Artes/cultura
28/06/2024 às 10:00•2 min de leituraAtualizado em 28/06/2024 às 10:00
Nas últimas semanas, a articulação do projeto que visa criminalizar mulheres que realizarem aborto após as 22 semanas de gestação gerou uma repercussão tão negativa nas redes sociais e nas ruas do país que os parlamentares envolvidos nesta proposta voltaram atrás. O deputado Sóstenes Cavalcante, autor do projeto, admitiu que a análise do plenário pode ser deixada para o fim do ano.
Essa não é a primeira vez que uma manifestação popular realizada pelos brasileiros motivou mudanças na história do país, provando que a pressão coletiva é capaz de alterar a política.
Em 1968, foi organizada uma gigantesca manifestação popular de protesto contra a ditadura militar, com a participação de artistas, intelectuais e membros da Igreja Católica. Embora a passeata tenha envolvido um clima festivo, o protesto se dava contra os abusos do regime, como as agressões, as prisões e o desaparecimento de estudantes e militantes políticos.
O evento aconteceu em 26 de junho de 1968, no Rio de Janeiro, e rapidamente juntou mais de cem mil pessoas. Ao passar em frente à igreja da Candelária, a marcha parou para ouvir o discurso inflamado do líder estudantil Vladimir Palmeira, que mencionou a morte do estudante Edson Luís e cobrou pelo fim da ditadura militar. A manifestação se encerrou três horas depois em frente à Assembleia Legislativa, sem conflitos com o aparato policial que a acompanhava.
Em 1984, aproximava-se o fim da ditadura militar que tomou o Brasil por quase quarenta anos. Entre janeiro e abril deste ano, grandes comícios começaram a ocorrer em vários locais do país pedindo por eleições diretas para presidente – o que não ocorria desde 1964.
Os principais comícios das Diretas Já aconteceram na Candelária, no Rio de Janeiro (com cerca de 1 milhão de pessoas) e no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, (com público estimado de 1,5 milhão de pessoas). A campanha havia sido iniciada em 1983, com a Proposta de Emenda Constitucional número 5, escrita pelo deputado federal Dante de Oliveira. Os protestos uniram políticos de campos opostos, tendo como grande nome de liderança o deputado Ulysses Guimarães.
Em 1989, houve finalmente o pleito pela presidência da República, e o alagoano Fernando Collor foi eleito. Contudo, poucos anos depois, em 1992, vários escândalos passaram a cercá-lo a partir das denúncias de corrupção feitas por seu irmão mais novo, Pedro Collor.
O governo já andava muito impopular por conta de medidas econômicas desastrosas. Por conta das denúncias, o povo começou a realizar passeatas para exigir o impeachment de Collor. Os jovens, em especial, começaram a pintar o rosto nesses eventos, fazendo com que o movimento fosse chamado de Caras Pintadas.
Em 2013, o clima político do Brasil também começou a se acirrar, o que ocasionou o levante de quatro grandes protestos em São Paulo durante o mês de junho. O motivo, inicialmente, era protestar contra o aumento das passagens, que seria de 20 centavos.
A cada manifestação, o número de participantes subia, e houve vários relatos de pessoas presas e agredidas pela polícia. Os protestos foram se espalhando por várias cidades do país e reunindo reivindicações difusas e até contraditórias entre si.
Até hoje se estuda este fenômeno e quais foram as consequências desses atos. Mas sabe-se que um deles foi a instalação de uma crise política articulada por parlamentares que acabou levando (para muitos, de forma injusta) ao impeachment da presidente Dilma Rousseff.