vlad III já começava a pensar em vingança e em retomar o território. Seu irmão, porém, seguiu um caminho muito diferente: Radu se converteu ao Islã, tornando-se posteriormente um valioso membro da corte otomana. Foi lá que ele conheceu Maomé II, o herdeiro do sultão que, reza a lenda, tinha um "insaciável" apetite sexual e certo apreço por rapazes bem jovens.

O sultão Maomé II era conhecido por levar jovens rapazes para o quarto em troca de posições na corte otomana (Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)

Relatos históricos apontam que Maomé II frequentemente convidava meninos para seu quarto em troca de posições na corte otomana. Radu, conhecido por sua beleza, logo entrou no radar do herdeiro do Império Otomano. Aparentemente, pouco depois de se tornar o novo sultão, Maomé II teria convidado Radu para visitar seus aposentos para conversar e beber.

Obviamente a coisa não parou por aí: o novo sultão teria tentado ter relações sexuais com Radu, que teria não apenas resistido às investidas como chegado a esfaquear Maomé II em uma das pernas após um beijo forçado. Ainda assim, após o desastroso episódio, os dois acabaram se tornando bastante próximos. Tanto que, com Radu ao seu lado, em 1453 o novo sultão invadiu Constantinopla, onde a dupla teria então passado a viver em um relacionamento amoroso.

Enquanto isso, lá na Valáquia, Vlad III botava em prática tudo o que aprendeu com os otomanos: ao retomar o território, suas milhares de vítimas foram empaladas e deixadas à mostra. Nascia ali a figura do lendário Vlad, o Empalador.

O Belo versus o Empalador

Quando ficou claro que, após retomar o território e se tornar o novo conde palatinato, Vlad III não seria um aliado do Império Otomano, os ânimos se exaltaram. Maomé II teria enviado dois emissários para tentar convencer o novo voivoda a mudar de ideia mas os dois acabaram sendo empalados. A coisa esquentou ainda mais em 1462, quando o Empalador resolveu atacar diretamente o Império Otomano, em uma tentativa de aumentar ainda mais seu poder e território.

Após massacrar milhares de pessoas, Vlad, o Empalador, retomou o território da Valáquia e atentou contra o Império Otomano (Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)

Maomé II e Radu III se viram obrigados a responder, enviando um grupo de soldados à Valáquia e saindo rumo ao território pouco depois. O plano era destronar Vlad, o Empalador, e deixar seu belo irmão ocupar o trono como o novo voivoda. Para a sua surpresa, ao chegar ao local, toda a cidade onde seu exército estava alocado havia sido morta e empalada. Cerca de 20 mil pessoas, entre soldados e civis, pendiam perfurados por toda a extensão do local. Sem distinção, homens, mulheres, crianças e até bebês foram brutalmente assassinados.

Apesar de toda a sua violência, Vlad III não foi páreo para o recém-chegado exército otomano, que contava com cerca de 150 mil soldados. A vitória de Maomé II e Radu foi rápida, mas seu irmão não foi morto. Vlad III Dracul, o ex-conde palatinato da Valáquia, conseguiu escapar para a Transilvânia, onde foi capturado e preso pelo rei da Hungria. Sua história daria origem ao mito do Conde Drácula, o temido vampiro da Transilvânia.

Enquanto isso, Radu, o Belo foi nomeado o novo voivoda da Valáquia. Maomé II voltou para casa, deixando seu suposto amante em sua terra natal, onde foi atacado diversas vezes, chegando a perder e recuperar o trono pelo menos duas vezes. Na terceira, em 1473, Bassarabe III Laiota tomou de vez o poder. Sem a chance de rever Maomé II, Radu morreu poucos anos depois, entre 1475 e 1477. Terminava ali a história do belo e esquecido irmão do temido Vlad, o Empalador.