Ciência
28/09/2023 às 14:00•2 min de leitura
Talvez você já tenha alguma vez usado a palavra "enfezado" para indicar uma pessoa que está irritada por alguma razão. Mas saiba que há outra definição do termo, mais literal: enfezado também quer pode significar "cheio de fezes".
E como esse termo bem estranho surgiu?
(Fonte: GettyImages)
De acordo com o Dicionário Online Português, enfezado pode ter três sentidos: "raquítico, não desenvolvido, pequeno"; "irritado, aborrecido"; ou "rabugento". Contudo, se você conseguir consultar o Vocabulario Portuguez e Latino, de 1728, vai encontrar lá a definição de que "enfezado" também quer dizer "cheio de fezes".
Para entender por que isso acontece, é importante observar a etimologia desta palavra. Fezes, em português, é um substantivo feminino plural que denomina a matéria fecal. Fezes vem do latim faecis, termo originalmente usado para definir lama, mas que, posteriormente, por analogia, passou a ser empregado também para definir cocô.
Contudo, o termo enfezado tem outra raiz etimológica. A palavra vem do verbo latino infensare, que significa "ser hostil a algo e alguém". Assim, um "infensatus" seria uma pessoa impaciente e com raiva.
A junção de "enfezar" à ideia de alguém que está com constipação intestinal (ou seja, apresentando uma retenção fecal) tem uma origem mais cultural: muitas vezes, quem fica constipado acaba também se tornando bem mal-humorado. Por isso, os falantes de língua portuguesa começaram a "emprestar" esse novo uso à palavra.
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Há estudos que realmente comprovam que ter constipação pode deixar uma pessoa mais mal-humorada. Uma pesquisa conduzida pela Federação Brasileira de Gastroenterologia, em parceria com a Danone, investigou 3.500 mulheres e constatou que 69% tiveram reflexos no humor quando enfrentavam o problema. Além disso, 66% dessas mulheres relataram ter dificuldades para se concentrar no trabalho e 57% indicaram ter tido uma piora na vida sexual quando estavam nesta situação.
E há sim uma explicação científica para isso. Hoje se encara o intestino como um segundo cérebro, uma vez que o órgão também se relaciona à produção de 80% da serotonina do corpo, que é um neurotransmissor ligado ao humor e ao bem-estar. Não por acaso, alguns antidepressivos podem apresentar como efeito colateral justamente as alterações no funcionamento do intestino.
Além disso, vale lembrar que o órgão também contém cerca de 100 milhões de neurônios que estão diretamente conectados ao cérebro, o que se relaciona com a sensação de saciedade de quando comemos algo, mas também a outras experiências humanas.
Para verificar na prática como essa relação entre os dois órgãos é intensa, é bem simples. Basta lembrar, por exemplo, daquele famoso "frio na barriga" que sentimos quando estamos apaixonados por alguém. Por outro lado, emoções negativas, como tensão e medo, podem provocar reações físicas como náuseas ou mesmo vômitos nas pessoas mais sensíveis.
Portanto, investir na saúde do intestino também pode significar melhorias no seu humor. Por isso, não descuide daquelas dicas básicas: beber bastante água, comer alimentos ricos em fibras e caprichar nos exercícios físicos. Tudo isso vai ajudar com que você fique menos enfezado — em ambos os sentidos.