Ciência
09/11/2023 às 04:30•2 min de leitura
Entre os edifícios do campus da Rice University, no Texas, uma estrutura feita de junco parcialmente montada por mestres artesãos nos pântanos do sul do Iraque chamam a atenção da população local. O "mudhif", como é chamado, é um local construído para a minoria étnica árabe da região e também funciona como uma tradicional capela onde importantes reuniões são realizadas.
No dia 5 de novembro, o mudhif da Rice University sediou um banquete inspirado na culinária da antiga Mesopotâmia, com um cardápio completamente baseado nas novas descobertas arqueológicas feitas sobre a região que os árabes dos pântanos chamam de lar. Segundo os criadores do evento, essa foi uma oportunidade única de conectar os habitantes de Houston com a cultura ameaçada desses antigos povos árabes, que habitaram o sul do Iraque há 6 mil anos.
(Fonte: GettyImages)
Desde o final do século XX, os antigos pântanos mesopotâmicos do sul do Iraque foram grandemente reduzidos pelas alterações climáticas e pela drenagem internacional feita por Saddam Hussein. Por esse motivo, muitas das pessoas que dependiam daquela terra para sobreviver tiveram que se mudar — inclusive com pequenas comunidades se formando pelos Estados Unidos.
Foi aí que surgiu a ideia de pesquisadores como Zaid Alrawi, um arqueólogo afiliado à Universidade da Pensilvânia, de desenvolver um jantar mesopotâmico para resgatar a cultura desse povo. Em comunicado oficial, Alwari descreveu a refeição como uma forma de "completar o cenário" de um mudhif, prestando homenagem às origens antigas da estrutura.
Em vez de comida iraquiana moderna, os presentes puderam apreciar um menu baseado nas recentes descobertas arqueológicas feitas em Lagash, no sul do Iraque. Em 2022, uma escavação liderada por Alrawi fez uma descoberta notável que lançou uma nova luz sobre como e o que os habitantes daquela região comiam.
(Fonte: GettyImages)
Segundo Alrawi, assim como o estilo de vida dos árabes dos pântanos mudou em alguns aspectos, mas permaneceu inalterado em sua essência, o mesmo aconteceu com a dieta iraquiana. Por exemplo, novos ingredientes chegaram ao Iraque desde os tempos da Mesopotâmia, mas ingredientes como os peixes da região e o pão local sempre estiveram disponíveis.
Em Lagash, os arqueólogos encontraram uma grelha redonda usada para cozinhar um peixe inteiro em forma plana e circular — um estilo de preparação popular em território iraquiano e chamado "masgouf". Azeitonas, figos, tâmaras e frutas de caroço são outros elementos bastante importantes dentro desse banquete.
No passado, o trigo estava apenas começando a ser domesticado na região e o grão central usado por aqueles povos era a cevada, ingrediente central na fabricação dos pães. Embora o peixe fosse fundamental na dieta dos trabalhadores de Lagash, os 60 convidados do banquete no Texas puderam contar com uma gama ainda mais ampla de opções.
Além do peixe masgouf e do pão de cevada assado em forno tradicional, os hóspedes saborearam um ensopado mesopotâmico e uma sobremesa inspirada nos doces de frutas e nozes dos sumérios. Assim, sob o telhado trançado do mudhif, a comida de um passado distante serviu para unir uma comunidade moderna com seus antepassados.