Estilo de vida
06/12/2023 às 09:07•3 min de leitura
O clima anda tenso na América Latina. A Venezuela vem fazendo investidas para anexar mais de dois terços da Guiana, seu país vizinho, que por sua vez obviamente já declarou se opor à invasão de seu território. No último domingo (3), o presidente venezuelano Nicolás Maduro realizou um referendo no qual questionava a opinião pública a respeito do assunto.
Em suas redes sociais, como aponta a CNN Brasil, o líder da Venezuela comemorou o resultado, afirmando que o povo votou a favor da anexação de cerca de 70% do território da Guiana, região conhecida como Essequibo. Muito tem se falado a respeito do envolvimento do Brasil neste conflito, mas o que exatamente o nosso país tem a ver com a disputa entre nossos vizinhos?
Antes de mais nada, é preciso dar um algum contexto sobre o que anda rolando ali no norte da América Latina. Para isso, é preciso voltar muito no tempo, séculos atrás. Como explica a Agência Brasil, em 1648 os espanhóis cederam todo o território a leste do Rio Orinoco para os holandeses. Estes, por sua vez, transferiram os direitos de parte do território para o Reino Unido, que manteve o controle da região até o ano de 1966, quando a Guiana se tornou independente.
Território da Guiana era controlado pelo Reino Unido até 1966, quando o país se tornou independente (Fonte: Getty Images/Reprodução)
Enquanto isso, a Venezuela afirma ter direito àquela área, conhecida no país como Guiana Essequiba, rica em minérios e pedras preciosas — além de petróleo, recentemente descoberto na costa guianesa. O país requisita a anexação do território desde antes da independência da Guiana sob a justificativa de que os holandeses jamais ocuparam a região a oeste do Orinoco. Portanto, segundo as autoridades venezuelanas, a área seria, na verdade, propriedade dos espanhóis.
Mas o que o Brasil tem a ver com tudo isso? A resposta é bem simples: nosso país faz fronteira tanto com a Venezuela quanto com a Guiana, com parte do nosso território ficando bem no meio, entre as duas outras nações.
Brasil faz fronteira com Venezuela e Guiana, com o Estado de Roraima ficando entre os dois países (Fonte: Google Maps/Reprodução)
É justamente por estar ali, coladinho com os dois países que parecem estar em vias de entrar em um confronto que o nosso governo reforçou as fronteiras. Isto se dá porque, caso a Venezuela resolva atacar a Guiana, uma de suas melhores opções seria passar pelo território brasileiro, mais especificamente o Estado de Roraima.
Como nosso país se mantém neutro na disputa, foram reforçadas as fronteiras tanto com a Venezuela quanto com a Guiana. A ideia seria impedir uma potencial invasão venezuelana cortando caminho pelo Brasil, caso o governo de Maduro queira evitar o envio de seus soldados à mata das florestas na divisa com a região do Essequibo. Por enquanto, porém, não parece haver risco de confusão na fronteira.
Brasil reforçou fronteiras na expectativa de evitar potencial investida de Maduro por terra, passando por Roraima (Fonte: Getty Images/Reprodução)
"Hoje, o objetivo principal do Maduro é a reeleição e, para lograr isso, ele precisa persistir no caminho da economia. Recentemente, os Estados Unidos levantaram sanções ao petróleo da Venezuela, e se espera uma recuperação econômica com isso", disse o professor de geopolítica da Escola Superior de Guerra Ronaldo Carmona ao G1. Ou seja, Maduro precisa pensar com calma sobre o que fazer agora.
Segundo Carmona, um conflito poderia ser prejudicial para a campanha à reeleição em 2024, desgastando a imagem do político. Além disso, ainda de acordo com a reportagem do G1, os Estados Unidos estariam planejando instalar bases militares em Essequibo, já tendo até mesmo enviado militares para a Guiana recentemente. Ou seja, Maduro estaria brigando não apenas com a Guiana, mas também com os EUA, uma das maiores potências militares do mundo.
Governo do presidente Lula tem tomado medidas para impedir que território brasileiro seja usado por tropas estrangeiras (Fonte: Getty Images/Reprodução)
Nesta quarta-feira (6), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se encontra com Mauro Vieira, ministro de Relações Exteriores; e Celso Amorim, assessor especial para assuntos internacionais. O tema da reunião seria a situação entre Guiana e Venezuela. A informação é da CNN Brasil.
O governo vem buscando tomar medidas de segurança para impedir que território nacional seja utilizado na briga entre os dois países vizinhos. Lula parece querer manter o tom de neutralidade e, ao mesmo tempo, garantir a segurança do povo brasileiro na região que poderia ser potencialmente afetada em caso de guerra entre os países vizinhos.