Ciência
12/12/2023 às 12:00•2 min de leitura
Se você pensa que a arte erótica japonesa se resume apenas ao hentai moderno, prepare-se para uma viagem fascinante ao passado. O shunga, que pode ser traduzido literalmente para "imagens de primavera", é uma forma de arte que floresceu no Japão durante o século XVII, na era Edo.
Vamos explorar essa jornada sensual por meio de imagens surpreendentes (e bastante excêntricas) que revelam não apenas a natureza provocante do shunga, mas também a sua rica história e influências.
Dois amantes em uma banheira numa arte de 1790. (Fonte: All That's Interesting/ Reprodução)
No coração do shunga está o estilo artístico conhecido como ukiyo-e, que significa "imagens do mundo flutuante". Artistas deste período retratavam a vida urbana, desde atores de kabuki (um tipo de teatro japonês) até paisagens exuberantes. Mas o que torna o ukiyo-e realmente especial é a sua incursão no erótico.
Ao contrário do que acontecia na arte europeia, o sexo na arte japonesa estava relacionado também à religião e aos feitos heroicos. A imaginação dos artistas fluía sem restrições, proporcionando algumas das obras mais icônicas e descaradamente sensuais da história da arte japonesa.
Casal faz sexo na praia em obra do pintor Terasaki Kogyo, feita em 1899. (Fonte: All That's Interesting/ Reprodução)
No século XVII, o advento da xilogravura democratizou o acesso ao shunga. De camponeses a monarcas, todos podiam apreciar essa forma de arte. Bibliotecas itinerantes levavam o shunga às áreas rurais, enquanto samurais carregavam consigo as imagens para a batalha como amuletos da sorte. Até mesmo os recém-casados recebiam a arte como presente.
A proibição oficial em 1722 pelo shogunato japonês não deteria a produção ou a procura, marcando o shunga como um fenômeno cultural resiliente e desafiador.
O Sonho da Esposa do Pescador: umas das grandes obras do artista Katsushika Hokusai, feita em 1814. (Fonte: Japan Objects/ Reprodução)
A proibição não impediu os artistas de criar shunga; na verdade, muitos artistas de ukiyo-e mergulharam no gênero anonimamente. Um exemplo notável é Katsushika Hokusai, o mestre por trás da famosa "A grande onda de kanagawa".
Seu trabalho mais audacioso, O sonho da mulher do pescador, retrata atos sexuais com polvos. Esta peça peculiar e outras 2 mil obras individuais de shunga se tornaram influências duradouras, até mesmo para artistas ocidentais como Picasso e Toulouse-Lautrec.
Soldado japonês domina (em vários sentidos) um soldado russo. (Fonte: All That's Interesting/ Reprodução)
Enquanto a nudez era dessexualizada no Japão por séculos, o shunga buscava normalizar o sexo. Ao exagerar nas representações genitais e adotar uma abordagem humorística, os artistas conseguiram provocar, divertir e até satirizar durante a Guerra Russo-Japonesa.
O shunga não era apenas sobre excitação sexual, mas um reflexo de uma era e uma cultura que encaravam o sexo de forma desinibida.
Polvo faz amor com sereia (!). (Fonte: All That's Interesting/ Reprodução)
Mesmo após o declínio do shunga nos séculos XIX e XX, seu impacto persiste na arte erótica japonesa moderna. Temas e fantasias introduzidos por artistas ukiyo-e ainda ecoam em formas contemporâneas, conhecidas no Ocidente como hentai.
Portanto, não subestime o shunga como mera obscenidade; ele é um capítulo vital na história japonesa, desafiando normas e transmitindo uma visão única sobre a sexualidade.