Ciência
22/08/2023 às 02:00•2 min de leitura
É quase impossível não se lembrar do navio Titanic quando o assunto é naufrágio. Eternizado nos cinemas, a história dessa tragédia se tornou extremamente popular.
O que muitas pessoas se esquecem é que esse não foi o único grande naufrágio que aconteceu no século passado. Muitos outros acidentes ocorreram e um deles foi no Brasil, com a trágica história do transatlântico Príncipe de Astúrias, que naufragou em Ilhabela, no estado de São Paulo.
Príncipe de Astúrias. (Fonte: Acervo O Globo)
O naufrágio aconteceu em março de 1916, em pleno Carnaval no Brasil. Os passageiros vinham de Barcelona e tinham como destino a capital argentina. Durante o percurso, o navio também passava pelas cidades de Cadiz e Las Palmas, na Espanha, Canárias, Rio de Janeiro e Santos, no Brasil e Montevidéu, no Uruguai.
Os passageiros que vinham da Europa estavam fugindo da miséria e da instabilidade política do velho continente. A Primeira Guerra Mundial estava em curso e regimes autoritários se levantavam em vários países.
Por isso, os navios que partiam rumo à América sempre vinham lotados de famílias que estavam deixando tudo para trás em busca de um recomeço — e não foi diferente com os passageiros do Príncipe de Astúrias.
Pintura 'Príncipe de Astúrias', do artista Carlos Alfredo Hablitzel, retrata o acidente. (Fonte: Wikimedia)
O transatlântico Príncipe de Astúrias contava com casco duplo. Era um navio de origem escocesa. Ele já havia feito essa viagem seis vezes, naufragando na sétima. Ele era comandado pelo capitão José Lotina, um experiente profissional.
Contudo, mesmo sendo experiente, o clima daquela noite se mostrou desafiador para o comandante. Enquanto os passageiros da primeira classe festejavam o Carnaval nos salões do navio, chovia muito em alto mar e as condições de navegabilidade se tornavam muito ruins.
Lotina então decidiu levar o navio para uma área mais rasa, mas ele não sabia que estava conduzindo a embarcação em direção a um recife de corais. Ao se chocar com os corais, começava a tragédia daquela noite.
É muito difícil reconstituir com exatidão os últimos momentos do Príncipe de Astúrias, mas o testemunho dos poucos sobreviventes relatam que a água teria invadido a sala de máquinas, causando explosões que vitimaram muitas pessoas.
Na sequência, o imenso furo no casco de cerca de 40 metros sugou para fora dezenas de pessoas. Depois, o navio se partiu em três pedaços, levando à morte o restante da tripulação e passageiros.
Cartão postal retratando o navio. (Fonte: Divulgação)
A lista oficial de tripulantes era de 654 pessoas. Dessas, 177 sobreviveram, principalmente porque foram socorridas por outro navio que passava pelo local. Os corpos foram enterrados nas praias de Castelhanos e Serraria, na Ilha Bela — e é aí que o número oficial de mortos gera dúvidas, pois foram feitas mais de mil sepulturas. Há quem acredite que o navio trazia muitos clandestinos escondidos.
O Príncipe de Astúrias também era um navio de cargas e há quem acredite que ele trazia uma carga valiosa de ouro para o continente. Esse tesouro nunca foi encontrado.
Sabe-se que estátuas que seriam entregues ao governo argentino estavam entre as cargas, sendo que uma delas foi recuperada e está em exposição no Primeiro Distrito Naval, no Rio de Janeiro. Mergulhadores acharam apenas objetos pessoais dos tripulantes, como brinquedos.
Em 1989, os restos do navio foram dinamitados, pois representavam um risco às outras embarcações.